Anos (de) Clássicos – 1994

Clássico é Clássico segunda-feira, 13 de abril de 2009

Não é segredo para ninguém que a indústria cinematográfica sofre com momentos de oscilação criativa, assim como qualquer outra arte. É desnecessário dizer que estamos passando por um momento péssimo, apesar de alguns bons (até mesmo ótimos) filmes do último ano como Dúvida, O Lutador, Frost/Nixon, Wall-E e The Dark Knight, estas foram exceções em meio a uma inundação de adaptações, remakes, sequências e comédias românticas.
Em Anos (de) Clássicos eu falarei exatamente dos anos mais inspirados do cinema, analisando algumas de suas obras e discutindo um pouco dos bastidores. Para começar escolhi um ano que muitos de vocês vão recordar – 1994.

O que aconteceu de mais marcante no mundo e no Brasil ?
9 de Fevereiro – Nelson Mandela torna-se o 1º presidente negro da África do Sul.
20 de Fevereiro – Papa João Paulo II condena uma resolução do Parlamento Europeu que possibilita o casamento e a adoção de crianças por homossexuais.
28 de Março – Silvio Berlusconi vence as eleições legislativas italianas.
1 de Maio – Ayrton Senna morre após bater seu Williams na curva Tamburello, na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino de 1994
22 de Maio – Entra em vigor o embargo total ao Haiti decidido pela ONU.
30 de Maio – Na carta apostólica “Ordinatio Sacerdotalis”, João Paulo II declara a recusa definitiva da Igreja Católica sobre a ordenação de mulheres.
4 de Novembro – São Francisco: É realizada a primeira conferência inteiramente sobre o potencial comercial da World Wide Web.
30 de novembro – Tupac Amaru Shakur foi baleado mortalmente em um estúdio em Nova York.
3 de Dezembro – A Sony lança seu videogame no Japão, o PlayStation
15 de Dezembro – O navegador web Netscape Navigator 1.0 é lançado.
20 de Dezembro – Início da operação comercial da Internet no Brasil.

Um ano de avanços tecnológicos (a Internet se firmando, o lançamento do fenômeno Playstation) simultaneamente a “retrocessos” por parte da igreja católica. Além disso, duas figuras importantíssimas no cenário mundial chegam a presidência, enquanto dois ídolos (um do esporte e outro da música) dão adeus.

Enquanto isso no cinema…

Os tupiniquins voltaram com tudo !
É bom esclarecer que a produção cultural brasileira, diferentemente da americana e européia, depende muito de apoio estatal. Sendo assim nossa indústria cinematográfica “obdece” o cenário econômico. Como vocês saberiam se fossem ao colégio sabem os anos 80 são conhecidos como a década perdida para a América Latina.
A título de informação, vale citar que durante o período da ditadura havia a chamada Embrafilmes que investia e divulgava o cinema brasileiro no exterior (lembrem se que o cinema, mais do que outros veículos artísticos, tem um papel importantíssimo para as ditaduras). Com a saída dos milicos, ao mesmo tempo que se perde esse apoio monetário, vai se também a censura. Por isso as produções da época variavam entre chanchadas e algumas obras primas dispersas. Deixo como exemplo Pixote – A lei do mais fraco, Gaijin – Caminhos da Liberdade e O Homem da Capa Preta, encerrando a décado com o sensacional curta Ilha das Flores:

Com a entrada de Collor e o posterior fechamento da Embrafilmes, Concine, Fundação do Cinema Brasileiro, e o fim dos incentivos provenientes do Ministério da Cultura, ficou praticamente impossível a realização de filmes. Chegando ao cúmulo dos Festival de Brasília em 1992 ter sido cancelado por falta de concorrentes, tendo A Grande Arte (uma co-produção americana, de Walter Salles) como único inscrito.
Apenas com a chegada de FHC ao poder que a produção nacional voltou a ativa, e o estopim (se é que podemos dizer assim) foi Carlota Joaquina – A princesa do Brasil, de Carla Camurati em 1994.

A partir daí o caminho para clássicos como Central do Brasil, O que é isso companheiro?, Lavoura Arcaica e Cidade de Deus estava aberto.

O cults não tiveram do que reclamar.

O ano de 1994 bom também para o cenário alternativo. Destaco aqui duas obras.
Primeiro, o chinês Tempo de Viver (Huozhe no original) que conta a história da China entre as décadas de 40 e 80, através da ótica de um casal que vê sua qualidade de vida cair. O impacto da obra foi tanto, que muitos (equivocadamente na minha opinião) o compararam com uma versão “de olhos puxados” de E o Vento Levou…/Assim Caminha a Humanidade e Os Miseráveis (no caso francês).
Outro filme que chamou muita atenção foi A Fraternidade é Vermelha de (preparem-se) Krzystof Kieslowski, que encerrou a chamada “Trilogia das Cores” (os outros seriam o monótono A Liberdade é Azul e o interessante A Igualdade é Branca, também lançado em 94). Para se ter idéia, foi considerado por algumas publicações como um dos 10 melhores filmes do ano, rendendo até mesmo uma indicação ao Oscar de melhor diretor para o cara das consoantes.

Nunca se vendeu tanta pipoca

E se o pessoal com gosto mais “alternativo” teve motivos para sorrir, o que dizer daqueles que só queria um pouco de ação descerebrada? Afinal, dois dos maiores clássicos da Sessão da Tarde saíram esse ano: Velocidade Máxima e True Lies.
O primeiro estrelando o homem sem expressão facial o Neo Keanu Reeves, Dennis Hopper e Sandra Bullock, em um filme cujo título em português não faz sentido algum (afinal, eles tinham que manter uma velocidade mínima) e que gerou uma péssima e inesquecível sequência (quantas vezes você não matou aula para assistir aquele transatlântico invadir a cidade?).
True Lies é um dos filmes mais no sense e divertidos da década. Com o atual governador da Califórnia e uma edificante Jamie Lee Curtis no elenco.

Quem esquece do terrorista preso no míssil?

Apesar de mais “sérios” outros dois filmes de ação que fizeram sucesso no ano foram o hiper parodiado Natural Born Killers (de Oliver Stone, com roteiro de Tarantino) e Léon, O Profissional protagonizado por Jean Reno.

Já vimos clássicos brasileiros, clássicos cults, clássicos de ação… e de resto?

Outros cinco filmes se destacaram nesse ano, todos hiper aclamados e de grande qualidade. São eles.

Ed Wood
A biografia do pior diretor do mundo dirigida por Tim Burton e protagonizada por Johnny Depp, ganhou os dois Oscar que concorreram, inclusive o (merecidíssimo) de melhor ator coadjuvante para Martin Landau. O filme, todo em preto e branco e com efeitos toscos (remetendo ao próprio filmes de Ed), ainda contou com Bill Murray, Sarah Jessica Parker e Jefrrey Jones (o eterno diretor de Curtindo a Vida Adoidado) no elenco.

Priscilla, A Rainha do Deserto
O road movie que conta a história de dois travestis e um transsexual, em um dos mais irreverentes filmes já feitos se tornou símbolo da causa gay. Sendo o ônibus Priscilla lembrado até hoje.

I will survive !

Um Sonho de Liberdade
Atual primeiro lugar (exagerado, diga se de passagem) do top250 do IMDB, essa adaptação de Stephen King é considerado um dos filmes mais tocantes já feitos, abordando temas conflitantes como a amizade, crueldade, persistência e redenção, tendo como plano de fundo a prisão de Shawshank. Com Morgan Freeman e Tim Robbins.

Forrest Gump – O Contador de Histórias
Vencedor do Oscar de melhor filme, esse clássico protagonizado por Tom Hanks (que conseguiu a rara façanha de ganhar dois oscar de melhor ator consecutivos – sendo o primeiro por Filadélfia) é considerado um dos filmes mais criativos já feitos. Mas seu titúlo mais importante é de ter sido responsável pela minha busca por clássicos. Para quem não conhece, é contado a história da vida de um garoto “de QI baixo”, que sempre esteve na hora certa e no lugar certo, acompanhando de forma inusitada a história americana recente – com eventos como a guerra do Vietnã e o escândalo do Watergate.

Run, Forrest, run !

Pulp Fiction – Tempos de Violência
Possivelmente o melhor e mais emblemático filme da década de 90. Esse, que é apenas o segundo filme de Tarantino (que já havia feito o excelente Cães de Aluguel), conta com um dos elencos mais sensacionais já reunidos – apenas com estrelas apagadas ou ainda pouco conhecidas (John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis, Tim Roth, Cristopher Walken, Harvey Keitel…), e possivelmente o roteiro mais bem montado da história do cinema. Além disso, é um dos únicos clássicos que pode se orgulhar de ser totalmente vazio, sem nenhuma mensagem para o telespectador.

He look’s like a bitch?

Conjunto da ópera

1994 foi um dos poucos anos em que todos os amantes do cinema sairam satisfeitos. Um exemplo disso é que poucas vezes tivemos um Oscar tão disputado (os três últimos filmes discutidos estavam no paréo), precendendo um fraquíssimo ano de 1995 (quando só pra ser polêmico Babe, O Porquinho Atrapalhado era o melhor entre os indicados). Torçamos para que 2009 siga o mesmo caminho.
Será?

Obs. Quem tiver sugestão de assunto/temas, como aconteceu na semana passada , pode ir postando nos comentários.
That’s all folks.

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