Distrito 9 (District 9)

Cinema quinta-feira, 15 de outubro de 2009

 Uma raça extraterrestre que aterrou na terra há 20 anos atrás, vive segregada dos humanos numa área degradada chamada District 9 em Joanesburgo, África do Sul. A Multi-National United (MNU) é a empresa que fica responsável pelo controlo dos alienígenas e pela relocalização da sua população mas tem também outros interesses: tomar posse da biotecnologia dos alienígenas para fabricar um perigoso armamento. A tensão entre humanos e extraterrestres cresce, sobretudo quando Wikus van de Merwe (Sharlto Copley) um operacional da MNU, contrai um vírus contagioso que modifica o seu DNA. Wikus torna-se no homem mais procurado do mundo sendo obrigado a fugir… e sem casa e sem amigos, só tem um lugar onde se esconder: o Distrito 9.

Esqueça E.T.: O extra-terrestre, Contatos Imediatos de Primeiro Grau, Independence Day e qualquer outro filme que fale sobre a chegada de alienígenas no planeta Terra, até hoje, poucas ficções científicas abordaram o assunto com tanta seriedade e realismo quanto Distrito 9. A obra produzida por Peter Jackson e dirigida por Neill Blomkamp aborda a relação entre ETs e humanos em um cenário incomum: uma nave alienígena se encontra “encalhada” na cidade Johanesburgo (África do Sul), restando a seus tripulantes ficarem presos em uma espécie de gueto (clara referência aos anos de Apartheid), aonde já vivem sob péssimas condições há 20 anos. E quando eu falo gueto podem imaginar todos os problemas decorrentes dessa forma precária de habitação: barracos, tráficos de armas e comida de gato (o alimento favorito dos extraterrestres), prostituição interespécies, ações policiais abusivas e até mesmo execuções com fins de bruxaria (pois alguns humanos acreditam que partes dos corpos de extraterrestre são poderosos amuletos). Mas o principal (como não poderia deixar de ser) é o preconceito existente por parte dos humanos (dando lhes inclusive o apelido de “camarões”) e que evidencia uma divisão da opinião pública: Existem movimentos em defesa dos extraterrestres, outros que apoiam sua expulsão do planeta (Inviável por problemas na nave mãe) e ainda o governo que os prende com objetivo de pesquisa. E é durante o remanejo desse gueto para outra área (Longe do contato da população) que acontece a trama.

 “O que acontece, é que por mais absurdo que pareça, para haver o remanejo é necessário coletar a assinatura dos ETs”

Liderando esse movimento de remanejo está Wikus van de Merwe, que logo ganha nossa antipatia, devido ao seu desrespeito e violência para com os alienígenas. Tudo começa a mudar, uma vez que durante essa ação Wikus é contaminado por uma espécie de vírus alienígena. Perseguido pelo governo, o protagonista acaba se deparando com alguns segredos encorbetos pelo próprio, e vê se obrigado a se esconder no gueto. O que poderia soar clichê se desenrola maravilhosamente bem, uma vez que o filme se foca muito mais nos humanos do que nos ETs, fazendo uma crítica poderosa à orgãos como a ONU e, principalmente, a hipocrisia humana – representada pelas mudanças graduais (e este é o grande acerto do filme, uma vez que, ao contrário do que acontece em muitas histórias hollywoodianas, ele não apela para a conversão total e imediata do personagem) da visão de Wikus van de Merwe sobre os alienígenas. Nesse ponto, vale ressaltar que a atuação de Sharlto Copley é uma grata surpresa – digna de receber uma improvável (para não dizer impossível) indicação ao Oscar. Além disso, é impossível não apontar o acerto do roteiro em não demonizar ou santificar nenhum dos dois grupos: praticamente todos são movidos pelos seus interesses, sejam egoístas ou comunitários.

 Agora a porca torce o rabo.

Quanto a turminha dos efeitos especiais e das explosões, vocês não sairão decepcionados. Se a primeira parte do filme preza pelo estilo documentário, a segunda não faz feio frente aos principais filmes de ação desse ano. Outro aspecto técnico que merece se mencionado é a “lindíssima” fotografia do filme, que cria, nos guetos, toda a atmosfera de insalubridade e insegurança necessária para entender a situação daqueles habitantes. E é ao lembrar que toda essa construção (tanto gráfica quanto psicológica) é uma referência à um marco real de nossa história recente, que o filme nos dá um soco no estômago e se afirma como o mais novo clássico do gênero.

Distrito 9

District 9 (112 minutos – Ficção Científica)
Lançamento: EUA/Nova Zelândia, 2009
Direção: Neill Blomkamp
Roteiro: Neill Blomkamp e Terri Tatchell
Elenco: Sharlto Copley, Jason Cope e Nathalie Boltt

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