A Viagem de Chihiro (Spirited Away)

Bogart é TANGA! terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Você com toda certeza já ouviu falar desse filme. E certamente não quis perder tempo assistindo desenho e deixou pra lá. Acertei? É, cê tem muito o que aprender ainda, tanga. Primeiro, porque A Viagem de Chihiro não é apenas um desenho animado, é O desenho animado. Segundo, que pra você ter ideia, esse foi o único anime até hoje que faturou um Oscar de melhor animação (Não que Oscar signifique qualidade, mas quando se trata de cinema japa eles andaram acertando, vide o também excelente A Partida). Terceiro, se eu tivesse que recomendar esse filme pra alguém, não seria para uma criança, devido às milhares (E as mais fantásticas) mensagens entranhadas no longa que certamente passarão despercebidas aos ranhentinhos.

A história começa com a pequena Chihiro, uma menina de 10 anos, viajando com os pais para sua nova casa. No meio do caminho, porém, seu pai acaba pegando um atalho, o que faz com que se percam. Homens… A estrada, por sua vez, desemboca num estranho túnel e mesmo sob os protestos de Chihiro, o casal decide ver o que há do outro lado. Lá eles encontram uma espécie de parque temático, um pequeno vilarejo, onde um fumegante banquete se espalha por cima dos balcões. Os pais de Chihiro não pensam duas vezes antes de devorar a comida e é aí que o negócio começa a esquentar. Enquanto os dois se empanturram, a garota vai dar uma voltinha e acaba topando com Haku. Sem muita explicação, ele ordena que a menina saia do lugar antes do anoitecer, caso contrário não conseguirá voltar para o mundo dos humanos. Mas ao chamar pelos pais, Chihiro nota que os dois foram transformados em porcos enormes e todas as luzes já estão acesas, anunciando a chegada da noite. Completamente assustada e presa num mundo que nem sabe qual é, ela se vê obrigada a confiar e seguir as instruções de Haku se quiser ter uma chance de voltar pra casa.

Há quem diga que A Viagem de Chihiro tem algo de Alice no País das Maravilhas. Na minha opinião, só se forem as possíveis dorgas usadas pelos autores, já que Lewis Carroll, segundo a lenda, sempre curtiu uma erva. O clima surreal e psicodélico realmente está presente, mas existem mais pontos contrastantes que algo em comum e isso está longe de ser um defeito. A começar pelo desenho em si, onde a técnica do anime nos dá um presentaço visual e afasta totalmente o feijão com arroz da Disney. Poucas vezes vi algo tão bem feito, delicado, bem acabado quanto o excelente trabalho realizado pelo sensacional Hayao Miyazaki e sua equipe. Outro ponto importante é a trilha sonora, que aqui participa de forma mais natural, fechando com as cenas, ao contrário dos 5 minutos de filme seguidos por uma musiquinha cantada que cansamos de ver por aí. Vale lembrar que Chihiro, apesar de inicialmente mimada, possui qualidades infinitamente superiores as de Alice, principalmente no que diz respeito a instinto de sobrevivência (Porra, quem é que enfia a cabeça num buraco atrás de um coelho?). Sem contar a cultura japonesa ricamente retratada, como por exemplo na casa de banhos onde a protagonista tem de trabalhar ou nos próprios gestos dos personagens.

Mas, acima de tudo, a animação consegue juntar um vocabulário bastante simples a situações incrivelmente profundas. É como se cada pequena cena fosse uma evolução na vida da menina, um novo aprendizado. E não se engane, se você tiver entrado de cabeça no filme, também não vai sair ileso. Há aqui o melhor sentido de fábula possível, uma história com uma maravilhosa lição. Tudo isso, sem precisar ser um filme chato ou piegas. A comprovação vem em cenas impactantes, como o banho no Espírito do Rio, primeiro desafio de Chihiro, ou os vômitos do Sem-Face, talvez o personagem mais enigmático da trama. Incrível também a cena onde a bruxa Yubaba tenta intimidar Haku – certeza que me intimidou muito mais do que ele, mas ok.

Talvez imprevisível fosse um dos adjetivos que coubessem ao filme, mas eu prefiro a palavra surpreendente. Acredito que a animação seja o resultado de um trabalho de competência absurda em todos os sentidos, tanto na parte técnica, quanto na parte que diz respeito a arte e relevância social. É o tipo de filme que acrescenta e te faz levantar questões acerca da confiança, do medo, da amizade, da honestidade, da ganância, da caridade, do amor. Tudo isso revestido de uma interessantíssima aura japonesa, com seus monstros, espíritos e personagens carismáticos. Nada aqui é comum aos nossos olhos ocidentais, acostumados aos mastigados filmes americanos, o que ao meu ver, dá um tesão a mais de assistir. A Viagem de Chihiro não peca em nada, nem seus 125 minutos se tornam longos diante de tantos acertos. É um filme completo, diferente, emocionante e que eu recomendo fortemente!

A Viagem de Chihiro

Spirited Away (125 minutos – Fantasia/Aventura)
Lançamento: Japão, 2001
Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki
Elenco: Rumi Hîragi (voz), Miyu Irino (voz) e Mari Natsuki (voz)

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