Rock and Roll: Seis Décadas (Parte 2 – Anos 60)

Música terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Em 1959, havia um sentimento de marasmo no rock and roll nos Estados Unidos. Como eu disse no texto anterior, um acidente aéreo matou três grandes nomes daquela década. Em contraste com os anos 50, o começo dos 60 foi dominado por “grupos vocais”, principalmente de mulheres negras. Eram grupos comportados, com vocais limpos e músicas compostas basicamente por produtores (Qualquer semelhança com o presente NÃO é mera coincidência). A música Baby I Love You, regravada pelos Ramones, mais de dez anos mais tarde, pertence a um grupo feminino que exemplifica esse período, The Ronettes.

O Surf

O rock não havia desaparecido totalmente, claro. Alguns artistas da década que havia acabado recentemente lançavam hits ainda. Além deles, na Califórnia estava aparecendo algo novo. Um tipo de rock and roll somente instrumental, que veio a ser conhecido como surf rock. Ele teve como pioneiros gente como os Ventures e Duanne Eddy. Mas aquele que praticamente criou esta vertente foi Dick Dale. Ele inventou a maneira de tocar, usou pela primeira vez o reverb, colocou a influência latina nas músicas… Enfim. Ele consolidou o estilo. Assim como Dick Dale e seus Del-Tones, a maioria das bandas de surf rock se formou no sul da Califórnia, incluindo os Bel-Airs, os Challengers e os Chantays. Estes últimos inclusive fizeram outro clássico do surf rock, a música Wipe Out. Com o sucesso dessa nova e uma das primeiras vertentes do rock, bandas seguindo essa linha apareceram em lugares longe da Califórnia, como o estado de Indiana (The Rivieras, do hit gravado pelos Ramones também, California Sun) ou Minnesota (The Trashmen).

O surf rock teve também muito sucesso com bandas que tinham vocais. O principal exemplo disso são os Beach Boys, que se formaram em 1961 no já citado sul da California. Depois deles vieram outras bandas de surf com vocais, mas que não fizeram tanto sucesso. Dentre os poucos que conseguiram subir nas paradas junto com os Beach Boys estão Jan & Dean, mais conhecidos pela música Surf City.

Um grande hit da época: Misirlou

A carreira da maioria das bandas de surf rock foi por água abaixo ou começou a derrapar lá por 1964, com a chegada da assim chamada…

Invasão britânica

Um cara chamado Cliff Richard fez o primeiro hit do rock and roll britânico, Move It. Enquanto nos Estados Unidos o rock se diluía em bandas pop pra mocinhas e baladas, no Reino Unido bandas de rock estavam começando a tocar com a intensidade antes encontrada só na América.

Lá por 1962, haviam algumas bandas já chamando atenção no Reino Unido. Tinha uma banda com um grande número de influências americanas, como soul music, rythm & blues e surf rock. Eram uns tais Beatles. No começo eles interpretavam músicas americanas, para plateia dançar o twist, por exemplo. Na metade daquele mesmo ano mais uma banda, os Rolling Stones, vinha fazer volume no grupo de bandas com influências do blues, como o Animals e os Yardbirds.

 Invasão britânica.

Em 18 de janeiro de 1964, a música I Want To Hold Your Hand, dos Beatles, entrava na lista da Billboard e, 7 semanas depois, estava no topo, onde ficou até totalizar 15 semanas. Isso é considerado o início da invasão. Em fevereiro eles já estavam no Ed Sullivam Show, um programa lendário nos EUA.

Nos dois anos seguintes, outros artistas ingleses tiveram pelo menos um single no topo das paradas, ou fizeram algum sucesso: Manfred Mann, Petula Clark, Freddie and the Dreamers, Wayne Fontana and the Mindbenders, Chad & Jeremy, Peter and Gordon, The Animals, The Kinks, Herman’s Hermits, The Rolling Stones, The Troggs e Donovan.

A invasão britânica ajudou a promover a produção do rock and roll pelo mundo. Nos Estados Unidos, ela significou um grande baque no surf rock intrumental, grupos vocais (Como The Platters) e nos ídolos adolescentes, que dominaram as paradas na década anterior.

Psicodelia, a garagem e outras histórias

Em 1965, havia uma banda chamada 13th Floor Elevators. Essa banda foi a primeira a se chamar de psicodélica. Nesse período, os próprios Beatles colocaram alguns elementos do som psicodélico em suas músicas, como a cítara de Norwegian Wood, ou o feedback na guitarra em I Feel Fine. O estilo de vida desse novo tipo de som já estava se desenvolvendo bastante em São Francisco, na Califórnia, com bandas como Grateful Dad e Jefferson Airplane. Em 1966, dos confins do norte de Londres, surgiam bandas como Pink Floyd e Soft Machine. Em 1967 os Beatles apareciam de novo, metendo o bedelho na psicodelia, ou melhor, mergulhando nela de uma vez, com o álbum Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band; seria melhor ter ficado no iê-iê-iê, era uma fase bem melhor.

Bom, o auge dessa joça drogada toda foi em 1969 com o festival de música Woodstock. Hippies, drogas e viagens. Precisa dizer mais nada.

 Pink Floyd.

Prosseguindo, preciso citar rapidamente o rock de garagem, uma forma de criar bandas que aparece nessa história para diferir da necessidade de ter um estúdio pra se tocar rock. Sabem como é, as pacatas cidades suburbanas, e nas garagens, enquanto cresciam, os garotos arranjavam suas bandas ali mesmo. Muitas vezes era quase rústico, pouco técnico, mas podia ir até chegar perto da qualidade de estúdio. Os primeiros passo desse “faça você mesmo” (Pro inferno, punks. Cuido de vocês na década que vem) foram dados lá no final dos anos 50, e nos anos 60 o negócio floresceu. Um bom exemplo é a música Louie Louie, aquela que NÃO é do Motörhead, mas sim dos Kingsmen, uma notória banda de garagem.

Só uma coisa: rock de garagem não é interpretado por mim como uma vertente do rock. Eu diria que é mais… Uma maneira de fazê-lo. Se é que vocês entenderam. Quero dizer, podia ter bandas de garagem fazendo surf rock, tentando imitar os Beatles, enfim. Aliás, está última opção virou lugar-comum depois da invasão britânica já que os moleques tocando na garagem de casa foram muito influenciados por ela. Lá por 1968 o rock de garagem sumiu, já que a maioria dos músicos amadores estava indo pra faculdade ou trabalho. Outros estilos vieram preencher a lacuna, como o country, progressive e blues rock.

Antes de prosseguir, abro um parêntese e um túnel pro futuro pra falar do pop rock. Esse termo, pop, começou a ser usado na metade dos anos 50 como sinônimo de um gênero separado, direcionado pros jovens, geralmente caracterizado como um rock mais leve. Em 1967, por aí, era sinônimo de algo totalmente divergente do termo rock music, descrevendo não só uma música mais leve, mas também muito mais comercial, acessível e efêmera. Ou seja: Sem profundidade, pra gente comum e feita pra vender. Entenderam onde eu quero chegar? Reflitam. Pra entender o futuro, vejam o passado.

Bem, vamos lá. Porra, que década complicada.

O blues, o sul e o folk

Também é preciso mencionar a ala blues da invasão britânica. Bandas inglesas inspiradas no blues americano, principalmente em Muddy Waters e Lead Belly, se formaram nessa época. Um álbum significante é o Blues Breakers With Eric Clapton, de 1966, um marco inicial do blues rock britânico. O último guitarrista de uma banda dessa leva, chamada The Yardbirds, foi Jimmy Page, que depois formou o New Yardbirds, que virou rapidamente o Led Zeppelin. Muitas músicas do primeiro até o terceiro álbum são inspiradas em canções de blues tradicionais.

Bandas americanas baseadas no blues como Allman Brothers Band, Lynyrd Skynyrd e ZZ Top, dos estados do sul, incorporaram elementos ao seu estilo pra criar o rock sulista. Enquanto isso, bandas como Cream e The Jimi Hendrix Experience iriam caminhar na direção do progressivo e da psicodelia a partir de 1967.

Nos anos 70, o blues rock ficou mais pesado, com mais riffs e as linhas entre blues e hard eram bem tênues. Isso continuou com figuras como George Thorogood e Pat Travers. Mas, particularmente no Reino Unido, muitas bandas começaram a se focar na novidade que era o heavy metal, e o blues rock começou a derrapar.

Se eu não citar o Bob Dylan, vão me bater. Bem, esse cara foi uma figura-chave do chamado folk rock. Ele inovou no começo dos anos 60 porquê tinha o hábito de escrever suas próprias músicas, o que não era lá muito difundido. Fez as músicas de protesto, etc. Apesar de se influenciarem às vezes, rock e folk viviam separados, com públicos divididos. As primeiras tentativas de juntar os dois foi House of The Rising Sun, do Animals, a primeira música folk que teve sucesso quando foi gravada com instrumentação de rock.

Vamos citar ainda outros nomes dessa parte da música: The Mamas and The Papas, Crosby, Stills and Nash, Simon and Garfunkel, etc.

O folk rock teve seu auge em 1967 e 1968, antes de muitos artistas mudarem um pouco de rumo, como Dylan e os Byrds, que começaram a fazer country rock. A junção de folk e rock and roll foi um grande ponto da música, trazendo a idéia de cantor-compositor, músicas de protesto e conceitos de autenticidade.

Pouca gente aqui no Brasil usa o termo, mas roots rock, ou rock das raízes, designa um estilo que deixou de lado as influencias da psicodelia (Ainda bem), e mostrava algo mais básico, que tinha as influências originais do rock, principalmente o country e o folk (Daí o nome). Isso levou à criação do southern e do country rock. Um exemplo de banda de sucesso que seguiu essa volta para o básico foi o Creedence Clearwater Revival, da Califórnia. Pode-se citar também o Eagles.

 Creedence.

Ainda é preciso citar o rock progressivo, que começou do meio dos anos 60 e passou para a década seguinte. Algumas bandas já famosas como Beatles e Beach Boys foram pioneiros no uso de sons “diferentes”, como o de harpas, de vento e variados instrumentos de corda nas suas músicas. Antes do ano-novo de 1969 ainda preciso citar o primeiro álbum do King Crimson, In the Court of the Crimson King, que conta com um enorme uso do mellotron, riffs bizarros e inspiração do jazz e da música sinfônica.

Enfim. Citei vários estilos e bandas e preciso dizer: Essa década não é fácil de descrever. É muita coisa. Preciso também citar outras bandas surgidas nessa década, como Steppenwolf, Black Sabbath, New York Dolls, , The Who e gente como Iggy Pop. De alguns deles ainda vou falar depois do ano-novo de 1969. A partir de agora, muitas coisas vão começar no final dos anos 60 mas só ter seu auge na próxima década. Nos vemos então nos anos 70, em mais um episódio de… Além da imag… Ah, não. Enfim.

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Na primeira foto: Ford Galaxie 500, 1967

Nota do editor: O corno faz o desgosto de escrever um texto que contenha Beatles e não menciona, nem por uma mísera vez, Doors. Vou cortar suas bolas fora, rapá.

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