Mario Vargas Llosa e o Nobel

Analfabetismo Funcional terça-feira, 26 de outubro de 2010

 No começo do mês, o escritor peruano Mario Vargas Llosa foi consagrado com o Prêmio Nobel de Literatura. Para quem não o conhece, recomendo começar lendo Travessuras da Menina Má. O fato é que esse reconhecimento é mais do que merecido. Vargas Llosa é um escritor completo, daqueles que consegue ser profundo e popular ao mesmo tempo, com textos agradáveis, fluidos e leves. O tema central de seus romances é a natureza humana, que é abordada de forma sutil, o que o torna diferenciado. Eu me arrisco a dizer que ele é uma versão moderna e mais acessível de Machado de Assis.

Não que receber um Prêmio Nobel seja um atestado de qualidade, mas já vale pelo reconhecimento e valorização desse grande escritor. Para mim, Nobel é como Oscar, ou até como eleição de membros para Academia Brasileira de Letras: os requisitos e critérios são extremamente questionáveis, subjetivos e políticos. O fato é que tantas variáveis sem objetividade acabam distanciando a escolha dos “premiados” com a efetiva qualidade e importância de seus feitos.

Vejamos os premiados dos últimos 10 anos:

2000 – Gao Xingjian (chinês)
2001 – Vidiadhar Naipaul (britânico)
2002 – Imre Kertész (húngaro)
2003 – John Coetzee (sul africano)
2004 – Elfriede Jelinek (austríaca)
2005 – Harold Pinter (britânico)
2006 – Orhan Pamuk (turco)
2007 – Doris Lessing (britânica)
2008 – Jean-Marie Gustave Le Clézio (franco-mauriciano)
2009 – Herta Müller (romena)
2010 – Mario Vargas Llosa (peruano)

E aí? Já leu algum desses autores? Pessoalmente só conheço Vargas Llosa, e nunca nem ouvi falar na maioria. Desconfio fortemente que há uma notável preferência por escritores europeus, o que é até aceitável (mas não justificável), uma vez que a escolha é feita pela Academia Sueca. O que concluo? Que para um mero latino-americano ser agraciado com essa premiação, tem que realmente merecer. A propósito, outros latino-americanos que já foram premiados: Pablo Neruda, Gabriel García Márquez e Octavio Paz. De língua portuguesa, o único premiado foi José Saramago.

De toda forma, reitero: Varga Llosa merece esse e muito mais reconhecimento. Recentemente li O Elogio da Madrasta e pude concluir, com segurança, que foi um dos livros mais surpreendentes que li. Surpreendente não só pelo rumo da trama, mas pela forma direta, descarada e sem pudores como ele trata do relacionamento de uma criança com sua madrasta, por exemplo. É de se destacar também a facilidade que o autor tem em promover descrições minuciosas de situações ou lugares mínimos, ou aparentemente insignificantes – são descrições dignas de J.R.R. Tolkien –, tudo sem ser enfadonho. O cara é “o cara”. Acho que dessa vez o Nobel acertou.

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