Gabriela e a novela de macho

Televisão segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Eu freqüento uma loja de quadrinhos, dvds e coisas da “cultura pop” em geral. Apesar de ser uma loja, e possuir uma clientela rotativa, aquele lugar tem um cinturão de freqüentadores que praticamente não compram nada, só sentam e assistem filmes, discutem sobre coisas, passam o tempo. Nesse ponto, é quase um clube fechado. Eu sou parte desse cinturão, desse clube, que orbita o dono da loja e seu balcão. Agora imagine, durante a semana, meia dúzia de caras sérios e trabalhadores, em graus variados de nerdice, falando sobre… O último capítulo da novela.

É a força de Gabriela.

Muitos de vocês podem pensar em fazer piadas, como muitos conhecidos faziam. Podem achar esquisito ou achar perfeitamente normal, como outros. Mas bem, vamos falar a verdade: Ver novela e comentar ela assiduamente por aí tem sido considerado uma característica feminina e foda-se se isso parece machismo. É a realidade. Não que homens não vissem, sempre viram. Mas o comportamento faz toda a diferença. Me lembro da ala masculina da minha família (Inclusive eu) ter visto Roque Santeiro e, se fosse da minha época, eu teria visto Saramandaia, por exemplo. São novelas míticas. Mas, mesmo com essas que marcaram gerações e com homens assistindo, o ato de comentar no dia seguinte, de se importar realmente com o que tava acontecendo sempre foi coisa de mulher. E não neguem, não façam essa cara. Só por que vocês são meninas da nova geração e que assistem Walking Dead, não muda o fato de que suas mães, tias e avós eram e são noveleiras. Duvido que vossos pais e tios andassem por aí falando no bar sobre o capítulo anterior da novela das nove.

 Não gostam de Gabriela? TUDO INVERTIDO E QUENGA.

Pois bem. Aí veio Gabriela. A obra de Jorge Amado já havia sido adaptada décadas atrás para televisão, já tinha virado filme até, acho. E aqui está ela, em nossa época. Todos puderam assistir, e uma onda de sotaque nordestino e histórias de Coronéis invadiram as redes sociais. Mas isso não é bem meu ponto, já que até Avenida Brasil fez isso há poucos dias (E foi chato pra caralho). A minha intenção hoje é analisar o comportamento de nós, homens, perante Gabriela; o porquê dele. E o bom pra mim, que tô escrevendo, é que isso é uma tarefa bem simples e que pode ser explicada em poucas letras:

PEITOS.

Tá, não só peitos. Bundas também. Mulheres em geral. Corpos incríveis. Err… Ah… É, ENFIM, como cês devem ter notado, a versão 2012 de Gabriela tem um apelo sexual imenso. Passa às onze da noite, é um meio termo entre minissérie e novela e tem muita sacanagem. Ou melhor dizendo, mostrou as coisas apenas. Apesar do nível de fodas no horário nobre ter aumentado pra burro, só em Gabriela podíamos ver as moças do Bataclã indo pra cama mesmo, mostrando suas partes íntimas; só lá podíamos ver as teúdas e manteúdas mostrando seus corpos; podíamos ver a própria Juliana Paes mostrando tudo isso. Então, o que quero dizer é que a primeira razão é puramente instintiva. É mulher, e ponto. A segunda razão dos homens se interessarem na história do turco e da gostosa moça bonita do sertão é o machismo. O grau de virilidade mostrado ali é bem alto. Se comunicou diretamente com as partes mais primárias de nossos cérebros, suspeito eu, e nos lembrou de um passado onde a palavra do macho era a lei.

 As moças…

Em contrapartida, também mostrou deturpações visíveis do coronelismo, típicas daquele período histórico. O toque do retrógrado ficava a cargo de certas figuras, como a do homem que espanca a mulher e que para ele isso é um meio de vida; também há a honra lavada com sangue, o famoso “voto do cabresto”, e mais uma porção de frases de efeito que demonstram muito do período e, principalmente, do local onde se passa a história. A idéia de que “mulher é feita pra realizar as vontades do marido”, do Coronel Jesuíno, que estudar deixa a mulher “com idéias”, como rezava Coronel Melque, ou a simples idéia de resolver diferenças políticas na bala, à qual era afeito Coronel Ramiro Bastos (E a grande maioria deles, na verdade). A graça de tudo isso passar nesse nosso ano, na modernidade, é o impacto que causa. A própria frase “venha que eu quero lhe usá”, do Jesuíno, virou meme. Os acontecimentos, mesmo podendo ser conhecidos, por terem saído de um livro escrito há muito, provocavam as mais diversas reações no público.

Enfim, Gabriela foi uma novela de macho. Uma novela com peitos, belas mulheres e, claro, uma boa história. Mexeu com os brios dos homens. Aliás, pessoal, já saiu a Playboy da Leona Cavalli, a Zarolha. E quem quiser lembrar mais bordões e momentos da novela, faça nos comentários. E, bem, Gabriela teve seu último capítulo exibido sexta passada, dia 26 de outubro. Quem quiser ver agora, só esperar o dvd sair.

Agora dá licença que eu vô cagá.

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