Top 10 (America’s Best Comics)

Bíblia Nerd quinta-feira, 02 de abril de 2009

Imagine-se num mundo onde super-heróis existem de verdade, e em grande número atuando na sociedade, reprimindo o crime e dando socos nas pessoas, essas coisas que super-heróis fazem. Imagine agora como seria se esses caras fossem seres humanos comuns, como eu e você, apesar de seus poderes, se relacionando e interagindo uns com os outros da mesma forma que nós, pobres mortais, fazemos. Como seria isso, como ficariam essas relações, como seria o mundo, e principalmente: como esse início de resenha poderia ficar MAIS clichê em se tratando de quadrinhos adultos?

Sim, depois de Watchmen todos os quadrinhos resolveram adotar esse ponto de vista, que pode parecer bobo hoje, mas na época revolucionou meio mundo e até hoje sofremos da herança dele. Isso de adicionar elementos novos a velha mistura e ver no que dá é mais velho que a minha mamãe, acho que todo mundo pensou nisso, INCLUSIVE o mundo do entretenimento (“o que aconteceria se ao invés de pessoas, o mundo fosse povoado por ANIMAIS???” – BADABIM! Você tem a Disney!), e como não poderia deixar de ser, isso também chegou aos quadrinhos. Em Watchmen temos um mundo como o nosso em que heró… opa, VIGILANTES existiram e modificaram o mundo tal como o conhecemos. Bem, como eu já disse, depois de Watchmen essa coisa de “heróis de verdade num mundo de verdade criando uma distopia” virou lugar comum até mesmo guiando adaptações de cinema e o escambau. Daí, à primeira vista, falar de Top Ten poderia acabar caindo nisso, pois a premissa básica do quadrinho é a mesma. Mas é mesmo?

Em Watchmen nós temos, como eu disse, VIGILANTES. O único SUPER lá (e não “super-herói” vejam bem) é o Doktor Manhattan e olhe lá (Ozzy, se você for forçar a barra também…). Nas histórias sequentes, de jogar heróis no mundo real, sempre você tem ou vigilantes, ou heróis do tipo “sujeito casual em situação não-casual” ou então UM super (ou um pequeno grupo deles) interagindo com o mundo comum que o leitor está acostumado ou algo muito próximo disso. Agora, e se, por acaso, o mundo fosse TOTALMENTE constituído por SUPERES? (me recuso a usar “supers”) Se você, seus pais, seus amigos, o professor da escola, a gatinha da carteira da frente (as crianças de hoje em dia ainda sentam nisso? “Carteiras”? Sempre achei uma palavra escrota) enfim, TODO MUNDO tivesse um superpoder? E usasse uniforme?? Agora sim você tem um desafio de projeção meu amigo, se antes era “o Manhattan mexe com a tecnologia e com a geopolítica e tudo fica norótico” agora você tem que começar tuuuuudo do zero, reimaginar a porra toda, e não pegar algo que você já conhece e tacar um elemento estranho. É BEM mais interessante, pelo menos na minha opinião.

ESSA SIM, é a premissa básica de Top Ten, pegar um clichê que já estava ficando rodado e reinventá-lo, dando assim uma nova dimensão a distopia resultante. Um mundo habitado por superes seria um mundo
totalmente diferente, as relações mesmo de poder entre os indivíduos seriam totalmente mexidas, afinal, se hoje podemos dizer “grosso modo” que não entramos em guerra todos-contra-todos por termos um pacto
social de não-agressão mútua baseado em nossos poderes de agressão equivalentes, imagine agora num mundo em que esses poderes não só tem uma probabilidade muito maior de NÃO serem equivalentes como podem ser TOTALMENTE RANDÔMICOS! (você nasceu com o poder de Telepatia e o valentão com pele de titânio e fator de cura. O mundo é cruel e ele não dá a mínima pra você) Imagine uma simples briga de rua, ou uma discussão no trânsito! Poderiam facilmente desencadear o APOCALIPSE! E sem a parte legal que vem nos álbuns de Metal!

E para conter essa balbúrdia superpoderosa? Só uma equipe policial com BALLS de verdade. É ai que aparece o TOP TEN do título, uma elite policial que mantém a ordem no multiverso lidando com os milhões de superes e evitando que a desordem ocorra e desencadeie o fim de tudo. E claro, como não podia deixar de ser, temos mais uma vez as relações interpessoais dos personagens abordadas com maestria, dando aquela
pitada de realidade que só os grandes quadrinistas conseguem. Realmente o mundo de TOP TEN, por mais fantasioso (ao EXTREMO) que seja, é factível, você chega mesmo a se enganar por um instante e esquecer
até mesmo que todos os personagens são HYPERpoderosos e acaba lendo uma história policial comum. E claro, a HQ é LOTADA de referências a outras HQs, sendo que uma das diversões mais divertidas (OMG, cometi um crime gramatical aí?) é ficar catando os cameos que acontecem no decorrer das páginas, afinal estamos num multiverso que abrange TODAS as dimensões possíveis em se tratando de contar histórias, seja de super-heróis ou não (Smax que o diga).

Você não iria querer arrumar treta com ESSE cara iria?

E pra terminar, eu disse que tem inúmeras referências a outras obras, que aborda o mundo heróico de forma diferenciada e perspicaz, inova o clichê já batido… cheira a algo familiar no mundo mágico dos quadrinhos adultos, não? Pois é, quem melhor pra renovar o clichê que o criador do mesmo? Sim senhores, o autor (pelo menos da primeira “temporada” – o primeiro arco da HQ, que um dia resenho mais detalhadamente aqui) de TOP TEN é ninguém menos que Alan Moore, o barbudo genial adorador do Deus Serpente. Pronto, se isso tudo, mais o fato do Moore tá metido nisso não te fazem ter vontade de ler TOP TEN, eu acho que você precisa se internar.

E antes fazer uma oferenda para Glycon.

Top 10

*Top 10*
Lançamento: 1999
Arte: Gene Ha, Zander Cannon
Roteiro: Alan Moore
Número de Páginas: Variável
Editora:America’s Best Comics

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