Filmes que se passam num único local

Cinema segunda-feira, 04 de julho de 2011

Então, depois de desistir de ir a um cinema tomado por filmes em 3D e Transformers da vida e quase perder as esperanças na humanidade, eis que eu me deparo com um filme que vai totalmente na contramão de tudo isso. Conta uma história sensacional, se passa quase que totalmente dentro de uma sala e ainda me deu a ideia pra esse post. Portanto, aí vai uma lista de filmes legais que não precisam nem sair de dentro de um quarto pra isso (Chupa, Michael Bay!). Ah, curiosos pelo filme que originou isso daqui? Só lá no fim do texto, mwahahaha! Como se alguém se importasse…

Tape – 2001

O Tape (Se tem um título em português, eu não faço ideia) se passa em um quarto de hotel, onde três amigos de escola, Vince (Ethan Hawke), Jon (Robert Sean Leonard) e Amy (Uma Thurman) decidem se reencontrar. E é isso, uma hora e meia de três atores trancados num quarto. Mas incrivelmente tudo funciona muito bem, a exemplo de outros filmes do Richard Linklater, por causa dos diálogos. O que era pra ser apenas uma forma de lembrar dos velhos tempos acaba por se revelar um plano de Vince pra expor algo obscuro que ocorreu entre Jon e Amy nos tempos de escola. Baseado numa peça de teatro, o filme consegue prender por conta do segredo que assombra os personagens e ainda nos mostrar como o passado é suscetível as interpretações pessoais de cada um.

Cubo (Cube) – 1997

Tá, o filme se passa em vários cubos, na verdade. Mas são todos iguais, então tá valendo. Enfim, sete pessoas acordam dentro de um labirinto/prisão no formato de um cubo gigante, formado por cubos menores. Sem ideia de como foram parar lá, eles precisam trabalhar em equipe pra tentar escapar do troço e descobrir que porra é aquela, não necessariamente nessa ordem. Ah, e várias salas dentro da estrutura são armadilhas. Mortais. No decorrer da coisa, a ficção científica é deixada em segundo plano e o foco passa a ser essencialmente o comportamento das pessoas. O que deixa tudo até mais interessante, na verdade. Conforme a situação piora, as convicções e crenças dos personagens são postas a prova, revelando (Que novidade) que os humanos são seus maiores inimigos.

Jogos Mortais (Saw) – 2004

Por mais incrível que isso pareça, no estranho mundo de sete anos atrás, o Jogos Mortais era mais que uma desculpa pra mostrar pessoas morrendo através de armadilhas absurdamente complexas e sangrentas. No primeiro filme da franquia (Que coincidentemente é o de menor orçamento), o médico Lawrence e o fotógrafo Adam acordam acorrentados num banheiro, numa premissa semelhante a d’O Cubo. Sem lembrar de porra nenhuma, eles passam a vasculhar o local, e descobrem que fazem parte de um jogo doentio. Nele, Lawrence precisa matar Adam, ou sua esposa e filha morrerão. Enquanto isso, a polícia caça o responsável por tudo isso, um tal de Jigsaw. Conforme o tempo vai se esgotando, a tensão aumenta obviamente, e boas atuações e um roteiro cheio de reviravoltas garantem um dos melhores filmes de terror da década.

Cães de Aluguel (Reservoir Dogs) – 1992

O primeiro filme do Quentin Tarantino (E segundo melhor, depois do Pulp Fiction) começa com algumas pessoas tomando café da manhã e discutindo amenidades, como o real significado da letra de uma música da Madonna. Tudo vai muito bem e *BAM* corta pro Mr. White dirigindo um carro com o Mr. Orange sangrando no banco de trás depois que um roubo a uma joalheria deu errado. Eles chegam ao galpão onde todos deveriam se encontrar depois do roubo, mas ninguém está lá. A partir daí, os outros sobreviventes do roubo vão chegando e todos tentam descobrir o que diabos deu errado, enquanto a história é contada através de flashbacks e da perspectiva de cada personagem.

A narrativa não linear, os diálogos rápidos, a desconstrução da imagem dos ladrões profissionais, as atuações, porra, tudo nesse filme é genial. E com uma trilha sonora foda pra caralho, como não podia deixar de ser num filme do Tarantino. E sim, eu sei que parte considerável da história se passa fora do galpão, mas porra, olha isso. Não tem como deixar um filme com essa cena fora de lista alguma.

Doze Homens e uma Sentença (12 Angry Men) – 1957

Clássico do Sidney Lumet, no Doze Homens e uma Sentença, doze (Dãã) jurados precisam decidir se um garoto chicano é culpado pelo assassinato de seu pai (E vai para a cadeira elétrica) ou não. Inicialmente, todos estão mais preocupados com seus próprios interesses e julgam-no culpado. Mas um dos jurados (Henry Fonda) não tem certeza absoluta do veredicto e começa a expor suas razões. Com o passar do tempo, mais jurados são convencidos de que o caso está aberto a dúvidas, enquanto outros passam a defender seu ponto de vista cegamente. Graças a construção magistral dos personagens e das atuações impecáveis, o filme alcança uma profundidade incrível, e apenas com com o recurso dos diálogos. O trabalho de câmera também ajuda a nos sentirmos dentro da sala do juri, ora afastando, ora aproximando os jurados. A discussão avança, os preconceitos e concepções dos personagens afloram, e o Sidney Lumet consegue fazer com que realmente nos importemos com a vida do acusado.

Janela Indiscreta (Rear Window) – 1954

Há, claro que o Hitchcock não poderia ficar de fora dessa lista. Aqui, somos trancafiados junto ao fotografo Jeff Jeffries (James Stewart), que quebrou a perna e não pode sair do seu apartamento. Entediado, ele passa a observar os vizinhos. Uma atividade inocente, até que ele começa a suspeitar que um dos vizinhos assassinou a esposa. Como a câmera nunca deixa o apartamento, ficamos presos ao campo de visão de Jeffries, partilhando do seu voyeurismo. Conforme as suspeitas aumentam, o protagonista convence seus amigos do assassinato e acaba por se envolver diretamente na situação. Enquanto isso, o Hitchcock brinca com a nossa posição em frente a seus filmes (Que não deixa de ser a mesma de Jeffries) e ainda arrisca uma discussão sobre a privacidade.

Festim Diabólico (Rope) – 1948

Olha o Hitchcock de novo aí, gente. Agora, o palco é um apartamento, onde dois jovens decidem matar um colega, apenas pra provar que conseguem. Querendo testar a perfeição do crime, eles decidem dar uma festa para os amigos e familiares do falecido, com o corpo ainda escondido no local. Mas um dos convidados, Rupert Cadell (James Stewart, de novo), um antigo mentor dos jovens, passa a desconfiar de algo. Logo, uma batalha de olhares e indiretas entre eles passa a se desenrolar, tudo culmina num final sensacional, e o Mestre do Suspense consegue de novo.

The Man from Earth – 2007

E aí está, o filme que começou tudo isso. Nessa ficção científica de baixíssimo orçamento, o professor John Oldman, se despedindo de seus colegas, acaba por revelar que na verdade tem 14 mil anos. E esse é o argumento, simples e genial. E desenvolvido de forma brilhante e surpreendente. O incrível é que as atuações são meio irregulares, os diálogos não tem nada de mais e o final é meio apressado. O filme se sustenta apenas pela história, e ainda consegue ser sensacional. Parece até um episódio de Além da Imaginação (Até porque o roteirista escreveu alguns episódios da série), uma ficção científica de raiz, uma ficção científica moleque. Um filme fundado numa grande ideia, do jeito que deve ser.

Mas não se enganem, o que deixa o cinema tão foda é justamente a possibilidade de se criar um mundo inteiramente novo utilizando todos os recursos audiovisuais a disposição (Chupa, Lars Von Trier!). O problema é quando um pequeno detalhe, o chamado roteiro, é deixado de fora da equação.

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