Quebrando TVs com Marcelo Adnet

Televisão quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Em algum momento dos anos 2000, humoristas tornaram-se grandes celebridades. Existem dois grandes marcos feitos por humoristas neste novo milênio, a piada de Rafinha Bastos com a cantora grávida e o surgimento e a consolidação de Marcelo Adnet como O humorista da galerinha. Confesso que sou mais fã do Rafinha do que do Adnet. Primeiro porque o acho mais engraçado e segundo porque o acho mais corajoso. Marcelo Adnet, por mais que tenha cu para fazer uma esquete mais arriscada, quando questionado sobre o limite do humor ou qualquer coisa do gênero, fica em cima do muro, enquanto Rafinha já chega com a Miley Cyrus no colo, derrubando o muro e insultando a mãe do entrevistador. Mas ok, o Adnet ser rebelde na MTV é fácil, quero ver o Adnet ser rebelde na Globo. OK, deixa pra lá.

“…ATÉ AQUI EU VINHA TOLERANDO DEMOCRATICAMENTE O CONTEÚDO DESTE PROGRAMA…”

Lembro de um programa especial do Jô Soares na Globo, onde ele reuniu 6 humoristas, 3 homens e 3 mulheres. Do lado dos homens estavam Marcelo Adnet, Leandro Hassum e Bruno Mazzeo, só a nata do humor. E do lado das mulheres estavam Dani Calabresa e mais duas mulheres que eu não faço a menor ideia de quem sejam. Bom, papo vai, papo vem e o Jô entra num assunto sobre o limite do humor, no qual todos ficam sem saber o que dizer. E não que todos eles acreditem que o humor tenha que ter algum limite, mas porque eles trabalham na Globo e querem continuar trabalhando na Globo. E a Globo não é do tipo que aceita Rafinhas Bastos em sua folha de pagamento.

Isso é tão verdade, que quando foi anunciado que Marcelo Adnet estava saindo da MTV para ir pra Globo, até mesmo os fãs mais assíduos do humorista torceram o bico. Na Globo, ele jamais teria liberdade de brincar com o que ele brincava na MTV. Na Globo ele nunca poderia fazer isso:

É um absurdo de lindo ver os caras cutucando todas as emissoras de TV, tanto abertas quanto fechadas, e mais uma caralhada de escândalos da época e ainda terminarem zoando eles mesmos. Dá vontade de abraçar o computador, abrir a janela e encher o pulmão de poluição e soltar um enorme “CHUPA, SEUS POLITICAMENTE CORRETOS”. Foi exatamente essa música que me tornou fã do Marcelo Adnet. Não fã pra caralho, mas ele conseguiu o meu respeito. Tudo bem que o respeito foi embora com o Dentista Mascarado e outras coisas mais, mas o cara deu a volta por cima com o novo humorístico da Globo, Tá no Ar: A TV na TV!

Eu sei que é injusto dar os créditos apenas para o Adnet, já que tanto no Comédia MTV quanto no Tá No Ar, ele não é o único roteirista, mas temos que admitir que ele é o mais inteligente. O programa estreou ano passado e foi muito bem aceito pelo público. Quer dizer, o público que não curte Zorra Total. O público que curte Zorra Total não entendeu as piadas, mas disse que gostou pra parecer inteligente. E o público que não curte Zorra Total e nem nada que seja exibido pela Globo suja, manipuladora, alienadora, boba, feia e cara de mamão, chamou o programa de Zorra Total. Como eles sabem que Zorra Total é ruim? Não sei. Mas isso não é importante, o importante é que o programa voltou para sua 2° temporada, que estreou semana passada e já causou com a esquete das Escravas Bahia, um comercial típico das Casas Bahia, só que na época da escravidão.

“O feitor enlouqueceu” e “quer açoitar quanto?”, gritava Marcius Melhem enquanto passava no meio de vário atores pintados de preto, que sorriam e vendiam-se para as câmeras. Deu treta? Instantaneamente. Fazia sentido a treta? Claro que não, ou cê vai me dizer que não houve escravidão no Brasil? Uma pena a Globo retirar os vídeos do Youtube, mas você pode assistir a todas as esquetes do programa aqui.

“Compre 2 escravos de engenho e…”

Pois é, isso foi na Globo. De madrugada? Não senhor, foi depois do BBB, programinha família que todo mundo assiste depois da novela das 9 que também é família pra caramba. E sabendo que alguém daria cria por não entender a esquete, a esquete do Militante, interpretado por Marcelo Adnet, foi ao ar logo em seguida, insultando a Globo e seus humoristas por não terem vergonha na cara de fazer piada com esse assunto. É simplesmente genial. É o que o Eminem fez no final de 8 Mile. Eles se zoam pra não dar chance de gente cuzona zoar. Caralho, eu to emocionado, eu quero abraçar esse programa.

Se você deixar o mimimi de lado, você verá que Tá no ar: A TV na TV é o melhor humorístico dos últimos tempos. Eu não lembro quando eu vi algo tão incrível assim, mas acredito que foi quando tive meu primeiro contato com Monty Python. E não, eu não estou comparando nenhum dos dois, nem em humor e nem em genialidade, mas Tá no ar deixa uma alegria e um sentimento de satisfação tão grande quanto Monty Python deixava e ainda deixa toda vez que assisto. Acho que é pela coragem de seus integrantes. Tá no Ar é tão revolucionário para a época em que estamos, quanto Monty Python foi para a sua. Porque sim, nós regredimos. E pra mostrar que não tem rabo preso com ninguém, o programa terminou com um quadro musical falando mal só um pouquinho das escolas de samba. É válido lembrar que o carnaval começou no dia seguinte a exibição do programa e que a Globo exibe os desfiles das escolas de samba.

“Nosso patrono não veio. Por motivos de força maior. ALÔ BANGU 3. Deixou no lugar o seu primo. Laranja que segura o B.O…

Não tem jeito, dizer que esse programa é ruim é apenas uma forma de assinar o atestado de alienadinho da vovó que xinga qualquer coisa que passe na Globo mesmo sem assistir. Se isso não é humor, então não existe mais humor nos dias de hoje. Sinceramente, tá na hora de parar de bancar o do contra nas redes sociais e começar a relaxar. Chega de retardo, né gente? Afinal, o tempo passa, o tempo voa e a Poupança Bamerindus… ACABOU! E se até a Poupança Bamerindus acabou, a sua babaquice também pode.

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