Marcador de Página, O (Sigismundo Krzyzanowski)

Livros sábado, 21 de março de 2009

É, o nome é quase impronunciável.
Mas não é para falar de fonética que serve esse texto; nem para te ensinar a pronúncia de sobrenomes poloneses.
Esse artigo é sobre um dos melhores livros já escritos e, infelizmente, um dos menos conhecidos.

Seis contos.
Você vai ler aqui apenas sobre três, e eu deixarei o resto por sua conta.

O Carvão Amarelo

A humanidade passa por uma de suas maiores crises. Os recursos naturais do planeta estão acabando, e o efeito estufa ameaça queimar todas as nossas florestas, derreter todo o nosso gelo e destruir qualquer possibilidade de subsistência.
No entanto, as nações fecham-se cada vez mais em patriotismos ilógicos, ao invés de procurar alguma solução em conjunto.
Apenas uma organização mundial continua em vigor – a Comissão Para a Pesquisa de Novas Fontes de Energia (COPENOFE), que promete um prêmio bilionário para qualquer um que ofereça um meio viável de explorar novas fontes energéticas.
Um ex-professor, pesquisador, biólogo e filósofo, após anos de isolamento em sua casa, resolve dar um passeio pela rua.
Pessoas se empurrando para pegar os bondes, pessoas se acotovelando para entrar e sair de lojas, pessoas vociferando no trânsito…e uma idéia: extrair energia da Raiva Humana. O Carvão Amarelo, a energia que vem diretamente da Bile.

O Cotovelo Que Não Foi Mordido

A Resenha da Semana, procurando conhecer melhor seus assinantes e leitores, envia, juntamente com o número mais novo, um pequeno questionário: “Seu escritor favorito, seu salário semanal médio, qual o objetivo de sua vida”.
Eis que temos a resposta do senhor nr. 11.111 – “Qual o objetivo de sua vida: Morder meu próprio cotovelo”.

Entre as brigas de duas revistas concorrentes, vemos nascer uma celebridade. A inspiração para toda uma nova corrente filosófica, associando o cotovelo, sempre inalcançável pelos dentes, à idéia da metafísica kantiana, o arquétipo da Idéia.
E, claro, um homem de olhos baços, que passa todas as horas de seus dias tentando, a dentadas, alcançar seu cotovelo. Aumentando as cicatrizes, os cortes, o sangue que pinga no centro do picadeiro do circo…tornando-se a maior loteria nacional e símbolo até mesmo da nova moda de casacos, os Cotovelões, com aberturas abotoadas nos cotovelos.

Dentro da Pupila

Este é, de longe, o melhor e mais belo conto que já li em toda a minha vida.
Uma história de amor, que se transforma numa reflexão sobre a loucura do narrador, que se transforma novamente, tornando-se um belo exemplo de realismo fantástico, onde nosso segundo narrador nos descreverá a natureza da paixão humana da forma mais linda e poética que qualquer outro ser humano pode conceber.
E eu falo sério.

“Nos seres humanos o amor é tímido e de olhos semi-cerrados: mergulha no crepúsculo, esgueira-se pelos cantos escuros, sussurra, esconde-se atrás das cortinas e apaga a luz.
Eu não tenho ciúmes do sol. Ele que dê uma boa olhadela – desde que junto comigo – sob os colchetes que se abrem. Ele que espie através da janela. Isso não me incomoda.
Eu sempre defendi a opinião de que o meio-dia é muito mais apropriado para o amor do que a meia-noite. A lua, com a qual foram gastas tantas interjeições entusiásticas, esse sol noturno sob um abajur azul de gosto duvidoso, eu simplesmente não suporto. E a história de um ‘sim’ e suas consequências – a isso é dedicado este conto – começou com o sul brilhante, junto à janela escancarada para a claridade (…)”

Infelizmente, esgotado na editora no ano passado.
Mas procurem, leiam, e percebam: se houve algum dia seriedade no arquétipo “Literatura de Verdade”, era a esse livro que ele se referia.

O Marcador de Página

Ano de Edição: 1997
Autor: Sigismund Krzyzanowski
Número de Páginas: 157
Editora:Editora 34

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