O.J.: Made in America, literalmente o maior documentário que você respeita

Primeira Fila segunda-feira, 06 de março de 2017

O Oscar deste ano teve grandes destaques entre os vencedores, como a estrondosa Viola Davis que, merecidamente, levou a estatueta por melhor atriz coadjuvante por Um Limite Entre Nós, filme de Denzel Washington cheio de longos monólogos do protagonista, desenhadinho para coroá-lo como melhor ator. Mas, como vimos, não deu certo. Casey Affleck conseguiu escapar ileso das alegações de abuso sexual e levou o amigo Matt Damon e o irmão, Ben Affleck, às lágrimas com a premiação por seu desempenho no ótimo Manchester à Beira-mar. Ah, e teve toda a confusão, digna de Sessão da Tarde, no anúncio da categoria de Melhor Filme, obviamente a mais esperada da noite. Confesso que fiquei surpresa, porém zero decepcionada.

Em meio a estrelas, gafes e escândalos, o ultra longa metragem O.J.: Made in America não passou despercebido por mim, que havia apostado em A 13ª Emenda para levar o prêmio. Dirigido e produzido por Ezra Edelman para a ESPN Films, tinha tudo para ser o lugar comum que envolve tudo o que tem a ver com o ex-runner back. Marcado eternamente pelo assassinato de Nicole Brown e Ron Goldman em 1994, Simpson virou um personagem rentável para o mercado televisivo e editorial. A linha entre o sensacionalismo e a informação é muito tênue e Made in America faz um relato claro, costurando a colcha de retalhos que é a história pessoal e profissional de O.J.

É bem verdade que o homem está nas cabeças, eu nem sei explicar por que, e isso poderia conduzir o documentário para o lugar-comum mas, contrariando minhas expectativas, a abordagem – tecnicamente conservadora – é original, pelo menos em relação a tudo o que foi lançado sobre ele até então. Porque não é sobre o criminoso, ou as controvérsias do julgamento do século. É uma verdadeira biografia, não um excerto de quase 70 anos de uma trajetória errática.

Dividido em cinco partes, o longa traça uma linha do tempo consistente, que compreende a infância do ex-jogador, com detalhes até então desconhecidos pelo público, a ascensão e construção do mito – no início de sua carreira pela liga universitária na Califórnia – em uma época onde, paradoxalmente, direitos básicos raciais eram negados, até seu declínio, coroado pela condenação por roubo, sequestro e outras cositas mais em 2007. Acontecimentos históricos, como o boicote às Olimpíadas de 1968 orquestrado por atletas negros, se misturam com a postura apolítica de Simpson – que rejeitava ser rotulado pela cor da pele – e como, desde tão jovem, sua personalidade e ego já iam delineando o homem que ele viria a se tornar.

Com fontes interessantes, bem segmentado e editado – o que é importante, afinal são sete horas de material finalizado – e a seriedade do tom jornalístico, o documentário trafega entre entretenimento e notícia sem tirar o mérito da história, que tem potencial para ambos, tampouco tratando seu personagem principal de forma acusatória. Sem assumir posicionamentos, Edelman dá voz aos amigos e conhecidos de O.J. Simpson e passamos a conhecê-lo melhor através do olhar de quem conviveu com ele nas diferentes fases de sua vida, sem fazer, necessariamente, juízos de valor.

Até hoje, desde os minidocs televisivos aos filmes, passando pela ótima série American Crime Story: The People vs. OJ Simpson, nunca havia visto um material tão completo sobre ele. Tudo o que surgia na mídia era estritamente sobre o quão violento ele era e o desastroso julgamento, que o inocentou, apesar de todas as provas forenses gritarem que ele era culpado. Por mais cruel que possa parecer com as vítimas, para ele, esse foi só mais um capítulo de sua história. Talvez o principal, o divisor de águas, mas apenas um de muitos. E O.J.: Made in America faz questão de mostrar que por trás do monstro que ficou preso em 1994, existe uma figura multidimensional que seguiu em frente, construindo uma história que poucos se interessaram em conhecer.

Selo: Mais inocente que eu?

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