Hora de ser chato

Música quarta-feira, 09 de janeiro de 2013

As pessoas mais próximas de mim, como minha namorada e meus amigos, freqüentemente dizem que eu sou chato. E eu sou, eu acho. Passei a acreditar. Só que felizmente para todos nós, não sou um daqueles chatos que falam na hora errada, cutucam os outros, são mal-educados, incomodam, não. Eu sou o chato da crítica. Aquele cara que volta e meia precisa se importar com os detalhes que todo mundo relevou. É incontrolável. E essa minha característica, esse detalhismo, tem seu exponencial na música. E é disso que eu falarei no primeiro texto do ano. Vem comigo…

Eu me firmo na crença de que, pra fazer música, você precisa ter um nível razoável de sensatez. Isso significa também saber reconhecer seus próprios defeitos. Um dos motivos para que até hoje eu não tenha formado uma banda é por saber que eu provavelmente não faria a coisa do jeito que eu quero. Preciso melhorar na guitarra, aprender a cantar direito. Eu imagino a situação de um jeito e trabalho para chegar lá; é simples, se o público não veio ver merda, eu não posso apresentar merda para ele. A não ser, é claro, que o público goste de merda, e nesse caso ele pode se foder, por que eu não tenho interesse nele. Enfim. Outro dia eu vi uma banda que se dizia Ramones cover. Recentemente eu falei aqui de Ramones, e eu conheço um pouco sobre eles. Ironicamente, é uma das bandas mais subestimadas da história. Aproxidamente gente para caralho, inclusive quem gosta e se propõe a fazer uma banda cover deles, acha que é a coisa mais fácil de fazer. “A gente pega uma guitarra, bate uns acordes em quinta e canta um arremedo da letra e tá tudo bem”. Não, demente, não tá tudo bem. E a banda supracitada fez exatamente isso aí, e pior, se diz cover. Olha, eu sei que ninguém é obrigado a saber inglês, sei que é difícil, sei que nem todo mundo consegue ultrapassar as barreiras da pronúncia. Diabos, eu dou aula pra essa gente, eu vejo os alunos errarem e eu sou pago para tirar esse escosto deles. Mas mesmo assim, não custa nada tentar seguir o original, ou então fazer um esforço pra cantar a letra, mesmo que não consiga pronunciar direito. Escrevam isso: Baixar a voz e fingir que ninguém notou que você não cantou a parte que você não sabe não é uma técnica boa pra fazer sucesso.

 Mas se o Pica-Pau tivesse comunicado à polícia, nada disso teria acontecido.

Pior do que cantar em uma língua que você não conhece direito (E provavelmente nem tentou muito) é tocar o que você não sabe. Como tem um gancho pronto ali, vou falar da tal banda cover de novo. Eu já disse eu repito: Tocar Ramones não é fácil. E se você acha que é, ou você é um guitarrista experiente e com bastante prática ou você é um merda. Como a segunda opção é universalmente a mais comum em bandas de adolescente e afins, o que acontece é vermos surgir uma cascata de sujeitos que acham que tocam guitarra, que acham que tocam baixo e que acham que tocam bateria. E pior: Acham que fazem um puta show. Aí galere, vocês não fazem. Sinceramente, ou a platéia está cheia de bêbados que achariam legal até o Pizurk dançando a macarena, ou é composta de amigos da banda. Ou os dois. Se essa banda que não se esforça muito e se contenta em ter o nível musical de um chimpanzé amestrado tocar pra uma platéia que realmente espera alguma coisa, eles vão acabar saindo pela porta de trás com um tapinha nas costas e uma gorjeta, enquanto alguém que se importa em ser minimamente bom entra no palco. É, é um mundo cão.

Eu entendo que a vontade de ter uma banda é grande, entendo que é pra ser divertido também, mas é bom prezar por uma qualidade mínima em tudo. É essencial para ser levado a sério. Bandas grandes podem até ter começado do nada, tocando mal em clubes pequenos, mas eles eventualmente também notaram que deveriam ser um pouco mais profissionais, se cobrar um pouco mais. E mesmo que você não queira ser profissional, suponho que ninguém gostaria de ser lembrado como alguém que faz cagada. E, só no rock, eu já vi gente fazer cagada musical de todo jeito possível: Tentando cantar Bon Jovi, tentando tocar Lynyrd Skynyrd, tentando fazer solo, tentando atingir notas impossíveis para uma certa voz, etc. Aliás, isso me lembra que é preciso também meditar bastante sobre o que você quer tocar. Dependendo do estilo e da música, a merda pode ser maior.

“Ah, mas Kirk, deixa de ser chato, ninguém precisa se cobrar assim, o negócio é ir lá e fazer de qualquer jeito, é a filosofia do rock, mimimimimi”. Claro, claro. Só se for pra você, cara-pálida. Não se cobra pra melhorar não, hein. Aposto que é assim mesmo que se vence na vida.

Falô aí.

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