Um quarto.

Antípodas da Mente quinta-feira, 16 de abril de 2009

Eu peso trinta e seis quilos.
No entanto, sou alto. Meço exatamente um metro e oitenta e dois centímetros. Minha garra ossuda fecha-se com força em volta do pescoço de mais uma puta. Ela chora baixinho, mas os mamilos permanecem endurecidos.
Eu a levanto pelo pescoço com facilidade e a deposito gentilmente em meu estômago. O buraco em meu tórax mastiga feliz a carne macia e eu gozo.
A mão esquerda rapidamente procura o pacote de cocaína no chão. Ele é jogado com pressa pra dentro de minha cavidade, juntamente com um punhado de latas de cerveja, e eu entro em êxtase. Prazer.

Incontáveis unhas já quebrei, sentado nesse trono de madeira, arranhando de prazer, arranhando de fome. Fome. O meu estômago ronca, está vazio. Sempre. O buraco arreganha os dentes, mastigando o nada e pode-se ver a garganta secando, enrolando-se, espremendo-se. Sede.

Levanto-me. Os joelhos estalam sob um peso negativo, metafísico, e o suco gástrico escorre da boca de meu estômago. Meus olhos estão injetados. Agarro a Europa com minhas garras e a enfio buraco adentro. Sento-me nas rochas de um oceano vazio, exatamente onde antes era Dresden.
Estico a mão para alcançar a África, mas desisto. Só um pouco da Somália me fará feliz. E talvez algumas guerras étnicas no Congo. Todos triturados pelos dentes de meu estômago, a boca da barriga babando de prazer e mais fome, a língua reptiliana estalando. Fome.

Meus velhos amigos tornaram-se somente alguns incômodos pedaços de carne presos entre os dentes. Devoro os novos lentamente, saboreando o gosto do desconhecido.
Desinteresso-me depois de mastigar metade de suas cabeças, mas termino a refeição por educação. Tédio.

Um sagaz observador, antenado nas velhas e novas tendências das lendas morais, poderia visualizar o final de minha história: eu acabo por devorar a mim mesmo, arrancando pedaço por pedaço.
Sinto muito. A falta de três dedos de minha mão esquerda marcam a tentativa falha, o gosto ruim e podre ainda atormenta o fundo da língua chicoteante da boca de meu estômago.
Eu continuo aqui. Arranhando. Comendo. Bebendo. Cheirando. Gozando. E querendo mais.
Mais.

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