Metamorfoses

Música quinta-feira, 14 de março de 2013

Eu me lembro de começar a ouvir Red Hot Chili Peppers no final do ensino fundamental. Na verdade, a atmosfera do colégio e da época respiravam essa banda, que estava em um dos seus momentos altos: Californication ainda era um sucesso, mas By The Way era a febre (E falo dos álbuns). Aquele que mais tarde seria um dos meus melhores amigos, e muito mais fã do Red Hot do que eu, estava presente naquela escola na mesma época. Inclusive, mais tarde ele também viria a me perturbar muito falando de CADA FAIXA do Stadium Arcadium. Bom, pois foi assim que passei a gostar da banda. E com o tempo, pude perceber finas curiosidades, não só da supracitada banda, dos nossos amigos Antônio Crianças e Pulga, mas de outros integrantes da indústria musical internacional. Tá confuso? Então vem comigo.

Talvez seja uma surpresa para alguns, mas o Red Hot Chili Peppers – RHCP de agora em diante, por que escrever isso cansa – é uma banda dos anos 80. E eu não digo 88, 89, mas 1983, o que pelo meus cálculos faz com que eles tenham 30 anos de estrada. Ainda nos meus cálculos, aproximadamente muita gente que escuta RHCP desconhece metade dessa história. Não que seja necessário, não é uma crítica. É mais uma… Constatação. Percebam que o que digo aqui tem um fundo meramente empírico, fruto de centenas de observações do meio jovem do qual eu mesmo (Sem muito orgulho) faço parte, assim como você aí lendo isso (Provavelmente). As cautelosas observações, cruzadas com informações que podem ser verificadas aqui me fizeram concluir que, a) O conhecimento do ouvimente médio da banda vai até, no máximo, 1999 – ou seja, o álbum Californication e, b) O ouvinte médio desconhece discos do RHCP, conhece músicas. É uma realidade pobre, eu diria, mas que reflete os gostos rasos das pessoas em geral, onde mesmo no meio daqueles que dizem gostar de música se tem cada vez menos a cultura de conhecer blocos sólidos de trabalho (Discos) e não só o que a rádio toca. Mas também reflete algo mais, a questão central desse texto, caros colegas e membros do júri.

No início da carreira, o Red Hot lembrava muito pouco a banda que fez tantos hits nos últimos quinze anos. Uma das melhores músicas antigas deles é a seguinte (Percebam a capa do disco também):

Era outra banda. Eles estavam longe do pop, longe do ouvido das massas e longe de alguma maturidade musical. Era o primeiro disco deles, afinal. O caso é que até o final daquela década eles ainda estavam longe do RHCP de Can’t Stop ou de Otherside. Aliás, é possível pegar os discos e ouvir lentamente a mudança se processar e se completar nos anos 90. O Mother’s Milk, disco de 89 e o primeiro depois da morte do primeiro guitarrista, pareceu o começo do novo. O novo integrante, o rapaz de 18 anos e fã, John Frusciante, trouxe novos ares. Apesar disso, eles continuavam com suas características primordiais: Uma banda relativamente barulhenta, com influências múltiplas mas principalmente do funk. A ênfase crescente na melodia era perceptível. No álbum seguinte viria o novo produtor, Rick Rubin. Poucos entendem a importância de um produtor, mas ele pode transformar uma banda. E assim foi feito.

Em 95, o disco One Hot Minute trouxe duas faixas que de certa maneira mostravam como a banda seria no futuro: Aeroplane e Walkabout. Mais melódicas e perceptivelmente diferentes do que havia antes, na minha opinião elas são exemplos precoces da mudança definitiva que viria em breve. E com breve, eu quero dizer 1999, com o famoso Californication. Foi o disco reponsável pelo sucesso mundial e inquestionável da banda, que com quatro fortes hits (Acima da média pra um álbum de um grupo com quase vinte anos de idade naquele ano) foi parar nos ouvidos da molecada, da geração que crescia na época e que mais tarde rambém fizeram o sucesso de By The Way, em 2002. Coincidentemente, a fase de altos vôos do RHCP coincidiu com sua mudança mais radical. Californication e By The Way são álbuns pop. De qualidade aliás, mas pop. Eles não eram mais a banda barulhenta e, sinceramente, de músicas melodicamente confusas, não. Agora eles soavam mais maduros, como se soubessem o que faziam (Ou foram bem orientados, ou as duas coisas).

Ora, no mundo da música, o que aconteceu com o Red Hot Chili Peppers não é raro. Bandas de muito sucesso como o Queen, por exemplo, começaram surpreendentemente diferentes. O Iron Maiden se modificou e até os Ramones, em 1980, fizeram um álbum com um som bem diferente do habitual. Claro que em cada exemplo desses houve um motivo, ou série de motivos, que levaram à mudança. O Iron mudou de vocalista e os Ramones estavam tentando vender mais, por isso contrataram outro produtor (O maluco do Phil Spector). No primeiro caso, a mudança foi bem-vinda e se tornou o Iron que conhecemos hoje. Já os Ramones voltaram a ser eles mesmos no disco seguinte, decepcionados com Spector, tal qual sua audiência. Assim, pelos motivos que forem, uma mudança numa banda afeta os fãs e nem sempre é desejável, nem sempre dá certo; mais ainda, nem sempre é possível evitá-la. No caso do Red Hot, foi de certa maneira inevitável e catapultou a banda ao seu auge. E fica a pergunta, tanto para as grandes bandas quanto para nós, a audiência: O que fazer com a mudança? E ainda, por que fazer a mudança, quando intencional?

Vida longa e próspera.

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