Autobahn (Kraftwerk)

Música quarta-feira, 24 de abril de 2013

Antes de começar o tópico propriamente dito, andei lendo os comentários no texto do Higgor, vulgo Loney (Sim, ele é uma pessoa, nunca o vi, mas é) e quero agradecer a todos o carinho que vocês tem pelo Bacon. Agora eu fiquei em dúvida se era pelo alimento ou pelo site, mas enfim, isso fica para outra. Mas para provar que eu amo todos vocês também, vou resenhar um álbum supimpa, desta banda (?) porreta para que todos sejam felizes e se tornem pessoas melhores. Segue ai comigo.

Muito se engana quem acha que música eletrônica é um fenômeno recente e que o Davi Guetá é fodão porque faz umas batidas no computador e todo mundo bota a mão pra cima por conta dele. Bom, meus pequenos, eu tenho pena destas pessoas. Kraftwerk (Usina de força, em alemão) é considerado por muitos, se não o criador, pelo menos o grande precursor da música eletrônica. Formado em 1970, na Alemanha, o grupo revolucionou o mundo com o experimentalismo e sua maneira de trabalhar a música. Deixando de lado a maioria dos instrumentos comuns, os alemães pegaram pesado no uso de sintetizadores, mixagem e voconder. Eles não são vanguardistas apenas pelo uso do material tecnológico para a construção musical, mas também por todo seu experimentalismo. As peças são um misto de rock progressivo com música erudita contemporânea minimalista e claro, a própria pegada dos caras, com suas batidas e sons criados eletronicamente.

Quando eu digo que eles formaram uma vanguarda, eu não digo apenas no campo artístico. Aquilo que eles criaram influenciou culturalmente todas as gerações que vieram depois, para o bem ou para o mal. A dance music, o psy, o trance, e todas essas porcarias surgiram destes caras. Mas surgiram coisas importantes também, como Neu!, que era contemporâneo, mas foi influenciado, o New Order, Joy Division e mais recentemente Radiohead, ou você acha que os caras tiraram o Ok Computer do ar, só porque eles são gênios pra caramba? Se liga ai, né fera? A semente tava lançada lá em 1970.

Autobahn é um disco de 1974, o quarto do grupo, considerado pelos fãs e pela crítica sua obra prima, sendo também o disco de maior sucesso comercial da banda. Afastado um pouco do experimentalismo descontrolado do primeiro álbum, Autobahn é o gérmen da música eletrônica moderna, mas ainda mesclando o uso de instrumentos tradicionais e sintetizadores. O resultado é impressionante. Se as pessoas do começo do século 19 pudessem escutar esta obra Kraftwerk, aposto que falariam que ela é exatamente o que pensavam que seria a música do futuro mais distante, coisas do ano 2000. Sabe aquela coisa de futurismo? Que mescla uma modernidade e inovações tecnológicas criativas e inimagináveis, mas com aquele pé na sua própria época, produzindo uma visão anacrônica do futuro? Então, este disco é exatamente isto, na falta de uma palavra que sintetize esta ideia.

A primeira faixa, homônima, é um colosso de 22:43 minutos. É a única do disco que tem vocais, mesmo que estes sejam minimalista e se repitam ao longo da canção (Lançando ai uma característica da música eletrônica moderna). Porém, a sonoridade é totalmente redonda. Acredito que a ideia dos caras era dar uma noção de movimento, de viagem, no sentido literal da palavra. Autobahn, para quem não sabe, são as rodovias alemãs de altíssima velocidade. As vozes geradas artificialmente, ou moduladas, nãos sei bem, dão aquela ideia que me referi logo, um passado-futuro, onde androides vivem entre as pessoas. Impossível não pensar em filmes como Blade Runner, Os 12 Macacos, Metrópolis e outros. A repetição dos elementos sonoros eletrônicos casados com instrumentos como flautas e violinos dão uma sonoridade única e bem agradável.

Kometenmelodie 1, a segunda faixa, é um pouco sombria, com o sintetizador funcionando em ondas graves de som. Barulhos sinistros acompanham a progressão dos sons graves. Por mais que possa parecer idiota, dá uma sensação de estar em um ambiente perigoso. Trilha sonora perfeita para os casas de fantasma do Mario. É o momento onde a viagem pela estrada fica complicada.

Kometenmelodie 2, que prossegue, volta ao tom da primeira canção, abusando dos recursos eletrônicos, com uma atmosfera mais positiva. Aqui os instrumentos mais tradicionais não aparecem e o sintetizador domina a cena. A viagem pela autobahn volta às boas.

A quarta música, Mitternacht, é uma peça também sombria. Mitternacht significa meia-noite. A música é uma mistura de súplica animalesca e sons noturnos, como pássaros, barulhos de água pingando e o vento entrando pela fresta da janela, formando um assobio sinistro, tudo colocado aos modo que o sintetizador, novamente grave, dê a moldura, compondo uma peça minimalista de terror musical.

Morgenspaziergang, quinta e última faixa, é, em português, caminhada matinal. Exatamente como sugere o título, a música é a trilha sonora para o nascer do dia. Os elementos existentes aqui são exatamente os mesmos que na peça precedente, porém utilizados de outra maneira. Os pássaros se apresentam cantando, não gralhando, a água corre, não pinga; e a brisa assopra, não força a passagem.

A alternância entre momentos sombrios e alegres, entre a luz e a sombra, dão todo um toque de passagem de tempo, talvez de passagem pela estrada (Autobahn), que progride inexorávelmente para altos e baixos, para além do controle. O fim, porém, assim como a última faixa, parece animador, simples e leve, e dá a impressão de que valeu a pena.

Obs.: Não coloquei nenhuma faixa aqui para vocês escutarem porque o álbum é tão hermético que necessita ser ouvido inteiro.

Autobahn – Kraftwerk


Lançamento: 1974
Gênero musical: Eletrônica
Faixas:
1. Autobahn
2. Kometenmelodie 1
3. Kometenmelodie 2
4. Mitternacht
5. Morgenspaziergang

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