As Últimas Quatro Coisas (Paul Hoffman)

Livros sexta-feira, 02 de maio de 2014

Não achei que fosse demorar tanto para ler a continuação de A Mão Esquerda de Deus, mas fazer o que? E pra falar a verdade, há várias considerações que não fiz na época e vou ter que fazer agora… Vamos lá.

 Mas a falta de imagens continua…

Então, a história: Os Redentores são uma ordem religiosa extremista que entraram em guerra com um monte de gente através dos séculos, e, para isso, eles precisam de soldados. Soldados esses que chegam à ordem quando crianças e são treinados para as mais diversas coisas. O melhor deles é Thomas Cale, que é especial porque, segundo seu protetor, Redentor Bosco, ele é A Mão Esquerda de Deus, aquele que deve destruir a humanidade para que esta possa florescer novamente. Cale foge d’O Santuário, o principal centro de treinamento dos Redentores, junto de Kleist e Henri Embromador, outros dois acólitos, como ele. Eles vão para Memphis, capital do maior império do mundo, que, por burrice, acaba sendo derrotada e tomada pelos Redentores. E esse é o primeiro livro.

O segundo começa com Cale, novamente sob guarda dos Redentores, indo tomar parte nos seus deveres: Destruir a humanidade. Ele foi traído pelos governadores de Memphis, que, agora é governada pelos Redentores, e separado de seus amigos, que decidem ir ajudá-lo. Sendo mais que só um soldado agora, é claro que a relação de Cale com a coisa toda mudou, mas a base é a mesma: Cabe à ele comandar o exército Redentor contra o resto do mundo. Não vou dizer mais porque não dá pra resumir, mas as coisas mudam bastante.

 Eu falei que continua difícil.

A principal coisa que me chamou atenção em relação ao primeiro livro foi a constante quebra do esperado, ainda que haja vários e vários clichês na história. Em suma, A Mão Esquerda de Deus é interessante porque, mesmo sendo um livro pra adolescentes e tendo todos os elementos para isso, o faz de uma forma diferente. Outro grande ponto é que o livro não se prende à uma situação, ou seja, não é uma história que se arrasta, muito pelo contrário. A situação em que os personagens se encontram mudam várias vezes, tanto que parece que a história se passa em bem menos tempo do que passa realmente: Ambos os livros lidam realmente bem com a mudança em si.

E As Últimas Quatro Coisas começa com mais uma mudança de situação, e várias outras ocorrem, e consequentemente acontece algo que também acontecia no primeiro: As coisas não tem peso. Por exemplo, no primeiro livro Cale perde um dedo numa luta, e há a “resolução” disso, dizendo que o ferimento doía e tal, mas depois, simplesmente não faz diferença. Não faz diferença Cale não ter mais o dedo, não faz diferença como as batalhas são resolvidas, não faz diferença se os personagens são divididos e seguem caminhos diferentes. As situações existem e são resolvidas, mas não tem consequências.

 Se você rir, uma fada morre.

Nesse segundo livro a coisa fica mais esquisita também. Se no primeiro os Redentores eram fanáticos religiosos e pronto, agora a coisa aumenta bastante: Eles tem um tipo de papa, cardeais, dezenas de cargos de poder e tudo mais. A relação com a Igreja Católica é nítida, e estaria tudo bem, se não se misturasse coisas que não fazem sentido: Elementos claramente mais modernos do que seria possível, mistura de locais e países reais com inventados, uma geografia completamente bagunçada… É claro que é uma “Terra alternativa”, mas tudo tem limite, e ao contrário de expandir o universo, apenas o descaracteriza.

Grande parte da graça, entretanto, é apresentada através de coisas novas, ainda que mal explicadas: Kleist, por exemplo, se separa de Henri Embromador e IdrisPukke, sendo que estes dois também se separam. Henri acaba se juntando à Cale novamente e os dois se jutam à IdrisPukke mais para frente, mas Kleist segue seu próprio caminho, um quase que completamente diferente dos outros, e tenho que dizer que o gerenciamento de espaço e o timing gaaaaaaaay que o Paul Hoffman usa para o personagem é realmente bom.

A realidade é que há poucos personagens novos, e nenhum deles me parece tão interessante quanto alguns dos primeiros… Na verdade, mesmo alguns deles já me cansaram um pouco, por estarem alí só para mostrar que ainda terão participação no terceiro livro. Aliás, ou o terceiro vai ser uma grande parte única ou vai ter plot twist de dois em dois capítulos… Já tenho o livro mas ainda não li, a resenha chega em breve.

 Tão ligados que é assim que começa, né?

Este livro tem aquele grande problema que afeta quase que todas as trilogias: Ser o volume do meio. O peso de ter que expandir a história, torná-la mais complicada, apresentar coisas novas e, ainda assim, não revelar demais ou fazer demais para não estragar a parte final cobra seu preço, e normalmente é um preço caro. Eu gostei de As Últimas Quatro Coisas (Aliás, tanto aqui quanto no primeiro, o título do livro é referência à algo praticamente irrisório…), mas se ele fosse o começo da trilogia, e não o meio, acho que não continuaria lendo. Tem coisas legais e boas decisões, mas as coisas ruins pesam mais… Talvez por manter no mesmo estilo que o primeiro, estas fiquem mais evidentes… Agora que reli o primeiro e li o segundo, eu realmente não gosto do estilo do narrador, uma mistura de historiador com narrador onisciente, e quebras (Sem graça) da quarta barreira… Não me lembrava do primeiro assim e gostaria de não lembrar.

Se você leu o primeiro, se gostou do uso dos clichês de forma velada, da dinamicidade (Sim, isso existe) dos acontecimentos e da caracterização (Na falta de palavra melhor) “histórica” da coisa, leia o segundo: Tudo que você vai ter são as mesmas coisas, num nível maior, mas definitivamente não leia o segundo primeiro… O meu grande problema com esse livro é que ele não melhorou em nada as partes boas do primeiro e manteve vários dos mesmos erros: Poderia ser uma subida, mas escolheu a reta. Que venha o terceiro.

As Últimas Quatro Coisas


The Last Four Things
Ano de Edição: 2011
Autor: Paul Hoffman
Número de Páginas: 303
Editora: Suma de Letras

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