28 filmes que moldaram meu caráter (Parte I)

Primeira Fila segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Chegou o momento. Meus dedos estão na linha de chegada dos trinta anos, eu quase posso sentir o cheiro da idade me alcançando. Se ano passado eu achei que ia entrar para o Clube dos 27 e ficar pra valer, agora que (Até então) sobrevivi, estou planejando coisas maravilhosas para essa semana. Dentre elas, uma maratona de filmes com as amigas de infância, afinal, por que não? Era o que mais gostávamos de fazer quando passávamos todos os fins de semana juntas. E se vimos muita, muita bosta, também desenvolvemos uma paixão incondicional por cinema, literatura (A gente gostava de bater papo com a bibliotecária do colégio, que a cada dia proporcionava um microinfarto diferente com seus mood swings) e até problematizações. Imaginem três gurias esquisitas discutindo aborto, eutanásia, casamento gay e religião com o inspetor evangélico, o seu João, todo recreio. The old saying happens to be true: Girls just wanna have fun.

Por mais que estar com minha outra meia dúzia de amigos maravilhosos e que amo como se fossem minha família seja algo especial, sempre, elas estarem aqui é uma porra de um acontecimento. Com a correria da vida, do trabalho, dos relacionamentos, fica difícil a gente se juntar. Tem até barreira geográfica para tumultuar nossa ousadia e alegria. E, como não pretendo estragar meu dia com a nova temporada de Gilmore Girls, estou bolando uma lista de 28 filmes para evitar essa serie lixo que moldaram o meu caráter, mudaram a minha vida e, talvez, as delas também.

Talvez seja meio over falar da Disney, mas em tempos de live actions desnecessários, a gente precisa sim. Se eles acharam que suas histórias sobre Síndrome de Estocolmo, relacionamentos abusivos, adoração a um rei déspota e princesas comportadas iam causar impacto na minha vida, a resposta é não. Bernardo e Bianca sempre foi meu desenho favorito e, apesar das mensagens subliminares as quais fui exposta pelo menos umas 20 vezes, acho que me desenvolvi de forma saudável. Foi o primeiro filme que realmente gostei na vida e isso é muito marcante. Outro clássico que merece destaque é Bambi. Depois dele eu tinha a certeza absoluta que meus pais morreriam a qualquer momento, todos os dias. Eu poderia processar os estúdios pra ganhar terapia grátis depois dele, porque pago uma fortuna pela hora semanal. Uma irresponsabilidade. Como você deixa aquele bichinho pequeno e indefeso órfão, abafando o sofrimento da sala de cinema e do choro das crianças com aquele tiro? Coisa de gente sádica.

Mais pra frente foi a vez dos filmes de terror e eu nunca entendi como meu pai, responsável pela minha saúde mental e integridade física, ia comigo na locadora e permitia que slasher movies entrassem na minha casa. Eu tinha uns 7, 8 anos de idade. E eu via de tudo. Zerei a franquia de Sexta-feira 13, Halloween, sendo o quarto o meu favorito de todos, O Padrasto – baseado na história do assassino em série John List – e o rei de todos, a saga de Angela Baker contra a pornografia e o sexo antes do casamento, Sleepaway Camp. Para fãs de terror, é um must see. Os dois últimos são mais ágeis, divertidos, mas o primeiro tem o plot twist mais gráfico da história dos filmes B dos anos 80. Vale cada minuto.

Michael Myers também é contra os papeis de gênero impostos pela sociedade.

O boom dos anos 90 foi Pânico, empatadinho com Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, mas bom mesmo era Eu vi o que você fez e Eu sei quem você é, sobre duas garotas que foram passar um fim de semana em uma fazenda isolada e decidem passar trotes, até que telefonam para o maníaco errado e a atmosfera de suspense fica sufocante. Lembro que gostei tanto que nunca mais preguei peças telefônicas em ninguém. Talvez meus pais estivessem, sei lá, me educando de uma forma que eu não percebesse.

Outro inesquecível do gênero foi O Sexto Sentido, motivo pelo qual jamais poderia odiar M. Night por completo, mas não irei defendê-lo. Lembro que meu cérebro quase explodiu. Mas faz tanto tempo que minha timeline está confusa. Não lembro se foi ai, ou mais tarde, que comecei a me interessar por filmes mais cult, como O Exorcista, Poltergeist, O Bebê de Rosemary, O Iluminado e Stepford Wives, um dos favoritos, sobre a batalha de esposas perfeitas e as que resistiam bravamente à ceder ao patriarcado. Esse sim foi útil nos meus relacionamentos amorosos. O livro, inclusive, é foda. Fuck Disney.

Chegou uma hora que esgotei as possibilidades do horror e passei para drogas mais pesadas. Larry Clark me apresentou ao submundo da adolescência (Que eu nunca conheci) com Kids e sintetizou a palavra ruim com Ken Park. Não sei se foi o maior erro de sua carreira, porque não conferi mais nada dele. Mas eu, que já havia visto Saló e Decameron, de Pier Paolo Pasolini, tive pela primeira vez vontade de vomitar durante uma sessão com as amigas. Puxado.

Apesar de não ser uma pessoa exatamente engraçada, eu tenho bom humor e riso fácil. Fui me tornando uma grande fã de Mel Brooks e Monty Python com os anos. Um sentimento que cresce, mesmo eu já tendo crescido demais. O Jovem Frankenstein e A Vida de Brian são as comédias mais bem feitas da história pra mim. Mas o que definiu mesmo meu humor foram as Pornochanchadas protagonizadas por globais que julgam a Xuxa por seu Amor Estranho Amor, mas faziam coisa pior. De todas, o top 1 é a Trilogia do Pornô, ou algo assim, que contava com, durp, três histórias: Eu não lembro da primeira muito bem, mas a segunda é o ouro do cinema brasileiro. Nela, uma mulher tenta seduzir a qualquer custo o antológico David Cardoso e ele fica fazendo corpo mole, até que traz para a moça uma roupa de freira. Ela fica meio ressabiada, mas veste e trocam palavras que Stanley Kubrick seria incapaz de escrever:

Ele: Vem cá, minha santa.
Ela: Só se for uma santa puta.

Selo: Mais erótico que eu?

Que filmão da porra! Ela transa com a barriga dele, ele transa com a barriga dela e ninguém liga, porque é uma mulher vestida de freira. Você não vê muita coisa mesmo. Meu deus, a mina tá vestida de freira! O que eles tomaram para aprovar o argumento, desenvolver o “roteiro”, escalar os atores, produzir o filme? Muito ácido pra pouca equipe. Nada é sexy, mas é mais fascinante do que qualquer apelação dos criadores de Game of Thrones. No final, a “abusada” ainda pede pra guardar a roupa, que imagino que não seja exatamente barata, para continuar praticando os prazeres da virtude. Não mande nudes, mande nuns.

Eu não faço ideia de quantos filmes narrei até então. E não importa porque é meu fucking birthday e temos ainda uns 14 anos de memórias pela frente que não consegui processar, ou colocar no papel. É muito bom olhar pra trás e me orgulhar da menina que eu fui, da mulher que me tornei, da louca dos gatos que vou ser. Porque eu me diverti muito, continuo me divertindo e cultura é isso também. É claro que hoje, ainda aos 27, tenho gostos mais refinados, mais acesso, um universo de possibilidades que a Telecine não me proporcionava, tampouco as locadoras, especialmente a falecida Blockbuster. Mas há algo que me atrai para o tosco que vem das entranhas. Não consigo evitar. A gente vive querendo impressionar os outros, fingir gostar de coisas que nunca ouviu falar e isso te impede de explorar universos. E eu sou uma exploradora incansável no fim das contas. Esses 27 anos foram uma montanha-russa misturada com carrinho de bate-bate, um eterno Tivoli Park mas, de um modo geral, olhando pra trás, eu sou só sorrisos. Olhando pra frente, também. Como diria a personagem Ellen, de Elizabethtown: It was real and it was great. And it was really great!

Não *ESSA* exploradora.

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