O Preço do Conteúdo

baconfrito segunda-feira, 25 de maio de 2015

Vocês concordam que informação deve ser valorizada, e, portanto, que dentro de um plano capitalista, esta tenha um preço “físico”, medido em dinheiro? E, de forma mais geral, a arte? A beleza de uma criação (Ainda que não totalmente original), e suas consequências (Tanto derivadas da contemplação quanto de reações à obra inicial) podem ser quantificadas numa moeda, seja qual for?

Ainda que arte seja feita, esta esbarra em processos que podem ser chamados de trabalho. Fazer música, por exemplo: Compor, escolher notas e juntá-las da forma certa, isto é arte. E é arte na hora de gravá-la, não só pela execução da música, mas pela arte da gravação: Uma gravação ruim estraga uma boa música, ao menos no plano físico, no que trata da criação de um registro. E, por fim, há a arte da apresentação, do show, hora de expor a obra, que conta com sua própria arte: Apresentar, ao vivo, para pessoas, requer seu conhecimento técnico e sua dose de arte. Mas o resto é trabalho.

Fazer um álbum, o produto, seja este físico ou digital, é trabalho. Distribuí-lo, colocá-lo à venda, ter campanhas de publicidade, entrevistas com os músicos, assinar coisas para serem sorteadas, tudo isso é trabalho. Para alguns a arte vem em primeiro lugar, para outros o trabalho não é secundário, mas sim primário, uma vez que leva à consequências almejadas: Reconhecimento, fama, dinheiro, fãs. A arte não leva ao ganho (E não me refiro à lucro), mas o trabalho sim.

E ainda que o trabalho de um entre em contato com o trabalho de outro, a arte não invalida ou sobrepõe o trabalho; andam paralelos. Por exemplo, o mesmo músico sendo entrevistado: Há a arte de entrevistar. Na verdade, a arte é a entrevista, o conjunto de perguntas e suas respostas: O ato de perguntar é a ferramenta do artista-entrevistador para criar arte, mas as respostas do músico são apenas trabalho. Sua música é outra arte, que aliás é o tema da arte que está sendo feita. Para que o resultado final seja bom, este depende do músico, mas o músico não faz a arte da entrevista: Esta é obra do entrevistador. E não é porque uma tarefa é bem executada que ela é arte: O nome disso é competência.

Aliás, competência deve ser valorizada? Deve ter preço? Porque, à princípio, um trabalho bem feito é o que se espera de alguém que exerça uma função: Um trabalho bem feito é sua obrigação. Mas, para citar o exemplo mais óbvio, os melhores jogadores de futebol tem tudo que o trabalho oferece. Os aplausos são pelo futebol-arte, mas o resto é por fazer gol. Arte não requer plateia, e auto-recompensa é auto-piedade.

Então, se apenas o trabalho recompensa e a arte não exige testemunhas, como fica a criação? Porque o trabalho e a arte andam juntos (Ao menos quando a segunda é exposta para mais pessoas que os próprios artistas), e é a união de ambos que levará às reações das pessoas. Reação só ocorre a partir da informação, tanto a primária, advinda do trabalho e da arte, quanto da secundária, gerada pela interpretação da obra e do esforço (E que é individual). Em outras palavras, o preço seria definido como um salário com comissão: Uma base, indicada pelo custo do trabalho, e a comissão, determinada individualmente pelo que a arte causou ao consumidor.

con-su-mi-dor

1 – Que consome; que causa consumição.
2 – Quem compra para gastar em uso próprio.

con-su-mir

1 – Fazer desaparecer pelo uso ou gasto.
2 – Gastar; devorar; destruir.
3 – Corroer; apagar (com o tempo).
4 – Comer; beber.
5 – Dissipar.
6 – [Figurado] Mortificar, ralar.
7 – [Religião católica] Comungar (Falando da hóstia).

Consumidor: Aquele que esgota. Esgotar um trabalho seria utilizar este trabalho o suficiente para suprir uma necessidade. Esgotar a arte seria retirar dela tudo o possível, até não sobrar mais nada aproveitável, segundo sua própria interpretação da mesma. É possível quantificar o quanto custa um trabalho, os processos físicos, “reais”, necessários para criar um produto, mas não é possível quantificar o que a arte faz na vida de ninguém.

É possível quantificar o que realizar um trabalho custa, considerando-se que não se faz nem se consome arte enquanto se trabalha? Juntando tudo então: Informação pode ser quantificada e paga em dinheiro, se é dela que depende a realização de um trabalho e a criação da arte?

Como pôr preço na reação de cada pessoa, e qual preço seria esse?

Produtos têm preços, interpretação não, mas tanto o trabalhador quanto o artista precisam também consumir para que cada um exerça sua função. Qual o melhor, para o trabalho e para a arte: Abrir a carteira ou mantê-la fechada? Porque só a valorização não sustenta ninguém.

Leia mais em: , , , , ,

Antes de comentar, tenha em mente que...

...os comentários são de responsabilidade de seus autores, e o Bacon Frito não se responsabiliza por nenhum deles. Se fode ae.

confira

quem?

baconfrito