A Geração “Feia”

Clássico é Clássico segunda-feira, 20 de abril de 2009

No exato momento em que estão lendo essa coluna, vocês com certeza já devem ter enchido o saco de tanto ouvir sobre o fenômeno Susan Boyle. Se alguém chegou de Marte agora, aconselho digitar esse nome no You Tube e clicar no vídeo com mais de 10 milhões de views. Enfim. O motivo de eu ter citado a tal é justamente aproveitar o ibope que ela está dando mostrar como essa idéia de “não julgue um livro pela capa” também vale para os astros de cinema. E são sobre quatro lendas do cenário hollywoodiano que falarei hoje. Além de seu talento, e falta de beleza física, todas despontaram mais ou menos na mesma época. O período entre 65/75. Um período de revolução cinematográfica, diga-se de passagem (além dos movimentos da nouvelle vague no Japão e França, o cinema hollywoodiano passava por uma revolução).
Até o começo dos anos 60 o cinema americano era caracterizado por sua pureza – dificilmente se viam cenas de violência explícita nas telas. Ficando restrito aos filmes de terror, guerra e faroeste, e mesmo assim de forma sutil. Cenas mais cruas eram raríssimas e altamente rejeitadas. E não só isso, questões como o adultério eram tocadas com cautela, muita vezes deixando o ato subtendido. É o caso, por exemplo, do clássico noir de Billy Wilder, Pacto de Sangue, onde por mais óbvio que seja a situação, não é mostrado sequer uma cena em que a traição seja consumada. Era também a época dos grandes galãs hollywoodianos: Humprey Bogart, Gary Cooper, Gregoroy Peck, Marlon Brando, Cary Grant…

Cary Grant e Gregory Peck

Nessa década o mundo entrou em ebulição: revolução sexual, maio de 68, Woodstock… Enfim, tudo começou a ser questionado, e como o cinema é um espelho (que espelha) da realidade, não poderia ficar indiferente. Temas até então proibidos como sexo, violência, drogas, política e caos urbanos começaram a ser discutidos por muitos filmes. Como o violento Bonnie e Clyde, o polêmico A Primeira Noite de um Homem, o liberal Sem Destino, o claustrofóbico Perdidos na Noite (único filme para maior de 18 anos, a ganhar o principal Oscar) ou o caótico M.A.S.H.. Clássicos como estes abriram portas para as pesadas obras da década de 70 (Laranja Mecânica, Operação França, Poderoso Chefão, Taxi Driver…).
Com todas essas mudanças rostinhos bonitos não eram mais necessários. Heróis íntegros não eram mais o foco da indústria, surgia com força a figura do anti-herói. A partir daí rostos marcados, cansados ou até mesmo com um toque de insanidade passaram a ser os mais procurados. Foi nessa época que surgiram as quatro lendas que motivaram esse artigo – são elas:

1) Jack Nicholson

Filme que o revelou: Sem Destino (1969)
Atuações marcantes entre 70/75: Cada um vive como quer, A Última Missão, Chinatown, Profissão: Repórter e Um Estranho no Ninho
Sinônimo de cafajeste e bon vivant, Jack Nicholson, com seus eternos óculos escuros, é um ser mítico em Hollywood – só pra se ter idéia, é o ator com mais indicações da história do Oscar (12, levando três destes). Conhecido por seus papéis peculiares, seja o insano Jack Torrance de O Iluminado ou o divertido Garrett Breedlove de Laços de Ternura, sofreu algumas críticas durante sua carreira por seus papéis razoavelmente parecidos. Sejamos sinceros, Jack nunca se deu o esforço de pegar um papel que fugisse completamente de sua personalidade. E não precisava – ele sempre foi o melhor no que fez.

2) Robert De Niro

Filme que o revelou: Caminhos Perigosos (1973)
Atuações marcantes entre 70/80: O Poderoso Chefão – parte 2, Taxi Driver, Franco Atirador e Touro Indomável
O mais novo dentre o quatro, De Niro é um dos atores mais conceituados nos dias atuais. Deve grande parte de sua fama a seu grande amigo Scorsese com quem realizou seus maiores clássicos. Mas isso não aconteceria se não fosse pela sua dedicação. No filme que lhe rendeu seu segundo Oscar, Touro Indomável, treinou boxe por um ano (e mostrou tanto talento que inclusive recebeu propostas de patrocínio) para depois engordar 30 quilos (para interpretar a segunda parte do papel).

3) Al Pacino

Filme que o revelou: Poderoso Chefão (1972)
Atuações marcantes entre 70/75: Sérpico, Poderoso Chefão – parte 2, Um Dia de Cão
O talentoso ator, ganhou fama mundial ao interpretar o personagem central da trilogia poderoso chefão. Firmando seu nome em filmes como Um Dia de Cão, Scarface e Perfume de Mulher. Além de tudo, por ser o queridinho da Uiara, deixarei uma de suas cenas mais românticas.

4) Dustin Hoffman

Filme que o revelou:A Primeira Noite de um Homem (1967)
Atuações marcantes entre 65/75: Perdidos na Noite, Lenny, Todos os Homens do Presidente
Na minha opinião o melhor e mais versátil ator da lista, Hoffman, em um intervalo de dois anos, foi indicado ao Oscar por dois papéis inteiramente diferentes – o ingênuo Ben Braddock de A Primeira Noite de um Homem e o miserável e doente Enrico “Ratzo” de Perdidos na Noite. Ainda seria indicado pelo papel de um homem que se vestia de mulher em Tootsie e venceria na pele de um autista em Rain Man. Atualmente se encontra fazendo algumas boas comédias como Mais Estranho que a Ficção, Entrando em uma Fria Maior Ainda e o premiado Tinha que ser Você.

Em uma época em que os “atores” mais requisitados são escolhidos pela boa aparência, é bom relembrar um tempo no qual era o talento que fazia a diferença. Será que após Suzan Boyle a indústria cinematográfica voltará a prestar atenção nesse importante fator?
Tudo indica que não.

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