5 (ótimas) músicas que ensinam o que é surf rock

Música sexta-feira, 06 de dezembro de 2013

Surf rock é uma das minhas vertentes preferidas do rock, desde a primeira vez que ouvi. E eu nunca surfei, até por que na cidade onde eu moro há quinze anos não tem praia e eu também acho que ia ser difícil surfar fumando. Vício, nunca entrem nessa, crianças. Mas enfim, mesmo sem acesso a praias e mesmo sendo tão esportivo quanto um coqueiro em dia de chuva, eu ainda valorizo muito toda banda boa de surf rock que encontro. E é por isso que agora vos apresento cinco músicas que fazem qualquer cidadão com juízo se render ao lado surfista da força. Vem comigo, direto para o quinto lugar…

5 – Hawaii, por The Beach Boys

Hawaii não é a música mais incrível do clássico quinteto, mas é a mais óbvia música sobre surf que eu conheço deles, e talvez de todas as bandas. São basicamente dois minutos inteiros repetindo que o quinquagésimo estado americano é o único paraíso do surf, pra onde o vocalista vai e quer que todo o universo vá junto. Veja do início, e imagine o coro coordenado dos jovens meninos da praia:

Você quer… ir direto… para o…

Havaí! Havaí! (Havaí, Havaí) / Direto para o Havaí (Havaí, Havaí) / Oh, você quer vir comigo? (Honolulu, Waikiki, você quer vir comigo?)

E depois:

Eu ouvi sobre todas as menina bonitas / Com suas saias de plantas indo até o joelho / Toda a minha vida eu quis ver / A ilha chamada Havaí

(refrão)

Agora, eu não sei de que cidade você é / Mas não me diga que ela tem ondas maiores / Pois todo mundo que foi (Pro Havaí) / Voltou só com elogios

Sim, o Havaí é foda. O Havaí é lindo. O Havaí é o Havaí. Ondas. Mulheres. Ondas. Havaí. Mulheres. Ondas… É, então, enfim. Você entenderam. E vejam só, eu disse que essa é a música mais obviamente sobre surf que eu conheço, mas talvez você não tenham entendido a profundidade disso. Os Beach Boys têm músicas com nomes como Surfin’ Safari, Surfin’, Surfin’ USA, Surf Jam, e afins, fazendo com que escolher qual delas fala mais do assunto do que as outras e como, sei lá, tentar saber qual redator do Bacon levou mais broncas do Pizurk [Nota do editor: Essa é fácil, o que tá a mais tempo no site]. Mas nem todas as músicas desse molhado gênero são assim tão cheias de palavras. Na verdade, os Beach Boys são uma exceção: O surf rock é muito conhecido pelas músicas puramente instrumentais. É o caso do nosso próximo lugar na lista…

4 – Man of Mystery, por The Shadows

The Shadows foi uma banda britânica, formada em 1958, que liderava as paradas de sucesso na terra da Rainha cinco anos antes dos Beatles aparecerem e acabarem com a festa. Como deve ser fácil imaginar, o Reino Unido não é exatamente o primeiro lugar do qual você lembra quando pensa em surf, apesar de ser uma ilha. Assim, The Shadows não é exatamente a primeira banda que vem na cabeça quando pensamos em surf. Acontece que, apesar de contemporâneos, Shadows e Beach Boys não estavam no mesmo nicho. Enquanto estes últimos faziam uma música inocente e claramente identificada com os padrões adolescentes americanos sobre surfar na Califórnia e conseguir menininhas pra dar a mão e caminhar na areia, os britânicos não compactuavam com isso e eram mais da linha galãs-semi-bad boys, pelo menos visualmente. Na música, o som dos Shadows e suas guitarras agudas e cravejadas de reverb os fez ganhar o rótulo de “surf music” nos Estados Unidos. Passaram pra história como uma coisa nova: Um som que remetia ao surf rock – mais adulto e sério -, mas que nos temas e no visual é apenas BADASS. O resultado você podem ver na música acima, uma das minhas preferidas deles, e outras como Apache, Find Me a Golden Street e até um raro cover de Aquarela do Brasil, chamado só de Brazil.

3 – Hawaii 5-0, por The Ventures

Você não sabe quem são os Ventures? Pena. Mesmo. Espera, não sabe o que é Havaí 5-0 também? Porra, assim cê quebra a banca, cara. Mas nada tema, com o Kirk não há problema: Você pode matar sua curiosidade aqui e aqui. Vai lá, não fica com preguiça de ler, porra. Eu espero.

Bem, se você ficou com preguiça, seu vagabundo já leu, então agora sabe que The Ventures foi uma banda formada em 1958 e que eles são praticamente os avós do surf rock. Na verdade, são avós de bandas e músicos pra cacete, surf ou não, mas isso tá lá no texto do link. E Havaí 5-0 foi uma das maiores séries de TV da história. Literalmente, ela teve 12 temporadas. E se passava, ADIVINHEM, sim, no Havaí. Mas acontece que, logo depois do início da série e talvez em uma das maiores jogadas de marketing envolvendo televisão e música, os Ventures gravaram um cover da abertura da série e o resultado está no vídeo ali em cima. E eles criaram um monstro, por que hoje em dia pouca gente se lembra de Havaí 5-0, mas a música ainda é tocada por muitas big bands e bandas de casamento. Sério, dá uma procurada no YouTube.

2 – Wipe Out, por The Surfaris

Mesmo que você não ouça surf rock (E esteja lendo esse texto por pura compaixão, eu presumo), é provável que ainda assim você já tenha ouvido essa música. Os covers são inúmeros, incluindo os supracitados Ventures, e isso não acontece por acaso. Lançada em 1963, Wipe Out é uma legítima música sobre surf, que alçou a pequena banda californiana ao sucesso mundial, provavelmente por conter o único solo de bateria da história do rock que não faz a platéia querer se matar. Outro ponto marcante é o início da música, onde se ouve o barulho de algo quebrando (Que deveria parecer uma prancha) e a voz do que parecer ser uma mistura do Mickey Mouse com algum psicopata rindo, e dizendo “Wipe Out”, gíria usada pra descrever um tombo da prancha de surf, especialmente um que pareça ter doído bastante.

Curiosamente, os Surfaris ainda estão na ativa (Desde 62), assim como os Ventures (Desde 58), apesar da maioria dos membros originais das duas bandas já terem morrido ou tomado outros rumos na vida. É, a vida não é fácil pra ninguém. Enfim. Finalmente vamos ver o primeiro lugar, que é…

1 – Surfing In Siberia, por The Red Elvises

Antes de continuar, ouça a música, se puder:

Familiar não é? Vou explicar em um instante. Antes só queria dizer que os Red Elvises são uma das bandas mais inusitadas que eu descobri recentemente. O estilo deles vai desde rockabilly, passando por folk rock e, finalmente, surf rock. A banda foi formada em 1995 por dois russos moradores de Los Angeles, Califórnia, oficialmente transformando os Red Elvises na primeira banda que falava de surf em russo (?). Estranhezas à parte, e apesar de ser uma boa banda, eles só estão aqui no primeiro lugar para representar algo muito maior.

O fato é que Surfing In Siberia é, na verdade, a versão deles, e uma das mais originais que ouvi aliás, daquela que provavelmente é a maior canção da história do surf rock. Portanto, agora eu sou forçado a quebrar o protocolo oficial das listas, e incluir, pela primeira vez, uma entrada extra ANTES do primeiro lugar. É uma menção honrosa, para uma música que foi regravada por grandes como os Beach Boys e The Ventures, já apareceu em centenas de filmes e séries, e é imediatamente reconhecida por qualquer amante da música como um legítimo clássico. Pode parecer clichê, mas ela é a alma do surf rock, gravada por ninguém menos que o pai do estilo. Mas não apenas isso, ela tem uma longa, longa história. Eu estou falando, é claro, de…

Misirlou, por Dick Dale & His Del Tones

E quando eu disse longa história, eu estava falando sério. A Misirlou que conhecemos pela guitarra de Dick Dale, com seus double pickings violentos e melodia contagiante, não é nada além de um cover muito bem feito. O verdadeiro compositor da música, assim como seu país de origem, são desconhecidos. Tudo que sabemos é que foi em algum lugar da Ásia Menor, que corresponde mais ou menos à parte oriental da Turquia. A primeira gravação de Misirlou de que se tem notícia foi a de Tetos Demetriades, em 1927, ainda no estilo folclórico grego rebetiko, mais lenta e com uma letra. Imigrante grego-otomano nos Estados Unidos, foi um dos vários a gravar a canção no início do século passado, tendo depois havido versões em inglês e aos poucos, a música foi sendo ocidentalizada, até chegar mais ou menos na velocidade e cadência que conhecemos. Por isso, a Misirlou moderna, por assim dizer, é geralmente creditada ao músico de jazz greco-americano Nick Roubanis, que a gravou em 1941:

https://www.youtube.com/watch?v=YJXW5WcbJYs

Ainda na sua forma mais antiga, Misirlou dizia o seguinte:

Ah, Misirlou, sua beleza mágica de fada,
vai me enlouquecer, não posso mais aguentar,
ah, irei te roubar da Arábia.

E faz todo o sentido, já que “Misirlou” quer dizer algo como “Egípcia”, especificamente, uma menina ou mulher muçulmana do Egito.

Foi apenas em 1962 que o músico de origem libanesa Richard Anthony Monsour – ou apenas Dick Dale – regravou a antiga canção, que viria a se tornar a pedra fundamental do que hoje conhecemos como surf rock. E o resto é mais história. E, se vocês ouviram a versão de Misirlou dos Red Elvises, podem entender agora por que ela fica tão interessante com seu ritmo claramente exótico, meio turco, meio Ásia Menor. Nada é por acaso por aqui, senhores.

E é isso é tudo pessoal. Vida longa, próspera – e com muito surf, mesmo que seja só nos fones de ouvido.

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