Literatura de Cordel – Parte II

Analfabetismo Funcional terça-feira, 21 de setembro de 2010

 Além de ser um marco cultural e servir de entretenimento para os leitores e ouvintes, a Literatura de Cordel tem um papel social importantíssimo, mormente na alfabetização e estímulo à leitura dos pequenos de regiões carentes. Vendidos pelo módico valor de 1 real nas feiras, os livretos são uma boa e barata opção para os leitores menos abastados.

Ademais, seu caráter lúdico está sendo aproveitado até nas escolas particulares das grandes cidades, já sendo, inclusive, matéria cobrada em vestibulares. Essa literatura também era enaltecida nas apresentações da extinta banda capitaneada por Lirinha, Cordel do Fogo Encantado. Em suma, o cordel, aos poucos, está tendo seus valores descobertos pela sociedade.

Como já deve ter ficado claro, as temáticas dos cordéis são variadíssimas. Fala-se de assuntos cotidianos, acontecimentos nacionais de grande repercussão, programas de televisão como o famigerado BBB, lendas urbanas e rurais, mitologia, causos, etc. A marca que sempre está presente é o bom humor e a crítica ácida (e muitas vezes machista) à sociedade. Veja-se esse trecho de O casamento do boiola, de J. Borges:

Havia um político famoso
Muito forte e respeitado
Do povo de sua terra
Era muito acreditado
Eleito em todas campanhas
Mas tinha um filho viado

O filho do deputado
Era um rapaz musculoso
Cursava Universidade
Era muito estudioso
E os colegas de estudo
Lhe chamavam “meu gostoso”

Um dia o pai lhe falou:
“meu filho, que história é essa?
Meu único filho é você
Lhe considero boa peça
Só não diga que é gay
Não faça uma coisa dessa”

Disse ele: “Perdão meu pai
Isso não me descontrola
Sou um filho obediente
Sou muito bom na escola
Mas no meio dos colegas
Eu sou um pouco boiola”

As capas dos modestos livretos de página coloridas são um espetáculo à parte. Assim, exige-se do escritor, além do talento para o ofício da escrita propriamente dita, o talento de desenhista e artesão. É o próprio cordelista quem desenha as xilogravuras e talha os moldes em madeira, que são utilizados para a prensa das imagens. As gravuras são tão distintas, singulares, cheias de detalhes e expressionismo que é possível identificar o traço de cada artista e já estão virando objeto de reprodução em cerâmicas para decorar paredes dos apartamentos da capital.

 J. Borges talhando uma xilogravura num molde

Quem tiver oportunidade de ter contato com a Literatura de Cordel aproveite. Hoje em dia não é difícil encontrar recitais de poesias que se valem dos cordéis para entreter os participantes. Nossa riqueza cultural deve ser valorizada e apreciada. Diversão e prazer garantidos.

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