Breve história da música clássica: Classicismo e romantismo

Música sexta-feira, 04 de novembro de 2011

A peregrinação por um mundo melhor começou por e passou por aqui.

Antes de tudo, vamos voltar rapidinho ao barroco tardio e falar do cara que praticamente fechou o estilo e, sendo assim, pavimentou os próximos metros da estrada da música: Antonio Vivaldi.

 Gente ruiva é foda, namoral.

Vivaldi – Padre Ruivo pros íntimos – compôs perto de 800 obras, sendo mais ou menos 50 óperas. Seu trabalho mais famoso é As Quatro Estações, do qual já falei aqui. Filho de barbeiro e dona de casa, enfrentou dificuldades na vida, dignas de filme de dupla sertaneja, e após muita lenga-lenga, o espertinho conseguiu emprego como professor de violino num orfanato feminino. E vocês aí pensando que quem escolhe a batina é otário.

Como vocês já perceberam espero eu que sim, a produção artística nunca evolui de uma hora pra outra, por pura vontade de amadurecimento. A arte é inspirada pelo contexto histórico da época, e evolui num todo, ou seja, nunca há renovação só musical ou literária. E, se vocês prestarem mais um tiquinho de atenção, vão perceber que estamos entrando na época do iluminismo. E o reflexo disso na música é a liberdade. Liberdade de composição, de criação e execução. Menos regras, mais feeling. Não existe mais Bach obcecado, fazendo cálculos matemáticos com partituras porque calculadora era muito mainstream, mas sim Mozart e seus divertimentos e sonatas. Apesar de Vivaldi aparentar ter seus resquícios de liberdade de pensamento, ainda nota-se muitos artefatos barracos nele. Pombas, o cara me vem e compõe uma peça sobre as quatro estações onde realmente existem passarinhos cantando. Só as doze horas asiáticas diárias do barroco podem explicar isso.

Sufocado pela música da época, o compositor terminou a vida na pobreza, chegando ao cúmulo de vender suas partituras por mixaria, pra tentar comprar uma passagem pra Viena na esperança de catar algum patrocinador que ainda investisse nele. Uma pena, o cara era bem gente boa e tal. E era ruivo. Raro. Divago.

A primeira coisa a ser eliminada pelo novo estilo era a tradição. Compôr de um jeito pré-determinado, vendável, ou simplesmente pra agradar algum nobre de ego inflado estava fora de cogitação. A ideia era levar música ao povão, compor ópera carregada de palavrão e sacanagem. Simplificar. Mostrar o outro lado da música, o lado que não conhecia barreiras sociais. No fim, a gente sabe que o mundo não é perfeito e a música acabou dividida entre povão/elite, mas o iluminismo tava contaminando todo mundo e a ideia pelo menos foi boa. Mas chega de Mozart. Os outros dois autores aclamados são Haydn e um certo cara surdo de quem já vou falar.

Favor, escute a música antes de ler o texto, por que, afinal, é uma surpresa!

Ouviu? Podemos continuar?

Olha aí a descontração, a brincadeira com a música. Ela começa suave e de repente a orquestra dá um boom, faz um acorde monstruosamente alto, e segue como se nada tivesse acontecido. O equivalente clássico a um tapa na orelha seguido de um “acorda, vagabundo”. Tá aí, ó, o primeiro grande troll da história. Sir, I respect you.

Depois de Haydn e Mozart, aparece um certo compositor surdo que, tão inspirado pelo espírito libertino da época, resolveu inovar ainda mais e jogou a gente no próximo período. Apesar de seus flertes com o estilo de antes, Beethoven traiu o movimento clássico com a Sinfonia nº 3.

O cara era sentimental. O que pecava no clássico, pra ele, era o fervor, a vontade de divertir. Mozart, por exemplo, era um fanfarrão que se amarrava numa jogatina, e suas músicas acabam por refletir isso. As pessoas estavam sendo felizes, o que era um absurdo, e temos aí o primeiro emo romântico. Beethoven tinha sentimento, mas cada música parece recheada de uma agonia que surge no âmago do ser.

Beethoven abriu certas portas. Todo mundo agora podia escrever o que quisesse, da forma como bem entendesse e ai de quem reclamasse. No classicismo, tudo foi muito animado e felizinho, tava na hora de pôr ordem na casa e mostrar a dor, a agonia intensa, sempre descrita em cada acorde de Beethoven. Consigo imaginá-lo gritando “Sonata é o meu pau de peruca! Aliás, de peruca nada, sonata é só o caralho e aquilo na cabeça é coisa de viadinho!”, enquanto vários compositores, de olhos marejados, observam-no e pensam que finalmente podem ser felizes. Tchaikovsky finalmente poderia olhar nos olhos dos pais e dizer que dane-se, ele vai escrever balé e não liga pro que eles pudessem pensar!

Depois do Lago dos Cisnes, o Quebra-Nozes e a Bela Adormecida foram escritas por Tchaikovsky. Diz aí se esse não era um menino de ouro? Tudo bem, as sinfonias dele tratam sobre desespero e destino, mas, pra mim, ele se soltava verdadeiramente no balé.

Enfim, existem mais outros quinhentos autores românticos (Strauss, que compunha somente valsas, é um deles), mas realmente expressivos estão esses aí. Semana que vem volto com a última escada da música que considero clássica, e seguiremos para a modernidade em um último texto. See ya!

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