Apagando rascunhos

Livros sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Creio que já falei disso antes: Abrir mão das coisas. Não me refiro ao batidíssimo “se o ama, deixe-o ir” e nem do “ame-o ou deixe-o” do nosso BêÉrre, mas aquela coisa de abrir mão de uma ideia só porque você não colocou tempo e dedicação o suficiente nela. Tenho quase certeza que já falei disso antes, mas até onde me lembro, falei no meio de piadas ruins e brincadeiras idiotas… Hoje não vai ser diferente, só ligeiramente mais sério.

 Isto foi há nove anos atrás.

Na verdade, pensando aqui, já falei disso várias vezes, porém a grande maioria sempre pela tangente, aquele ponto subliminar (Ou talvez nem tanto) num texto sobre outra coisa: Música, videogames, TV, cinema… Houve uma época em que eu lembrava tudo que tinha escrito, mesmo que não verbatim, hoje (E há muito tempo) isso já passou. O que eu escrevo, mais e mais se junta ao que eu não escrevo, ou totalmente esquecido ou num limbo inacessível sem hipnose, psicologia regressiva ou qualquer coisa do tipo. Isso talvez desse uma splash page interessante em Sandman se eu não estivesse 30 anos atrasado.

O ponto central é essa perda de material – ou talvez fosse melhor chamar de “proto-material” – pelo simples motivo de que você (Eu, ele e qualquer um) resolveu escrever depois, amanhã, semana que vem, quando eu já tiver esgotado os outros tópicos na lista. Claro que tem temas que não podem esperar, como notícias, comentários acerca de acontecimentos recentes e tudo mais, mas sejamos sinceros aqui: Se realmente importa, pode esperar. E já que pode esperar, dá pra passar este outro assunto na frente sem perda nenhuma… Certo? É nessas horas que entram os motivos coadjuvantes: Falta de tempo, falta de inspiração, preguiça, deixou de ser recente, dá muito trabalho pra pouco retorno, não tem incentivo. Valorização é um treco interessante porque o que está em voga não tem valor nenhum: Tá sobrando.

Talvez o motivo seja só porque está fora de hora, o tal do timming. Talvez a ideia tenha surgido no meio da madrugada e você tem que acordar cedo. Talvez seja o meio da madrugada e você tenha acabado de desligar o computador. Talvez dê pra esperar só mais um pouco.

E, a menos que você seja extremamente esquisito, você vai (Eventualmente) largar mão do que quer que seja.

Às vezes é para melhor. Às vezes a gente bota algo na cabeça pelo simples prazer de ter em algo no que pensar e aí fica essa coisa atrapalhando todo o resto, ocupando espaço, tempo e energia desnecessariamente. Às vezes, deixar uma ideia para trás é um ato de purgação, de esfoliação mental. Mas, às vezes, é para pior porque significa que, mais uma vez, algo importante foi adiado, deixado de lado, e aquela ideia que estava te atrapalhando na verdade estava atrapalhando porque se você não prestar a devida atenção à ela, a situação toda pode piorar muito e muito rápido. Não tem, até onde sei, um manual pra saber quando é o quê.

Longe de mim dizer que toda ideia é realmente digna de nota, afinal de contas a grande maioria é uma porcaria. Não, o ponto são as poucas boas que se perdem no meio do caminho. Não, também, que só porque uma ideia é boa ela deva ser levada adiante… Talvez seja medo, receio de deixar passar algum pequeno detalhe que faça toda a diferença. Mas, de novo, você vai (Eventualmente) largar mão desse receio também.

No fim das contas, o ciclo se repete, e você já sabe disso. Talvez indique a necessidade de mudança, talvez indique que tem coisas que não mudam independentemente de quanto tentemos: Talvez, a constatação correta seja de que isso tudo é um exercício, uma preparação constante, do mesmo jeito que afiar uma espada ou mexer a comida na panela seria. De certa forma, pode ser tanto reconfortante quanto enervante.

É estranho dizer assim, mas o fato é que, cedo ou tarde, ou uma ideia é executada ou te consome ou é deixada de lado, e o que deve ser grande fator diferencial na abordagem escolhida por cada um é, não o que a tal ideia representa, mas o quão disposto você está, como autor, a deixar a ideia tomar conta da sua vida. Em outras palavras, a escolha está sempre lá, mesmo que você escolha sempre a mesma alternativa. Se isso é um indicador de proficiência literária? Não faço ideia… Mas provavelmente não.

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