Sobre o humor e o politicamente correto

Televisão segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Existe um máxima muito debatida hoje em dia (E que eu acabei de inventar) que diz “no humor tudo pode”. Esta afirmação está na boca do povo, na boca dos defensores de “humoristas” como Danilo Gentili e Rafinha Bastos. Na cabeça destas pessoas, assim como política, futebol e religião, não devemos pensar nem discutir o humor, ele deve ser deixado intocado no seu pedestal de elemento sagrado da sociedade.

Não discutir algo só significa que ele se engessará a sua maneira, sem crítica, sem reflexão. Imagine se diversas pessoas não tivessem pensado a vivência religiosa, a organização política e o futebol? Provavelmente estaríamos queimando bruxas, nos curvando ao rei e não teríamos direito a três substituições. Devemos sim conflitar todas as visões de mundo, principalmente aquelas que nos parecem as mais corretas.

Falando em humor, um dos fenômenos mais engraçados que acontecem no Brasil é algo que irei denominar de a polícia do politicamente incorreto. A polícia é defensora da primeira emenda da constituição norte-americana, a liberdade de expressão. Em nome da liberdade de expressão dizem que tudo que é pensado merece ser dito e respeitado, inclusive o que é ofensivo, tosco e de mau gosto. A polícia do politicamente incorreto também é usada como aparelho repressor do Estado politicamente incorreto contra os vândalos politicamente corretos. Os politicamente corretos são aqueles chatos que levantam bandeiras a favor da pobraiada, das mulheres mal comidas, dos pretos e dos viados. O sonho dos politicamente corretos é que essas chamadas “minorias” tenham mais direitos que os outros cidadãos de bem, que trabalham e pagam seus impostos para manter esses parasitas.

Ironias a parte, com essa onda neoconservadora que assola nosso vistoso país de belezas mais, defender os direitos dos menos favorecidos tornou-se sinônimo de caretice, de mimimi. Para ser legal e descolado temos que ridicularizar mulheres estupradas, moradores de rua, negros e homossexuais. Tudo em nome do bom humor, claro.

Danilo Gentili, celebridade nacional, é um dos representantes deste humor barato do mainstream brasileiro. O comediante protagonizou recentemente mais uma de sua suas “polêmicas” que o garantem repercussão e praticamente o alimentam, ofendendo uma usuária do Twitter que o ofendeu com outras ofensas bem mais graves, a chamando de “puta”, “chupadora de pau” e outros adjetivos de bom gosto, sendo seguido pelos seus apóstolos e seu escudeiro fiel Roger. A folha corrida deste sujeito por ofensas raciais, misoginia e homofobia é bem longa. Mas não é surpresa nenhuma que este cidadão seja um dos mais “respeitado” homens da comunicação no país, convidado para palestrar sobre mídia, política e para a aparecer em programas de televisão (Inclusive comandando seu próprio). Um pouco mais a frente retornaremos neste assunto.

O grupo Porta dos Fundos surgiu como uma luz no fim do túnel. Apesar de vários acertos, fazendo um bom humor, inteligente e com ótimas sacadas, vez ou outra a trupe vacila, principalmente com relação aos transexuais, alvo recorrente de ridicularização por parte dos humoristas, que para mim, foram perdendo o crédito e se mesclando com a paisagem.

Artistas do humor, como Chaplin e o grupo Monty Python fizeram sua fama em cima do riso sobre temas sérios, mas nunca buscando o lado mais fraco. Chaplin ridicularizou a burguesia industrial, os ditadores e a própria pobreza sem nunca ridicularizar o pobre e o explorado. Já virou um chavão de para os politicamente corretos (Me incluindo aí) que o bom humor faz piada com o opressor, não com o oprimido, o que não poderia ser mais verdadeiro, ainda mais quando considerando que o riso, a comédia, fazem parte da humanidade desde sempre, e assim como as artes, o futebol, a polícia e a religião, são imprescindíveis para a sociabilidade humana e como outras esferas da vivência social, a sociedade influencia na sua configuração e ela influencia na configuração da sociedade. Nada mais compreensível que Gentilis da vida sejam ovacionados e reconhecidos como modelo de humorista na sociedade brasileira, afinal, o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo, vive um genocídio do povo negro há séculos e tem mais estupros confirmados que assassinatos.

Sobre esse assunto, sugiro o documentário “O riso dos outros”.

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