A Síndrome de Spock

Cinema sexta-feira, 12 de abril de 2013

Sendo direto: Vocês sabem o que é a “síndrome de Spock“? Não adianta procurar na internet, vocês não vão muito mais longe do que eu. Pois eu ouvi esse termo ser mencionado em algum lugar muito tempo atrás (É sempre bom ser específico), e pra mim ele consta como sendo algo que vários de nós já percebemos sem saber. Vem comigo.

Sabe quando você vê um ator em um filme e chama ele não pelo verdadeiro nome, mas pelo nome da personagem mais conhecida dele? E quando depois de uma sequência de filmes que marcaram o rosto de algum ator, você simplesmente não consegue ver ele como sendo outra pessoa no cinema ou na TV? Bem, isso é a síndrome se manifestando. Não se trata apenas de um ator ser lembrado por um trabalho, mas de ser associado quase que permanentemente à um papel. Apesar de estar escrito ali em cima que esse texto é sobre cinema (Para fins puramente burocráticos), esse, hâ, fenômeno não acontece só em filmes. Aliás, ele nasceu na TV. Se você não mora em uma caverna desde que nasceu ou foi criado por lobos, deve saber que Spock é o primeiro oficial meio-vulcano da série Jornada nas Estrelas. O ator por trás das orelhas pontudas, Leonard Nimoy, foi tão afetado pela sua personagem que o fenômeno recebeu seu nome.

E quando eu digo afetado, não falo só de eventualmente ter que ouvir uma piada vulcana ou outra em bares e convenções: Em 1975 Nimoy publicou sua primeira autobiografia, chamada Eu Não Sou Spock (I Am Not Spock). Muitos críticos e fãs ficaram irritados, viram a coisa como se ele estivesse renegando a personagem que lhe rendeu toda a fama, mas a verdade é que durante algum tempo, Nimoy esteve cansado de não ser visto de outra maneira. Em qualquer outro trabalho que ele fizesse, em qualquer lugar, ele seria Spock. E como agravante, Nimoy já ressentia a personagem desde antes de Jornada nas Estrelas acabar (Ver link abaixo). Mesmo com o cancelamento da série e querendo distância do planeta Vulcano, ele viu as hordas de fãs crescerem mais e mais, e sua figura ser sempre tragada para perto da ficção científica. Nas palavras do ator, em tradução literal daqui:

Eu passei por uma verdadeira crise de identidade. A questão era abraçar o Sr. Spock ou lutar contra o ataque do interesse público. Eu percebo agora que eu realmente não tinha nenhuma opção nesse assunto. Spock e Jornada nas Estrelas estavam muito vivos e não havia nada que eu pudesse fazer pra mudar isso.

Vinte anos mais tarde, Nimoy lançou a segunda parte de sua autobiografia, Eu Sou Spock (I Am Spock), desfazendo o mal-entendido do livro anterior e de certa forma mostrando que ser pra sempre Spock não era mais problema pra ele. Tanto é que, do elenco da série original, ele é o único que até recentemente mantinha o papel que lhe deu fama, aparecendo no filme de 2009. Como ano passado Nimoy anunciou sua aposentadoria, ele finalmente deve ter parado.

É fácil citar quem mais está nessa situação. Daniel Radcliffe é um dos maiores exemplos: Depois de passar praticamente uma década sendo Harry Potter e crescer na frente dos fãs, ele é automaticamente associado com o personagem. Depois da série de filmes, ele rumou pra novos trabalhos, mas parece que a qualquer momento ele vai olhar pra frente, puxar um graveto do bolso e gritar alguma frase supostamente em latim. Na televisão, Hugh Laurie, que terminou ano passado de representar o papel do médico House, parece ser outro afetado pela síndrome. E não importa onde você vê esse sujeito, ele sempre tem cara de House. Se ele coloca um terno e fica sério, bang!, House. Se dá uma entrevista, House. Se tiram uma foto dele na rua, advinhem, House. O próximo trabalho dele vai ser divertido de ver. Mesmo que seja, sei lá, um western, ainda vai ser o House montando um cavalo e atirando nos índios.

Harrison Ford como Indiana Jones, Sean Connery como James Bond, Sylvester Stallone como Rocky [Nota do editor: Prefiro Rambo], Arnold Schwarzenegger como Exterminador do Futuro, todos eles possuem a síndrome de Spock em algum grau. Isso sem falar, claro, de todo o elenco do Chaves. De certo modo, é algo muito bom, um sinal de que o trabalho do ator foi reconhecido. Por outro, eles vão ter que dizer bordões e fazer poses específicas pro resto da vida. É possivel também que o ator fique preso a um gênero, a uma linha na carreira. Mas como diria o coveiro, são os ossos do ofício. RÁ. Tá, parei.

Vida longa e próspera.

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