Homenagem: Dennis Hopper, Easy Rider e a Independência do Cinema

Clássico é Clássico segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dennis Hopper morreu. Como eu sei que vocês são jumentos cinematográficos, tenho certeza que acham que a maior contribuição dele para a 7a arte foi sua atuação em Velocidade Máxima. Então deixa eu esclarecer uma coisa – este homem, ao lado de Peter Fonda, foi responsável por uma obra que poderia ser facilmente considerada um décimo terceiro hiperclássico. Esta obra se chama Sem Destino a.k.a. Easy Rider.

Mas o que essa obra trouxe de tão revolucionária? Seria o primeiro papel marcante de Jack Nicholson? Ou por ter Born to be Wild na trilha sonora? Talvez por ser o pai dos road movies? Não. Estes são apenas alguns “extras” dessa marcante obra.

O real motivo para toda essa celebração sobre Easy Rider é porque foi a primeira obra filmada por hippies!

Tá.
Não é exatamente isso. Mas o motivo é semelhante.

Seguindo a história dos motoqueiros “sem destino”, “Capitão América” (Peter Fonda) e Billy (Hopper), o filme de baixíssimo orçamento (Filmado em grande parte por hippies pessoas que passavam pelas locações) foi um marco para o movimento da contracultura que eclodiu em 1968 (Um ano antes). Os motivos são vários. Seja pela roupa dos protagonistas – um com motivos relacionados à bandeira americana e o segundo com roupas que trazem a ideia dos nativos norte americanos – ou então pelos problemas sociais destacados pela obra, ou ainda pelo fato dos dois, junto com Jack Nicholson, realmente fumarem maconha em frente as câmeras. Alguém poderia dizer que é pelo marcante diálogo que transcrevo abaixo.

– Sabem, este planeta já foi muito bom. Não entendo o que está acontecendo com ele.
– Todos viraram covardes, é isso. Eles têm medo.
– Eles não têm medo de você, mas do que você representa.
– Cara, para eles, só representamos alguém que deveria se comportar melhor!
– Não. O que você representa para eles é liberdade.
– E qual o problema com a liberdade então? Afinal é sobre isso que se trata não é?!
– É verdade, é isso mesmo…
– Mas falar dela e vivê-la são duas coisas diferentes. É difícil ser livre quando se é comprado e vendido no mercado.
– Mas nunca diga a alguém que ele não é livre… Por que ele vai tratar de matar e aleijar para provar a você que ele é.
– Eles falam e falam sem parar de liberdade individual… Mas quando vêem um indivíduo livre, ficam com medo.
– Eu não boto ninguém pra correr de medo.
– Não. É você quem corre perigo.

 Born to be Wild

E muitos falam que é pelo final emblemático. Agora façam essa lição – peguem essas características marcantes, e tentem encaixar uma a uma com a definição de contracultura que eu apresento abaixo, retirada do livro “O que é contracultura” de Carlos Pereira.

“De um lado, o termo contracultura pode se referir ao conjunto de movimentos de rebelião da juventude […] que marcaram os anos 60: O movimento hippie, a música rock, uma certa movimentação nas universidades, viagens de mochila, drogas e assim por diante. […] Trata-se, então, de um fenômeno datado e situado historicamente e que, embora muito próximo de nós, já faz parte do passado”. […] “De outro lado, o mesmo termo pode também se referir a alguma coisa mais geral, mais abstrata, um certo espírito, um certo modo de contestação, de enfrentamento diante da ordem vigente, de caráter profundamente radical e bastante estranho às forças mais tradicionais de oposição a esta mesma ordem dominante. Um tipo de crítica anárquica – esta parece ser a palavra-chave – que, de certa maneira, ‘rompe com as regras do jogo’ em termos de modo de se fazer oposição a uma determinada situação. […] Uma contracultura, entendida assim, reaparece de tempos em tempos, em diferentes épocas e situações, e costuma ter um papel fortemente revigorador da crítica social.”

Já deu para entender o porquê do sucesso da obra, certo?
E se eu dissesse que esse é apenas um lado da moeda? Que o grande motivo da “endeusificação” dessa obra foi pelo significado que o sucesso dela obra teve para todos os apaixonados por cinema no globo? Sem Destino foi o chute inicial para todos os filmes independentes. Foi pra mostrar que você não precisa trabalhar com um estúdio para conseguir lançar um sucesso. Citando Glauber Rocha, agora realmente bastava “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. O cinema passou a absorver um contingente muito maior de realizadores – deixando de ser algo restrito aos grandes da indústria. Claro que nunca vai se tornar uma forma de arte tão acessível quanto a pintura, a música ou a escultura, mas deu um passo em direção a isso. A ideia de que todo mundo tem o direito de ser filmado, de Walter Benjamin, realmente começou a fazer sentido.
Se hoje vemos o império do youtube, onde qualquer um pode deixar suas produções caseiras ao alcance de todos, pode ter certeza que isso é só mais um passo da “popularização da imagem” em que Easy Rider teve papel fundamental. Então, seus putos, quando aparecer a imagem de Hopper na cerimônia do Oscar do ano que vem, encham os pulmões e digam: “Obrigado”.

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