Globo e suas duas séries bizarras

Televisão segunda-feira, 24 de junho de 2013

Se alguém me parasse na rua meses atrás dizendo que viu o futuro da televisão e que a Globo ia colocar no ar séries como O Dentista Mascarado e Pé na Cova, além de correr do maluco, eu não ia acreditar. Sério Globo, WTF?

Este texto é puramente fruto da minha incapacidade de entender essas duas séries. Não falo das suas idéias básicas, não, mas de como são feitas, qual o sentido da existência delas. Pé na Cova é aparentemente sobre as desventuras diárias de um cara (Falabella) que tem uma funerária hilariamente (?) entitulada “FUI” e sua família completamente disfuncional, aliás, a vizinhança toda parece ser assim. O Dentista Mascarado, é sobre um dentista (Dã) mal-amado (Adnet) que decide combater o crime na companhia de uma biscate e um protético. Parecem algo que viria de uma comédia nonsense inglesa, tirando os brasileirismos e a putaria (Não sobra muita coisa, eu sei). Na teoria então nem é muito diferente de descrever Mr. Bean como as desventuras de um solteirão infantilizado com poucas habilidades sociais e que sempre faz coisas impróprias, mas engraçadas; ou algum filme do Leslie Nielsen (Que descanse em paz). Aliás, a proposta das duas séries brasileiras parece ser justamente colocar um pé no nonsense e mostrar ao telespectador situações engraçadas com um toque brasileiro. O grande problema, leitor, é que isso não funciona.

Como já apontou logo no início da série nosso caro Jopes, O Dentista Mascarado simplesmente não tem graça. E o interessante é que depois do começo só foi descendo o morrinho até eventualmente dar com os burros n’água e ter uma das piores audiências na cidade de São Paulo pro horário em que é exibida. Os envolvidos com a produção disseram eventualmente (Eu vi o link, mas tô com preguiça de procurar, então confiem em mim) que o povo paulista não entendeu a proposta do baguio. Sinceramente, eu acho que muitos de nós entenderam sim, sendo de SP ou não. O negócio é que a atuação (“Atuação”, digo) do Marcelo Adnet não convenceu. E olha eu até gosto de coisas que ele fez antes. Fora isso, a série quer juntar características de quadrinhos, nonsense e piadas toscas envolvendo brasileirices e trambicagens no sentido mais clichê que encontraram, típico de gente que chama o povo desse país de “tupiniquim”. Tal como compostos químicos úteis, mas que dão merda se colocados juntos (Tipo Coca-cola e Mentos), a série tem ido lentamente pro brejo. Minha opinião, claro, friamente analisada. E foi mal ter feito mais um parágrafo detonando Dentista Mascarado, deve ser quase um meme na internet à essa altura.

Piadas e críticas baconianas à parte, mesmo pro povo, mesmo sem as nossas palavras de redatores antenados da internet, você assiste a série e percebe que tem algo errado. Percebe que um tiro saiu pela culatra. E você percebe isso por uma série de coisas, a dizer, (I) você não ri, (II) você tem vergonha alheia em algumas cenas e (III) as duas anteriores. Não sei bem explicar, não é como o Zorra Total, que é pioneiro em não ter graça. É ruim, mas de um jeito diferente.

Agora, Pé na Cova talvez seja menos contundente. Ou melhor, desperta menos o meus espírito de crítico revoltado da interwebs. Eu diria até que seria uma série simpática. O problema é que, assistindo a série do Falabella por pura curiosidade, tive uma sensação esquisita. Mais ou menos aquilo que você sente quando está no meio de um filme que você alugou pensando que era bom mas que depois dos primeiros quarenta minutos parece estar te implorando pra arranjar algum sentido praquelas cenas, já que o roteirista e o diretor parecem não ter conseguido. Senti isso pela primeira vez assistindo o filme do Spirit (Que é uma bosta, diferente do personagem). A segunda vez foi com Pé na Cova. Na metade do episódio eu me perguntava o que estava acontecendo, apesar de claramente o casamento na igreja da lésbica do bairro com a biscate filha do protagonista ter terminado por algum motivo, mas não consegui determinar por mais que eu me esforçasse. Aliás, pra cada 5 frases de diálogo, de 3 eu falhava em compreender a lógica escondida. Isso acontecia muito com a personagem que é ex-mulher do protagonista, viciada em gin e que mora na mesma casa que ele e sua nova mulher, que tem menos da metade da idade deste; também é bastante comum com os momentos WHAT THE FUCK de um personagem que volta e meia solta pedaços de filosofia antiga que ninguém entende, em completo desacordo com seu aspecto físico e social. Enfim, “sentido” parece ser a palavra aqui, ou falta dele. Agora faço uma pausa e comparo O Dentista Mascarado com Pé na Cova: Uma é nonsense, com sentido tortuoso e vontade de ser maior do que é, enquanto outra simplesmente não se apega a conceitos tão ínfimos quanto sentido e lógica, mesmo que não tenha presunção.

Tamos bem de humor hein? Vida longa e próspera.

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