A Sombra do Vento (Carlos Ruiz Zafón)

Livros sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Eu confesso que tenho um tremendo pé atrás com essa nova literatura baseada no Oriente Médio ou em Segunda Guerra Mundial, sempre sendo bem-vendida nas livrarias, com as senhorinhas se emocionando enquanto lêem. Os Catadores de Concha é coisa do passado, nada é mais dramático do que O Caçador de Pipas.
De repente veio esse surto de novos escritores, falando sobre nazismo e/ou desgraças na Arábia. E isso tudo é muito chato e muito melodramático. Esse Caçador de Pipas é um dos livros mais Desgracentos que li na vida.

Mas aí começaram a me falar dA Sombra do Vento. Li a primeira página, enquanto esperava as 22 horas pra tomar cerveja e comecei a me interessar. Adoro essas Literaturas que falam sobre Literaturas. Livros falando sobre livros, brincadeiras entre linguagens e isso tudo. Putz, fiquei curioso, peguei o livro emprestado e levei pra casa. Quatro dias depois…

A Sombra do Vento é um livro sobre um livro chamado A Sombra do Vento. Confuso? Na Barcelona pós-Guerra Civil, Daniel acorda ás vésperas de seu aniversário de 11 anos gritando ao perceber que não consegue mais lembrar o rosto de sua mãe morta. Ao acudí-lo, o pai o leva naquela fria manhã, no meio daquela neblina de carvão característica de Barcelona em 1945, ao Cemitério dos Livros Esquecidos. O lugar é uma gigantesca biblioteca, escondida em um casarão, que abriga todos os volumes esquecidos pelo resto do tempo. Livros Mortos.

Ao passear pelos labirintos de prateleiras gigantescas, o garoto instintivamente pousa aos mãos sobre A Sombra do Vento, um esquecido volume do desconhecido autor Julián Carax. A partir daí, começa toda a trama da tentativa de Daniel de desenterrar o passado de Carax e recuperar uma história que começa em 1900…

O mais interessante em A Sombra do Vento é a narrativa. Intrincada, com novos elementos sendo colocados na história o tempo todo, vai e volta no tempo, recuperando aos poucos o passado, a infância e o sumiço de Julián Carax. Numa mistura de gêneros típica do Bacanal do século XXI, o autor brinca com uma cidade cheia de cicatrizes deixadas pela Guerra Civil e a própria idéia de Livros dentro de Livros. Uma passagem em que Daniel descreve A Sombra do Vento parece servir perfeitamente para a obra física:

á medida que avançava, a estrutura do relato fez-me lembrar daquelas bonecas russas que contêm em si mesmas inúmeras miniaturas. Passo a passo, a narrativa se estilhaçava em mil histórias, como se o relato penetrasse numa galeria de espelhos, e sua identidade produzisse dezenas de reflexos díspares e ao mesmo tempo um só.

Sem sentir, enquanto cresce e investiga por conta própria certos passados proibidos, Daniel envolve-se com um ex-anarquista, um Inspetor psicopata e com a estranha figura de Alain Coubert, o homem sem rosto que fuma cigarros feitos com folhas de livros e dedica sua vida a perseguir todos as obras de Julián Carax e queimá-las.
O detalhe? Alain Coubert é o nome de um dos personagens do romance A Sombra do Vento de Carax. O personagem que representa o demônio.

Escrito por Carlos Ruiz Zafón, espanhol nascido em 1964 que vive atualmente em Los Angeles contribuindo para jornais, A Sombra do Vento é um romance de Reconhecimento, Auto-Conhecimento e Conhecimento dos Livros. Porque, no fim, tudo leva ao Rosto da Mãe.

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