Sigur Rós

Música quarta-feira, 22 de junho de 2011

Em meados de 1994, na cidade de Reykjavík, Islândia, três amiguinhos resolveram pegar suas mesadas e gravar uma demo num estúdio tosco, e depois tentar lançar as músicas numa compilação de novos talentos. Poderia ser a história de qualquer banda, até da minha ou da sua, mas essa é a história do Sigur Rós. O nome, em islandês, significa rosa da vitória, e pronuncia-se si ur rous.

 Ele pensa que arco de cello é paleta…

Os três amigos, Jónsi, Georg e Agúst, depois começaram a trabalhar num disco de estreia, Von, mas só conseguiram lançar mais de três anos depois de gravado. Em seguida, se juntou a eles Kjartan e a banda melhorou suas composições. Foi então que eles iniciaram as composições do incrível Ágætis Byrjun e se tornaram uma banda diferente, da minha, da sua e de todas as outras que você pode ter escutado até hoje. Ágætis Byrjun foi parar nas listas de melhores do ano em muitas importantes publicações sobre música do mundo todo e suas músicas acabaram nas trilhas sonoras de diversos filmes mundo afora, sendo ainda considerado pela crítica especializada um dos melhores discos de todos os tempos. Ao final das gravações deste segundo disco, Agúst, o bateirista, deixa o Sigur Rós e vai viajar pelo mundo, sendo substituído por Orri, que se mostrou muito mais adaptado ao som da banda que seu predecessor.

Em 2002, eles fizeram um disco chamado apenas ( ). Nenhuma das músicas tinha título, mas a banda batizou-as depois, em seu website, com indicações dos fãs. Todas as canções do álbum foram escritas em Vonlenska (Que, traduzindo, seria algo como esperancês), uma língua inventada por Jónsi, foneticamente muito semelhante ao islandês e também com o inglês, que é o termo usado para definir a língua ininteligível usada pela banda. Em inglês, Vonlenska é chamado Hopelendic e, diferente de outras línguas construídas, como o Quenya e o Sindarin criados por Tolkien e que podem ser usadas para comunicação, o Vonlenska serve somente para dar ritmo e melodia às músicas da banda, sem uma gramática específica. O ouvinte é quem devia criar um significado particular para as letras e escrevê-lo nas páginas em branco do encarte do disco. Louco? Nunca vi algo extrapolar tão bem a fronteira entre música e canção como essa ideia conseguiu…

A música do Sigur Rós é hipnótica, etérea e geralmente ultrapassa os 6 minutos de duração sem ser chata. Graças a Jónsi e seus falsetes, que ainda costuma usar um arco de violoncelo para tocar sua guitarra recheada de reverb, Georg fazendo o mesmo com seu baixo e Kjartan e seu teclado criando a atmosfera de fundo essencial ao evoluir da música, que mais parece flutuar. Um quarteto de cordas e alguns metais se somam a isso e o que era belo se torna angelical. Os agudos do vocalista Jónsi soam vez por outra como um instrumento a mais e emoções incontroláveis, anteriormente sufocadas pela tranquilidade da melodia, emergem nos ouvintes. A bateria de Orri soa leve, ao fundo, como um pequeno metrônomo, apenas para sentirmos o tempo se movendo junto a música, que escorre e flui devagar, só para seguir em seu próprio ritmo e explodir no final, com toda fúria que realmente a calma esconde.

 Sou só eu ou mais alguém já sonhou com vacas voando?

Em suas apresentações ao vivo, o Sigur Rós é capaz de transportar o espectador a um nível de realidade que transcende facilmente qualquer barreira. Visualmente, pode-se perceber no vídeo abaixo, onde uma cortina esconde os integrantes da banda, deixando transparecer apenas suas sombras. Uma tentativa sútil de fazer o público percebe-los da mesma forma que o vocalista Jónsi, que é cego de um olho desde que nasceu, sendo que o outro olho conserva apenas 10% da visão, suficiente apenas para sacar vultos e silhuetas. Tenho que confessar que as suas músicas exigem muito do ouvinte. Sabem aquelas bandas que se você estiver de mal humor não rolam nem a pau? Pode acontecer, mas quem se entrega não se arrepende. Já resolvi ouvir várias vezes enquanto andava de busão num transito infernal, atrasado e cheio de coisas pra resolver, mas foi só colocar Glósoli pra rolar no celular, pôr meus fones e pronto: Me senti deitado em minha rede na minha varanda curtindo uma brisa. É muito fácil se entregar a raiva. Se entregar a calma custa muito mais e compensa de uma forma que só quem a encontra pode confirmar.

As palavras do vocalista Jónsi em um trecho da autobiografia do Sigur Rós:

Nós não somos uma banda, nós somos música. Nós não temos a intenção de sermos superstars ou milionários, nós simplesmente vamos mudar a música para sempre, e o que as pessoas entendem por música. E não pensem que não somos capazes de fazer isso, nós vamos fazer isso.

O Sigur Rós esteve no Brasil para o Free Jazz Festival de 2001, mas eu perdi. Um dia quero vê-los ao vivo, nem que tenha que ir lá para poder ouvir sua música e conferir se mudaram mesmo tanto em mim quanto acredito que puderam.

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