Review – Kill to get Crimson (Mark Knopfler)

Música segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Cá estou eu, entrando nessa onda de resenhar os bagulhos de 2007 que ainda faltavam. E, bom, já era pra eu ter resenhado esse álbum faz algum tempo. Acontece que eu só consegui ouví-lo semana passada. Agora chega de conversa fiada, vamos á review:

Em primeiro lugar, acho que não existe necessidade nenhuma de dizer quem é Mark Knopfler. Muito menos depois de eu já ter feito isso aqui. Mas sempre vale lembrar que o cara é ótimo, e ainda não decepcionou os fãs da boa música. E eu não acho que algum dia ele vá chegar a decepcionar, aliás. O disco foi lançado em setembro de 2007 e chegou ao 26º lugar na Billboard, se é que eu não me enganei. Como já é de costume aqui no site, lá vai a análise música a música.

True Love Will Never Fade, single lançado na europa, abre o álbum com uma levada bem country, que fica ainda mais evidente quando a voz inconfundível de Knopfler começa a cantar. O refrão a duas vozes dá o toque final, e, assim, o disco se inicia com uma bela canção. Muito bacana.

Terminada a música, começa, de um modo bem suave, a balada The Scaffolder’s Wife, que já tem uma pegada completamente folk. Os instrumentos de sopro causam um efeito interessante na música, e o tom nostálgico da música, junto com a voz tranqüila de Mark, fazem com que você se sinta quase na presença de um bom contador de histórias. E contar boas histórias através da música é algo que Mark Knopfler sempre soube fazer, e muito bem.

Falando em histórias, The Fizzy And The Still segue um pouco a mesma linha. Aqui a coisa volta a ter um tom mais country que folk, e o tom melancólico da canção deixa essa coisa toda de contar história muito bonita. Quer dizer, é bem difícil hoje em dia encontrar quem cante uma história triste tão bem com poucas palavras. Não existe mais muita gente que transforme esse tipo de coisa em música: geralmente o que fazem são choradeiras irritantes, lembrando bebês cagados querendo chamar a atenção. Não é o caso de Mark Knopfler. Nunca foi, aliás.

Heart Full Of Holes – uma das músicas mais brilhantes do álbum – começa lembrando de relance a bela Why Worry, ainda da época do Dire Straits. Talvez pelo começo sereno, ou pelas linhas iniciais (“You can tell me your troubles/ I’ll listen for free”, e por aí vai), mas a coisa vai crescendo aos poucos, e passa de uma simples canção calma a uma grandiosa canção sobre vida, morte, o tempo e o mundo, e muito mais, talvez. O modo sereno com o qual Knopfler fala das próprias tristezas e dos problemas do mundo mostra tanto lucidez quanto prontidão pra enfrentar a vida. Mais uma coisa difícil de se ver hoje em dia. Não dá pra duvidar da genialidade do cara depois de uma jóia dessas.

Um pouco mais adiante no álbum, temos We Can Get Wild. Tanto a parte instrumental quanto a voz soam quase como um tema de faroeste, e isso acaba combinando com a letra, que é mais positiva. O refrão (“Listen up, right here/ It’s gonna be a beautiful year”) tem aquela simplicidade que as letras do cara sempre tiveram. O tipo de coisa que soa simples, mas, mesmo assim, muito bonito e poético, sabe? Enfim, vale á pena ouvir.

Secondary Waltz é exatamente o que o título diz: Uma valsa. Três por quatro numa levada dançante, com cordas e tudo mais. Tudo isso com uma forte influência country. Me pareceu até uma das músicas mais calmas dos Pogues, só que sem os sopros, e sem o Shane. Como todas as outras, também uma música muito bacana.

A sétima música é Punish the Monkey, que também virou single, dessa vez nos EUA e no Canadá. A percussão no início me lembrou bastante Ride Across The River, que você pode ouvir no álbum Brothers In Arms, do Dire Straits. E eu também vou usá-la pra ilustrar melhor essa review. Melhor que ler sobre a música é ouví-la:

Let It All Go tem uma ótima letra sobre a própria arte e sobre oportunidades. Ao mesmo tempo em que o refrão soa quase sarcástico – “Go, forget it, let it all go, let it all go” parece ter o efeito contrário no ouvinte, como se o cara dissesse “vá, homem, seja imbecil e jogue fora o sonho da sua vida” -, ela, de um modo bastante sutil, alerta sobre as dificuldades de se viver de arte. Isso se nota mais quando se imagina a música cantada por um pai preocupado, que quer que o filho não se perca ao trocar a vida comum e estável por uma vida arriscada de sonhos, mas quando se imagina o próprio Mark Knopfler tocando, dá pra sentir todo aquele negócio de jogar fora as oportunidades. Enfim, mais uma ótima letra, e mais uma ótima música.

Behind With The Rent soa diferente das músicas até agora. É algo mais urbano, bem mais pro jazz do que todas as outras músicas do álbum. O timbre de guitarra característico do Knopfler tá aí, bem como o teclado já clássico nas músicas dele. Põe pra tocar que essa é boa.

Quase terminando o álbum, ouvimos The Fish And The Bird. Mais uma balada contando uma história, dessa vez através de metáforas. Isso me lembra aquele negócio que dizem sobre a arte, sabe? O livro depois de escrito não pertence mais ao escritor. A interpretação do mesmo depende só do leitor, e aquela coisa toda. Desnecessário dizer que a música é muito boa.

Mark Knopfler começa a penúltima música, Madame Geneva’s, com o verso “I’m a maker of ballads right pretty”. Você já me convenceu disso, Mark. E depois dessa eu nem sinto necessidade nenhuma de comentar a música.

Quanto á música que fecha essa maravilha (In The Sky), me lembro de ter ouvido um certo huno dizer que o sax nela fez a bagaça lembrar aquelas músicas do Kenny G. As que vivem usando pra fazer propaganda de professor de português, sabe? E cá estou eu, ouvindo a música mais uma vez, pra tentar discordar dele…

…a desgraça é que eu concordo. O cara realmente deu uma escorregada aí. Ele já usou sax em muita música e sempre ficou melhor do que isso aí. Enfim, a música não é ruim, mas o sax realmente ficou deprimente. Ponto pro Huno.

No fim das contas, o cara lançou um ótimo cd. Claro que você não vai gostar nada se ouvir a bagaça esperando ouvir um som pesadão pra caralho. Mas o disco é uma verdadeira maravilha, véi. Quem curte Dire Straits provavelmente não vai se desapontar com o trabalho do cara.

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