A Partida (Okuribito)

Cinema quinta-feira, 04 de junho de 2009

A Partida conta a história de um violoncelista que volta à cidade natal com a esposa depois que a orquestra onde toca é dissolvida. Lá, começa a trabalhar como funcionário funerário e fica extremamente orgulhoso de sua nova profissão, apesar das críticas dos que o rodeiam.

Infelizmente pouquíssimos leitores vão dar atenção a essa resenha. Existe um gigantesco preconceito com filmes não-americanos aqui no Brasil. Eu mesmo (acostumado apenas com diretores renomados como Kurosawa ou Miyazaki) teria ficado com um pé atrás se tivesse lido a sinopse, mas as únicas informações que tinha era que se tratava de um filme japonês, mais recente vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro(em cima do sensacional Valsa com Bashir).

Quem diria que duas horas depois eu sairia do cinema com o gostinho de ter assistido um dos mais belos da minha vida? Logo de cara somos apresentados ao protagonista Daigo (com quem criamos empatia já nos primeiros minutos de filme) dirigindo em meio a neve e refletindo sobre sua vida. Então voltamos ao passado ao som de Ode à Alegria de Beethoven (minha composição favorita), para alguns momentos depois, acompanharmos o “fim” da carreira de violinista do personagem e seu retorno a sua cidade Natal, ao lado de sua esposa (a carismática Ryoko Hirosue).

A forma como Daigo abraça sua esposa, após seu primeiro ritual, sintetiza a mensagem do filme

Atrás de um novo emprego, Daigo, por acidente, acaba em uma funerária tradicionalíssima (composta apenas por um homem e sua secretária) na qual começa a trabalhar. A partir daí o filme discute temas como o preconceito com a profissão, relacionamentos e a realização de achar um emprego para a vida toda. Mas são nas cerimônias em que se preparam os mortos para “a partida” com seu chefe Ikuei (em uma atuação fantástica do veterano Tsutomo Yamazaki) que a obra mostra o que há de mais belo – a efemeridade de nossas vidas e daqueles que nos cercam. E o quanto na maioria das vezes isso só fica evidenciado na hora da perda. Acompanhamos assim o próprio crescimento do protagonista (e daqueles a sua volta) enquanto vai percebendo a beleza da vida e a preciosidade de cada momento.

Apesar de serem mostrados diversos rituais, é esplendorosa a singularidade com que cada um se comporta

Ouvi comentários de que era um filme lento – mas não vi isso como defeito, a beleza da fotografia, das reações perantes a cerimônias fúnebres e principalmente da trilha sonora é tanta que em nenhum momento eu desejei que o filme acabasse ou “acelerasse”. Estou ciente de que não é um filme para qualquer um, mas acredito que todos que derem uma chance a essa verdadeira obra prima sairão maravilhados do cinema.
Assim como eu.

A Partida

Okuribito (130 minutos – Drama)
Lançamento: Japão, 2008
Direção: Yôjirô Takita
Roteiro: Kundo Koyama
Elenco: Masahiro Motoki, Tsutomu Yamazaki, Ryoko Hirosue, Kimiko Yo, Takashi Sasano, Kazuko Yoshiyuki

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