Naked Attraction é o melhor programa que você (não) vai ver hoje

Televisão segunda-feira, 14 de agosto de 2017

O filão de reality shows voltados para relacionamentos foi afogado pelos culinários nos últimos anos. Afinal, para que descobrir quem vai ser a sortuda que vai fisgar (Pelo menos até o fim do contrato) o solteirão sarado, se você pode aprender a fazer um carneiro na cerveja acompanhado de um aligot fantástico e, para fechar, uma cheesecake de tofu com pitaya de sobremesa para impressionar seus amigos no Instagram? Mas o Channel 4 parece não ter aceitado muito bem e levou os programas de encontro a um nível completamente diferente. E inesperado. Meninos e meninas, este é o Naked Attraction.

Inexplicavelmente viciantes, os episódios trazem pombinhos solitários que irão escolher o par perfeito pela anatomia do corpo nu, começando a análise, é claro, das partes íntimas para cima. Depois de atingirem o ápice da exposição, saem vestidos para um bar estiloso e descobrem se há afinidade além da atração sexual. Fui dos risos à problematização sobre os limites do entretenimento, objetificação do corpo, superficialidade das relações e tudo o mais que o reality britânico traz. Porém, por mais bizarro que seja, até para o meu contumaz mau gosto, Naked Attraction é absolutamente sensacional. Misturando bundas, peitos, pênis, corpos nus de todos os tipos e fatos “científicos” sobre as dinâmicas físicas, químicas, biológicas e matemáticas da sexualidade, o ridículo funciona e – mesmo seguindo a mesma fórmula todas as semanas – consegue surpreender mais do que qualquer plot twist de Game of Thrones.

Não tem nem legenda pra explicar um troço desses, bicho.

Fora a nudez, que rendeu ao canal cerca de 250 reclamações, os personagens também fogem do convencional. Afinal, exige um certo grau de coragem tanto para ficar nu em rede nacional, quanto para analisar minuciosamente as partes íntimas das pessoas e julgá-las exclusivamente por isso. A apresentadora, Anna Richardson, também é fora de série, levando tudo de uma maneira leve e natural, marcando sua presença com pedidos ávidos para ver as bundas dos participantes e ficando legitimamente sentida cada vez que alguém é eliminado. E é impossível não compartilhar do mesmo sentimento do lado de cá. Mas, se você torce por finais felizes, talvez esse programa não seja o ideal.

Atração sexual é importante em qualquer relação amorosa, mas é preciso muito mais para o flerte evoluir de conhecer alguém pelado na TV para um relacionamento mais sério, ou até para dar uma sobrevida aos encontros. E com as roupas em seus devidos lugares, os espectadores testemunham silêncios constrangedores, comentários ácidos, caras de tédio e até participante faltando o follow up para fugir do date. A lição que fica é que o tamanho da cabeça de baixo é importante, mas bacana mesmo é quando ela da match com a de cima. Para que, afinal, serve um braço top e um torso sexy se não for pra ficar de conchinha vendo as coisas mais esdrúxulas que a televisão mundial pode nos proporcionar? Se não for pra ser ridículo, eu nem quero.

Se é pra objetificar, vamo objetificar certinho.

Naked Attraction, a primeira vista, é mais raso que um pires. Mas ver tantos corpos e tantas pessoas diferentes desafiando suas inseguranças e sendo atraentes, nem sempre (Quase nunca, na realidade) fazendo parte daquela caixinha do padrãozinho, chega a ser encorajador e um motivo a mais para se amar. Afinal, o reality prova que corpo perfeito é coisa de Photoshop. Maneiro mesmo é ser como é. E são 45 minutos de gente pelada, vai mesmo me censurar?

(Esse texto é dedicado a minha bestie Bia que, mesmo de tão longe, pensa na minha diversão.)

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