Cartas alheias

Analfabetismo Funcional segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

Eu pretendia escrever algo aqui sobre marcadores de livros, mas um fato me fez mudar de idéia, pra variar, andando por alguma livraria, cobiçando livros que nunca terei porque não tenho dinheiro e nem alguém para me presentear com eles. Uma amiga estava comigo e enquanto andávamos por lá e comentávamos sobre os livros que víamos, ela pega um livro de algum autor que não me lembro agora, que dizia que ali tinha poesias, anotações e cartas que ele mandava. Aí que me aconteceu algo, um gatilho foi apertado, porque ali mesmo fiquei perguntando a ela o principal sentido dessa coluna, que agora considero oficialmente começada.

Cartas são objetos importante de cada pessoa, pois elas têm muitas informações que alguns podem considerar confidenciais ou segredos muito bem escondidos. Não sei se isso hoje em dia é algo que vocês, jovens garotos de uma juventude transviada (me senti o velho agora) que nunca viram um selo ou as únicas cartas que recebem são das empresas de cobrança, lembrando de suas dívidas. Porque receber uma carta é algo interessante, eu mesmo já recebi muitas e sei que o que eu escrevo ali não é algo que eu escreveria num messenger, num e-mail ou, ainda, numa mensagem de celular. O esforço que aquelas palavras têm para saírem de meus dedos é muito grande para que se perca tempo escrevendo besteiras, então, cada palavra tem seu peso, sua importância, que estão ali pelo único motivo de que você sabe que quem vai ler se importará com o que você disse.

E aí que me vem a cabeça o principal fato disso tudo. Se uma carta é algo assim tão importante, por que existe tanto interesse de ver as cartas de autores famosos? Será que isso é alguma maneira de tentar descobrir algum segredo dele, algo que ele nunca contou em suas histórias? Se o autor é daqueles tipos que sempre coloca um pedacinho dele em cada história, como Jack Kerouac, Bukowski ou, ainda, Jack London, pode ser que nessas cartas se consiga ter mais um pedaço de suas vidas, pedaços esses que podem complementar uma história preferida.

Mas se for olhar pelo lado da privacidade, por que autores permitem que isso aconteça, que suas cartas sejam divulgadas? Uma resposta para isso, bem simples e daquelas que você só percebe depois de pensar um pouco: ELES ESTÃO MORTOS!

Famílias aproveitam os momentos que seus entes queridos e geradores de grana por alguns anos estão com a cova já devorada por bichos e liberam qualquer coisa que o autor tenha escrito para ser publicada. Se o autor for daqueles que tinha centenas de correspondentes, isso tudo pode acabar por gerar trocentos volumes, o que dá mais grana pra família que está alimentando o desejo de saber inútil dos fãs.

Imagino como que seria hoje em dia se fossem publicar o que tem de mais importante de autores modernos, como J.K Rowling ou Marcus Suzak. Deveria ser algo parecido como os melhores logs de MSN de Rowling – ou gatinha safada43, algo de extrema relevância que conteria desde e-mails de importância real e aqueles que ela por acaso recebeu de uma empresa de lipoaspiração, uma beleza.

Mas isso seria hoje em dia. Não sei qual seria o motivo que faz alguém ler isso, pois eu mesmo não o faria. Afinal, se é pra ter controle total de uma vida, o que acontece nela e como os outros se portam diante disso, eu teria controle de minha vida, que nem é assim tão intensa. Taí uma boa, alguém se interessaria pelas minhas cartas, trocadas com uma pessoa muito especial para mim a alguns anos? Negociações por e-mail. Vendo lenha.

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