Krabat (Otfried Preussler)

Livros quarta-feira, 28 de março de 2012

Sabe quando você entra numa livraria sem procurar nada de especial, e acaba se deparando com um livro que, de início parece sem potencial, mas se revela maravilhoso depois? Então, não foi isso que aconteceu comigo e Krabat, um livro de tanto sucesso que acabou sendo distribuído di grátis pra praticamente todas as crianças em uma excursão à bienal do livro, em meados de 2003, junto de outros brindes como livros de colorir e giz de cera. Infelizmente, passou uns bons três anos perdido e empoeirado na minha estante antes de ser lido.

Krabat já tem seus quarenta anos de existência, publicado lá em meados dos anos setenta, e, apesar de contar com meia dúzia de adaptções para o cinema, nunca foi muito valorizado fora da Alemanha. A última tentativa, uns cinco anos atrás mais ou menos, até que fez certo barulho por uns meses, mas depois a história voltou ao esquecimento.

Inspirado em lendas alemães, é um livro que parece inofensivo e infantil à primeira vista, assim como O Labirinto do Fauno, As Crônicas de Nárnia, Coraline ou Alice No País das Marailhas. Mas quando analisamos a história mais profundamente, há elementos e conflitos bem adultos.

O protagonista, o mesmo do título, é um rapaz de, inicialmente, catorze anos. Órfão e sem ninguém pra recorrer, acaba virando pedinte e passa anos por aí, na rua. Ora dormindo em estábulos, ora na sarjeta mesmo, ele e seus amigos se viram do jeito que podem. Mas a vida de Krabat muda quando, por três dias seguidos, ele escuta corvos em seus sonhos, mandando-o procurar o Moinho. Depois de relutar, resolve seguir o conselho e chega num lugar onde há abrigo e comida farta. Mas o Moinho não é um lugar inofensivo, e logo se descobre que o local é, na verdade, uma escola de magia negra. E todo o ano o Feiticeiro, um homem misterioso, sem um olho, e que precisa de alguém para quem passar a tarefa, exige que uma das crianças seja morta, pra dar lugar à outra.

Logo temos traição, assassinato e sacrifício humano e magia negra numa história pra crianças. Isso sem falar que as crianças, todas entre doze ou dezessete anos, são obrigadas a construir seu próprio caixão. Perfeito pra grade horária do Discovery Kids, não?

Enfim, apesar de todos esses elementos, o livro é incrivelmente sutil, quase meigo. Cada personagem é único. Chega a ser bem clichê como as personalidades se encaixam, mas é isso que traz a história pro mundo infantil. Krabat é explosivo, heróico, uma criança honesta com uma infância difícil. Seus dois melhores amigos, Tonda e Juro, são extremos opostos. Enquanto o primeiro é maduro, sombrio, com ares de velho sábio, o outro, incrivelmente manipulador (Apesar de bem intencionado), é tido como um bobalhão desastrado e inofensivo – o que, inteligentemente, garante sua sobrevivência ao sacrifício todo ano. E, mesmo com tanta escuridão, tantos temas pesados, há amizade e descoberta do primeiro amor. Também vemos traquinagens e brincadeiras, e até mesmo as brigas mais feias sendo resolvidas. Afinal, não existe um par de crianças no mundo que consiga ficar puto um com outro por mais de meia hora.

É o tipo de conto que se ouve da boca dos amigos, quando se quer ter uma boa história de terror, ou dos pais, quando se enche tanto o saco que eles são obrigados a te assustar pra ver se você fica quieto.

Enfim, é realmente uma pena a falta de sucesso e recomendo muito pra quem curte uma história de terror disfarçada de cantiga de ninar. Garanto que vai encantar gente de todas as idades.

Krabat


Krabat
Ano de Edição: 1972
Autor: Otfried Preussler
Número de Páginas: 258
Editora: Martins Fontes

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