“TOP 100 FILMES BACON FRITO” 40 – 36

Cinema segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

40) A Felicidade não se Compra

(Frank Capra, 1946)

Pedro: Um dos poucos filmes dessa lista que eu posso garantir que jamais será superado naquilo que se propõe. A Felicidade não se Compra é O filme sobre o Natal, e se tornou tão tradicional quanto a ceia e a Simone cantando “Então é Natal!”. E a obra tem méritos de sobra – uma história simples e que não envelhece, personagens carismáticos (com uma atuação lendária de James Stewart) e uma direção na medida.

Uiara: Ganhador do Globo de Ouro de 1947, A felicidade não se compra é o único filme decente sobre natal já feito. Provavelmente porque todos os outros são cópias mal feitas dele. Prepare o inseticida e não estranhe a quantidade de formigas se aproximando da sua tela: é um filme doce. Até demais, talvez. Mas ao invés de vestir sua roupa de grinch, veja o filme pelo lado do otimismo e da fantasia. Esse sim foi o objetivo de Frank Capra.

Veredito Final:
PA diz:
Eu não sou fã de feriados católicos, como vocês podem imaginar, mas se existe uma coisa boa no Natal (além da ceia) é assistir A Felicidade Não se Compra
Uiara diz:
a primeira vista parece um filme mela-cueca e, pasmem, a segunda também. Ainda assim, e talvez exatamente por isso, é um filme adorável. Desses que te faz pensar no final que a vida que você tem é pra lá de boa.
PA diz:
É o tipo do filme que não envelhece e não enjoa – e que por mais que a mensagem seja “doce” demais e otimista demais – o filme é tão legal que você leva numa boa.
E cáspita – James Stewart nasceu para aquele papel.

Uiara diz:
James Stewart fazendo o cara bacana apesar de torto dos filmes do Hitch fora de um filme do gordinho

39) Closer – Perto demais

(Mike Nichols, 2004)

Pedro: Ao falar de Alta Fidelidade comentei o quanto é difícil encontrar um filme sincero sobre relacionamentos. Closer é possivelmente o melhor deles. Contando com um elenco estrelado (no qual os coadjuvantes de peso, Clive Owen e Natalie Portman, roubam a cena), o filme acerta ao não apelar para clichês românticos ou exigências morais. Afinal, se o “felizes para sempre” não existe na vida real, por que deveria ser diferente na ficção?

Uiara: Apesar da Julia Roberts, é o melhor e mais verdadeiro filme sobre relacionamentos na atualidade. A essa altura do campeonato todos já devem ter percebido que luzes não se acendem ao fundo de um beijo, nem a música aumenta. A verdade universal é que, depois de ser profundamente feliz por um momento, cedo ou tarde uma (ou duas) das partes de um casal deixa de amar e segue com a vida. É simples assim. Sim, meus romantiquinhos, PODE acontecer um “feliz para sempre” ocasional, mas isso tá longe de ser a regra. Olhando de perto, tem muito mais frases duras em rostos limpos, poligamia e Damien Rice do que no ideal da comédia romântica. É um filme lotado de lições em forma de quotes.

Veredito Final:
Uiara diz:
na minha opinião, o filme mais verdadeiro sobre relacionamentos já produzido. É fato conhecido que na vida amorosa que qualquer pessoa sadia do século XXI a fila anda rápido, às vezes se atropela e muitas vezes se transforma em círculo
E todos os personagens do filme lidam tão mal com isso quanto deve ser, ainda que todo mundo se mantenha na maior educação. Ou cinismo, que seja.

PA diz:
E não adianta ficar romantizando achando que o mundo é cor de rosa e acontece como nas comédias românticas. Não é a toa que a gente vive metendo o pau em personagens como o protagonista do filme (500) Dias com Ela – ali está o arquétipo do garoto criado a ovomaltine com pêra e não entendeu “como as coisas funcionam”
Cinismo inclusive que é marca registrada dos relacionamentos mal (e bem) acabados

Uiara diz:
é o filme com as falas mais brutais ditas em caras calmas que já vi na vida
E teria o elenco perfeito se não fosse, claro, pela minha amada Julia Roberts

PA diz:
Olha que eu sou uma pessoa que acha a Michelle Rodriguez sex symbol, mas sério, Julia Roberts além de nhé na aparência física, consegue ser canastrona EM TODAS as suas atuações – uma espécie de Bogart sem carisma
Uiara diz:
falando em sex symbol, 9 entre 10 mulheres com quem já falei sobre o filme disse que seria uma ponta feliz do quadrado Jude Law-Natalie Portman-Clive Owen. Esses três juntos são… caham, ótimos.

38) Tubarão

(Steven Spielberg, 1975)

Pedro: Tubarão era um filme que tinha tudo para dar muito errado. Uma história fraquíssima (um peixe devorando pessoas em uma pequena cidade litorânea), uma série de problemas durante as filmagens (para quem não sabe, os robôs viviam quebrando) e um diretor desconhecido. Quem diria que se tornaria o primeiro blockbuster da história e arrecadando a maior bilheteria daquele tempo. O segredo? Omitir (até mesmo pelos problemas técnicos já citados) o “monstro” de forma a criar o maior suspense possível. A maioria dos ataques nada mais é do que ângulos de câmera e uma trilha sonora simplíssima – tudo é sobre o poder da sugestão. E deu tão certo que Spielberg conseguiu falir uma série de estabelecimentos litorâneos nos anos seguintes. Aposto que até hoje você sente um pouco de receio para entrar no mar.

Uiara: Jaws tinha tudo pra ser um desses que é lançado diretamente em DVD vídeo e rapidamente esquecido: um diretor pouco conhecido até então (como o elenco, com exceções), cenas de terror toscas (com um tubarão mecânico que falhava constantemente), e era a adaptação de um livro. O que aconteceu então? Edição. É aí que todo o lixo cenográfico é mandado embora e o som é adicionado corretamente. O próprio Spielberg assumiu que a trilha sonora de John Williams é o responsável por metade do sucesso do filme. E não por acaso, convenhamos. Quem não se lembra daquele “tam tam tam tam tam” infernal? Uma edição memorável, junto com a melhor propaganda já inventada – a boca-a-boca – fez desse filme um dos thrillers mais celebrados de todos os tempos.

Veredito Final:
Uiara diz:
tem a música tema mais assustadora de todos os tempos, mesmo que ainda tenha gente que não saiba associá-la ao filme
PA diz:
Tem o melhor trabalho de edição da história do cinema.
Aliás, eu consigo imaginar quando o filme deveria estar PÉSSIMO antes de passar pela pós-produção
Com um tubarão quebrado e todos os problemas de praxe de um filme na água… só uma edição e uma trilha sonora para transformar aquilo em um dos filmes mais assustadores da história
E consegue.

Uiara diz:
mesmo que o “vilão” da história praticamente não apareça, faz qualquer um dar uma olhada desconfiada pro mar caso resolva ir pra praia logo depois de ver o filme
PA diz:
E quando o cinema excede as telonas é porque não se trata de um filme comum.

37) O Auto da Compadecida

(Guel Arraes, 2000)

Pedro: Filmes brasileiros ou são sinônimos de miséria ou de violência ou de comédias utilizando atores globais. E fazendo uma inusitada e extraordinária junção entre duas dessas “características”, Guel Arraes conseguiu tal sucesso com sua minissérie, que não a toa foi condensada em um filme para os cinemas. Com um elenco inspiradíssimo e algumas das melhores cenas de humor já produzidas em território nacional, O Auto da Compadecida merece sim o posto de “um dos melhores filmes brasileiros já feitos”.

Uiara: Imagine o texto perfeito. Ela já está lá, escrito em forma de roteiro pro teatro. A história é simples e os personagens são facilmente identificáveis. Os diálogos são gritantemente engraçados, já que não passam por nenhum estupro de tradutor. O folclore é nosso, você não tem que ir a Wikipedia pesquisar. Agora imagine atores consagrados que mostram que não foram estragados pela maior rede de TV do nosso Brasil Varonil. O resultado é o Auto da Compadecida.

Veredito Final:
PA diz:
Quando eu fui ao cinema assistir ao filme, eu ainda não era cinéfilo – e nem tinha conhecimento da série de TV. Acho que foi um dos filmes que eu mais ri na minha vida.
Uiara diz:
a primeira vez que vi esse filme foi logo depois de eu ter feito uma adaptação dele na escola. Achei que não fosse possível, mas foi a primeira vez que vi atores encarnarem com tanta propriedade o que eu tinha imaginado
PA diz:
E é um filme em que a violência “não é tão dura”, que a crítica social não é retratada de forma dramática, com zero apelo sexual… – é o tipo da obra que consegue ser fantástica sem ser apelativa EM NENHUM momento.
Uiara diz:
e consegue retratar bem como seria um herói nordestino: que dá jeito em tudo com aquele belo jeitinho brasileiro e dá risada da miséria, de Jesus e do Diabo.
é possível que seja o filme que mais vi na vida, e que eu sei de cor palavra por palavra

36) O Silêncio dos Inocentes

(Jonathan Demme, 1991)

Pedro: Quando o cinema já parecia incapaz de criar vilões a altura de Darth Vader, Jack Torrance e Norman Bates, Anthony Hopkins chuta o balde e nos traz simplesmente o melhor: Hannibal Lecter. Sua interpretação visceral fez com que o ator levasse o Oscar de melhor ator com apenas 16 minutos em cena (recorde até hoje). Não bastasse isso, o filme não deixou ser carregado por apenas um ator e fez o dever de casa – levando merecidamente o Grande Slam da academia.

Uiara: Custo a acreditar que o espaço de tempo que Anthony Hopkins passou na tela durante O Silêncio dos Inocentes tenha sido tão curto. Sempre que penso no filme posso ver aquele senhor educado, em tons de lorde, rindo do sotaque de Clarice. Exatamente por fugir do estigma de vilão é que Hannibal se torna o pior de todos os vilões.

Veredito Final:
Uiara diz:
não importa quantas vezes eu veja esse filme, sempre me arrepio na primeira vez que o homem diz “Clarice”. Aquilo sim é vilão.
PA diz:
É simplesmente O vilão do cinema. Unindo a voracidade de um canibal a educação de um gentleman. Causando medo e admiração mesmo atrás de grades.
Uiara diz:
eu tiro o meu chapéu pro Anthony Hopkins por conseguir transformar um homem de uma crueldade inimaginável num senhor sedutor
PA diz:
Aproveitando o espaço apropriado pra mandar o Théo ir a merda por falar bem do novo “Hannibal”
Uiara diz:
eu não colocaria de forma melhor

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