A Agonia de Uma Longa Espera – O Frete Maldito

Nona Arte quarta-feira, 06 de maio de 2009

O Santhyago começou a falar disso semana passada: o quanto é agoniante esperar por um livro. Ele abordou o assunto sobre a óptica dos lançamentos: aguardar que uma série se complete, ou que um escritor que você adore lance algo novo. Mas, e quando o livro já foi lançado e a espera é a do frete?

Há uns quinze dias finalmente chegou na minha casa a edição definitiva de Watchmen. Linda, intacta, com cheirinho de tinta fresca e o escambau. O problema: demorou quase seis semanas para chegar na minha casa depois de feito o pedido (não, eu não moro no Acre). 100 anos atrás, quando os aviões ainda estavam em fase beta e o transporte era feito por locomotivas que atingiam uma velocidade máxima de 40 Km/h, 6 semanas para entregar qualquer coisa era o mesmo que teleporte. Mas, hoje em dia, temos centenas de vôos diários que vão de qualquer canto a qualquer lugar em no máximo um dia, e, mesmo dirigindo, não se leva mais de uma semana para cruzar o Brasil todo de Norte a Sul.

De certo modo, esperar a chegada de um livro encomendado é MUITO pior que a espera pelo lançamento ou reimpressão de um livro (Sandman pela Conrad? Alguém? Prelúdios e Noturnos, Estação das Brumas e A Casa de Bonecas? Não? Bah…). Durante o processo de entrega, podem ocorrer mil coisas que atrasarão o momento de êxtase no qual o livro, tal qual uma amante virgem ninfomaníaca desenfreada, se abrirá para você. E então, o momento mágico, na qual você romperá a fina membrana de celofane, e o cheiro de papel novo e tinta fresca se espalhará fluidamente pelo ambiente, deixando-o a instantes do momento de prazer no qual toda beleza do mundo se mostrará para você por meio daquelas pernas páginas. Mas, divago.

Enfim, suponhamos que o Seu Francisco, o caminhoneiro que tornou-se o portador e guardião do seu mais novo volume de Preacher, depois de dirigir seis horas sem parar, resolveu parar num barzinho infecto de beira de estrada para jantar. Ele entra no lugar, come um mocotó acompanhado de 8 doses de caninha da roça e volta, intrépido, à sua boléia. Aí, ele cai no sono, capota o caminhão e morre. Que tragédia! Agora, seu livro vai demorar mais outro mês para chegar às suas mãos.

Fora o Seu Francisco (que queime no inferno, cachaceiro maldito!), mil outros obstáculos podem ser colocados no seu caminho pelo Sr. Murphy, tais como estradas problemáticas, aviões atrasados, pneus furados, burocracia e o pitbull do vizinho solto na rua. Além do mais, comprar online não tem a mesma graça de adentrar nos corredores misteriosos de uma livraria, ler algo que lhe interesse antes que o gerente venha rolando na sua direção, e você tenha que se esconder numa fresta minúscula antes que ele role por cima de você por passar lá todo dia para ler e nunca comprar nada. Não há a emoção da exploração, a glória da conquista, o café de graça! Apenas códigos HTML, Java e Flash frios e sem alma.

E, sim, toda essa divagação foi pra dizer que eu não gosto de encomendar livros porque eles demoram a chegar. Parabéns por ter sanidade suficiente para chegar até aqui. Pode ir embora, acabou, é sério.

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