Superman vs. Muhammad Ali (DC Comics)

HQs quarta-feira, 16 de abril de 2014

Há quase quarenta anos, a indústria dos quadrinhos foi sacudida por um embate no mínimo… Curioso: O Homem de Aço, o Filho de Krypton, Superman, enfrentava o Campeão do Povo, o Maioral, Muhammad Ali, em uma luta forçada e organizada pelo Império Scrubb. Achou bizarro? E foi. Mas aconteceu de verdade no universo fictício dos quadrinhos. Vem comigo.

Em uma tarde abafada de verão, Lois Lane, Clark Kent e Jimmy Olsen andam pelos subúrbios de Metrópolis à procura de uma história pra contar. Logo eles encontram quem queriam: A lenda do boxe Muhammad Ali. Pros jovens de hoje, criados na base de Ovomaltino, UFC, Muay Thai de academia e babaquices afins, o nome de Ali pode não ser bem conhecido (Certo, NÃO É conhecido), mas no final dos anos 70, o peso-pesado era uma estrela. Com 56 vitórias, 5 derrotas, e eleito o esportista do século pela Sports Illustrated, Muhammad Ali era influente não só nos ringues, mas também fora. Ficou famoso por se tornar um ícone da luta racial nos Estados Unidos, por se recusar a lutar na Guerra do Vietnã (E ser condenado por isso pela justiça americana), e por se converter ao islamismo em 1975 (Quando mudou de nome, antes se chamava apenas Cassius Clay). E foi esse sujeito que o trio de repórteres de Metrópolis abordou em uma quadra de basquete.

A conversa mal tinha iniciado, com Ali jogando suas tiradas cheias de autoconfiança, quando os quatro foram interrompidos por uma luz, um brilho ofuscante vindo sabe-se lá de onde. O brilho na verdade escondia um emissário Scrubb, que veio apenas avisar, ou antes, intimar o atleta do século a lutar com um boxeador Scrubb (?) segundo as regras universais do boxe (?) sem direito a recusa. E, é claro, Ali recusa. Também é óbvio que à essa altura, Clark Kent já desapareceu, rasgou a camisa em um beco qualquer e virou Superman, saindo imediatamente para averiguar a situação na órbita da Terra.

Enquanto isso, na quadra de basquete, as coisas esquentam enquanto o alienígena cheio de marra tenta explicar o motivo do circo todo: Provar que os Scrubbs são melhores. Ponto. Sim, eles são o tipo de raça alienígena que cruza o espaço pra armar uma luta de boxe e provar de uma vez por todas que eles são foda. Enquanto isso, Superman fica horrorizado ao descobrir que uma armada Scrubb se encontra em volta do nosso frágil planeta, pronto pra torrar ele caso Ali não queira lutar. O Homem de Aço volta para cobrar uma explicação do emissário daquele que é provavelmente o povo mais retardado do universo e acaba numa discussão com Ali sobre quem deve enfrentar o boxeador inimigo, só pra levar na cara que um Kryptoniano não tem porra nenhuma à ver com lutar em nome da raça humana. Cansado da baixaria, o emissário Scrubb manda os dois pra puta que pariu e decide que Superman e Muhammad Ali devem se enfrentar antes pra ver quem vai decidir o futuro da Terra no muque. Ah, eu não disse? Se não lutarem, os Scrubbs fodem tudo. Se a Terra perder, eles… Fodem tudo ainda assim. Ou dá ou desce.

A notícia rapidamente se espalha. Os Scrubbs dão um prazo de 24 horas pra luta começar enquanto Ali e Superman vão treinar juntos na Fortaleza da Solidão, onde Superman aparentemente tem todos os apetrechos possíveis pra treinar boxe, mesmo que nunca tenha feito isso. Com a ajuda de uns trecos inter-dimensionais inexplicáveis — todos de Krypton — e até um simulador de sol vermelho pra fazer o Super virar só um viado fantasiado e levar uns tabefes de Ali, os dois treinam durante o equivalente a duas semanas, tempo suficiente pra Ali mostrar como ele é foda, demonstrar sua técnica e encher a cara do Superman de alegria.

Nessa altura a treta já tinha sido plantada, com direito a soviéticos fazendo cagada e enfurecendo os Scrubbs, e esses últimos descobrindo a armação inter-dimensional do Superman pra fazer as 24 horas durarem. Muito putos, os aliens resolvem começar a luta imediatamente, levando os dois campeões da Terra para se esbofetearem debaixo de um sol vermelho, muito, muito longe de casa, e serem assistidos por praticamente todo o universo. O que vem depois disso é história, e não sou eu que vou estragar ela pra quem ainda não leu essa pérola dos quadrinhos de outros tempos.

Agora, o que eu posso dizer é que, apesar de a história ser levemente absurda, um pouco sem sentido e com premissas um tanto quanto duvidosas, ainda é um trabalho louvável. O traço de Neal Adams é realmente bom, provavelmente um dos melhores que eu já vi. É um misto de realismo com quadrinho clássico, cuja prova maior disso é a capa dupla da revista, um grande poster com Ali e Superman no ringue, cercados por uma platéia de rostos famosos e influentes da Terra, desde Batman até o presidente Jimmy Carter. Sinceramente, toda vez que um desenhista de hoje pensasse em fazer mais uma cagada, devia olhar o que Adams fez aqui. Sabe, só pra ter referência.

 O campeão aprova.

Debaixa da trama meio forçada, Superman vs. Muhammad Ali tenta abordar coisas mais sérias, como, por exemplo, no quadro em que Jimmy Olsen explica que Superman lutou com sua fantasia completa por que os alienígenas não conseguiam distinguir ele de Ali, a não ser por “sutis diferenças na cor”. No final, a mensagem fica bem clara: Paz entre os homens de boa vontade. E quem sabe, entre os povos da galáxia. O tom da história é simples, quase bobo, mas bem intencionado. Com participações da deusa Atena (Sim, isso mesmo), alienígenas de todo o universo, Superman e uma estrela do boxe, esse é um daqueles quadrinhos clássicos, pra quem realmente gosta de coisa boa. E não liga de fazer um pequeno esforço de imaginação.

Superman vs. Muhammad Ali


Superman vs. Muhammad Ali
Lançamento: 1978
Arte: Neal Adams
Roteiro: Denny O’Neil e Neal Adams
Número de Páginas: 80
Editora: DC (Versão brasileira pela Panini)

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