Aqui se encontra um texto sobre House

Televisão segunda-feira, 14 de março de 2011

Odeio quando fico com vontade de escrever alguma coisa. Sério. Afinal, eu só fico com vontade de passar um bom tempo na frente de um monitor quando eu realmente acho que o assunto vale a pena. Meu problema aqui é que House é uma série incrivelmente boa, e eu nunca conseguirei escrever um texto à altura. E acho que ninguém conseguirá, mas eu vou tentando. Vale dizer que, pra mim, o seriado é mais que um simples passa tempo: Virou rotina. Eu tô acostumado a passar uma hora por semana acompanhando o caso novo que ninguém consegue diagnosticar, bem como o desenrolar das relações entre os personagens da trama. Se passa uma semana e eu não tenho episódio pra assistir, sinto que tem alguma coisa faltando. E eu tenho razão: Não é como qualquer seriado bosta por aí, com piadas vulgares, risadas gravadas, personagens superficiais. House é um seriado INTELIGENTE; é um seriado sutil, irônico e, acima de tudo, viciante. Especialmente contando com os últimos episódios da sétima temporada – inclusive, se você ainda não chegou ao BombShell (Surpresa Estarrecedora) pense duas vezes antes de ler.

House é House, mas é impossível falar esse nome sem relacioná-lo ao talento de Hugh Laurie. Penso que os criadores da série tiveram cinquenta por cento da culpa de criar um personagem desse naipe. Eles forneceram o potencial, uma direção, um meio. Hugh Laurie foi o responsável por incorporá-lo. E o fez tão bem que é impossível separar os dois. Ele vai morrer eternizado como o doutor ranzinza e narcisista, e eu chamo isso de uma morte honrosa, afinal, há muita gente por aí que morre e teve como o ápice da carreira um papel secundário em Malhação. O cara é maleável. House passou por tantas mudanças – interiores (Como a desintoxicação e o romance com a Cuddy) e exteriores (A troca quase que completa de sua equipe, que, no final, foi mais reformulada que trocada) -, por tantas oscilações de humor e de ponto de vista, e Laurie conseguiu segurar o rojão. A diferença entre os personagens, comparando o início da série e o estado atual, é absurda. Isso é bem diferente de séries cujos personagens não mudam ao decorrer dos anos – nem a própria roupa. Ok, ele não faz só isso. Quem viu o décimo terceiro episódio da sétima temporada sabe do que eu tô falando. Por que caralhos o Tarantino não chamou Laurie pra estrelar Pulp Fiction? Ok, nada contra o Samuel L. Jackson, mas a pergunta que continua sem resposta é: What does Marsellus Wallace looks like? Does he look like a bitch?

A cara na manga do seriado é ter um ator que consegue atuar em qualquer situação. Por isso, quem assiste House com atenção consegue pegar referências de outras séries e filmes, que tão ali, prontos pra serem servidos e degustados. Eu empolgo quando consigo encontrar referências em outras coisas; agora, quando não é só referência, e sim uma PARÓDIA, é prova viva de que o seriado não pode ficar melhor. Ou mais psicodélico.

Não que os outros atores não consigam acompanhar, mas fica claro quem é a estrela do show – que, por sinal, foi motivo de desconfiança por alguns tempos. O show, digo. Quem acompanha desde o início sabe que, após quase morrer, nosso querido Dr. Jekyll teve parte de um músculo da perna removido. Não quis amputar a perna e, depois de sair do risco de morte, começou a sentir dor – e não parou. Ficou (Mais) miserável e não conseguiu mais suportar nem sua própria mulher. Seu único alívio era um remédio – um analgésico – extremo. E ele abraçou a droga, mas abraçou tão forte que começou a consumi-la feito Tic Tac.

A série já começava com um dilema moral: O médico que tem medo da dor. E não só da dor física, mas de se apegar a alguém e sofrer por causa disso. E, em um ponto, o dilema esfriou. House se excedeu, foi parar em uma clínica de reabilitação, pensou em parar de praticar. Tentou arrumar outro hobby, sentiu dor. Não adiantou, o único lugar onde se sente bem é o lugar onde ele é DEUS. No hospital, é claro. Depois da reabilitação, perdi um pouco do meu interesse pela série. Ficou tudo estranho, mas era o caminho pra mostrar House em uma situação comum para qualquer outra pessoa, menos pra ele: Um relacionamento.

A sétima temporada foi marcada pelo relacionamento entre House e Cuddy – e, até agora, tá sendo uma temporada boa. Não deixa nada a desejar perto das outras, muito pelo contrário: É uma temporada com uma temática diferente. Claro, os casos médicos misteriosos continuam brotando, mas o relacionamento dos dois ocupou boa parte das telinhas e foi pro caminho que todos estavam esperando: Acabou. Bom, não todos, mas eu tava prevendo isso faz tempo. Quem assistiu Kill Bill: Volume 2 entendeu rápido, inclusive.

Bill faz um monólogo no final do segundo filme sobre super-heróis e suas identidades secretas. Spider Man é Peter Parker; Bruce Wayne é Batman. Eles são pessoas, porém, ao vestirem seus uniformes, transformam-se em super-heróis. O único que foge à regra é o Super Man. Ao acordar pela manhã, ele não é ninguém menos que o próprio super-herói. Ele nasceu assim, não precisou de nenhuma roupa para existir. E com House é a mesma coisa.

Infinitas coisas podem aparecer no seriado e, por mais que ele mude, ele sempre vai continuar sendo ele mesmo. O próprio relacionamento com a Cuddy mostrou isso: Quando ele acorda pela manhã, ele não é um namorado em primeiro plano e, em segundo, um médico. Ele é um médico com dificuldades de se relacionar com as outras pessoas, sempre pegando atalhos que podem magoar os outros, por preferir a lógica ao sentimentalismo – por mais que ele pareça ter evoluído nas últimas temporadas. E ele se deu conta disso, óbvio. Mas nada que um comprimido ou dois não resolvam.

E se você leu o último parágrafo e concordou, parabéns: Cê é uma besta (Mitológica, ainda por cima). House mudou, não só na sétima temporada, mas em todas as outras. Porém, parece que ninguém consegue ver isso. Ele é egoísta, sínico, sarcástico, todo tipo de adjetivo que vocês quiserem; aos olhos de quem trabalha e convive com ele, suas atitudes parecem insignificantes. Porém, para ele, mudar certas coisas – pequenas coisas, como não usar a escova de dente da namorada – requer um esforço imenso que, infelizmente, ninguém parece reconhecer. E aí ele acorda como alguém sujeito a todos os adjetivos acima, e mais um de brinde: Incompreendido. E isso dói. E nada melhor contra a dor do que Vicodin.

Leia mais em: , , ,

Antes de comentar, tenha em mente que...

...os comentários são de responsabilidade de seus autores, e o Bacon Frito não se responsabiliza por nenhum deles. Se fode ae.

confira

quem?

baconfrito