Guitar Noob

Nerd-O-Matic quinta-feira, 24 de julho de 2008

Falarei hoje de forma complicada e prolongada (já vou avisando antes de lerem o resto) sobre o fenômeno ao qual resisti bravamente por anos, mas que finalmente tomou de assalto minhas horas disponíveis de jogo com a inevitável aquisição do controle em forma de guitarra. Desbravarei os meandros que tornam o jogo em questão um fator de vício incontrolável e a sensação inexplicável de ser um rock star na sala de sua casa. Verificarei os ganchos de jogabilidade que mantêm o jogador médio seguindo até a última música e cansando os dedos com geração de dor concomitante no punho que segura o braço da guitarra. Enfim: vamos ver qualé a do Guitar Hero. Mas antes de mais nada, creio que é importante deixar uma coisa bem clara:

Você parece um retardado quando joga Guitar Hero

É sempre de grande importância manter esta lembrança presente. Porém, não se depreenda disso que jogar Guitar Hero não é causa de alegria e contentamento, já que a sensação de produzir acordes de guitarra sem ter efetivamente o instrumento em mãos é deveras agradável e satisfatória. A emulação de instrumentos que não existem no ambiente pode ser indicada como responsável, por exemplo, pela decadência musical que ocorreu na década de 80, com o advento dos sintetizadores (vide Miles Davis e Serge Gainsbourg). Ah, os sintetizadores… esses instrumentos eletrônicos mágicos que imitavam os instrumentos verdadeiros de forma bizarra e ruim, e que foram usados e abusados na citada década, gerando bandas sofríveis como RPM. Se bem que o Paulo Ricardo comeu a Luciana Vendramini. Então tá tudo pelas ordi.

ÊÊÊ peixão!

Mas eu falava do jogo, e o que sintetizadores têm a ver com Guitar Hero? Convenhamos pimpolhos, a sensação de criar música sem de fato saber tocar porra nenhuma é como se fosse a trapaça máxima do universo; você tem o poder em suas mãos, e com o apertar de alguns botões bem-colocados, VOILÍ!, eis que agora você, nerd débil mental, virou o fucking Tom Slash Vaughan e está tocando “Sweet Child O’Mine” como se isso apenas exigisse uma troca rápida de apertares entre 4 botões coloridos! (Eu só consigo jogar direito no nível médio, não enche). Caralhos, com um pouco de treino você toca até mesmo “Trough The Fires and Flames” do Dragon Force, coisa que deve ser mais difícil na vida real do que comer a Maitê Proença. Mas é claro que você nunca vai fazer nenhum dos dois – afinal, você toca música numa guitarra de prástico na sala de sua casa – então a comparação é inútil.

Voltando ao assunto, chamo sua atenção para o processo de síntese que ocorreu aqui: é como se o sintetizador, que já era um instrumento que sintetizava vários outros instrumentos, tivesse sido sintetizado novamente na porra da fucking guitarra de prástico do Guitar Hero. É um processo de miniaturização e diminuição de botões, com manutenção do número de músicas que podem ser tocadas. Todos se curvem em respeito ao poder dos games e sua inegável capacidade de emular o mundo real com amontoados de prástico. O que, logicamente, não muda o fato de que:

Você parece um retardado quando joga Guitar Hero

Falemos então da guitarra, já que ela veio á tona. É uma guitarra de fucking prástico, um controle normal com menos botões, glamourizado de forma dúbia numa carcaça preta e branca com umas partes coloridas, que, quando empunhada de forma adequada, te faz parecer um retardado:

Você parece um retardado quando joga Guitar Hero

Porém, o amontoado de prástico fake desperta emoções bastante reais. Reais a ponto de fazer seus dedos e punho doerem no fim do dia, deixando também o usuário dos dedos e do punho com uma ligeira dor na nuca, dependendo da quantidade e intensidade do head-banging que você fez ao tocar “No One Knows” doze vezes seguidas pra conseguir 100% naquela música. Maldito Queens of the Stone Age e suas músicas do caralho.

Mas o fato importante é: Guitar Hero desperta sua auto-consciência corporal de você a si mesmo enquanto noob jogador de jogos, colocando para funcionar partes que você nunca tinha levado em consideração antes. Por exemplo, vocês já pensaram na importância do dedo mínimo? Ele é o último dedo de sua mão e, caso você nunca tenha tocado violão ou coçado o ouvido com ele antes, são grandes as chances de que ele esteja pendendo praticamente sem função na sua mão. Se você usa seu dedo mínimo para outras coisas além das que citei, não quero saber. Sério, não cite nos comentários.

Muito bem, em Guitar Hero, ao se passar do nível noob-easy para o nível medium-peso pena acontece a adição de mais uma tecla, que requer o uso do dedo mínimo para que você desempenhe corretamente as músicas. No meu caso, começar a usar o dedo mínimo foi como trazer um morto para o reino dos vivos novamente, já que nunca toquei violão, cocei o ouvido e nem manejei sondas anais com o dedo em questão. É um testemunho real que estou fazendo aqui: eu tinha um dedo inútil que praticamente não era mapeado pelo meu cérebro e nem sentido como fazendo parte do meu corpo, até que fui obrigado a utilizá-lo pra manejar uma guitarra de prástico que me faz parecer um retardado:

Você parece um retardado quando joga Guitar Hero

Mas não pareço retardado só por causa do dedo, claro. O que te transforma num retardado é que você realmente acha que está tocando numa banda, fazendo covers 100% de músicas do cancioneiro popular, como “My Name is Jonas” que eu nunca tinha ouvido mais gorda na minha vida, o que é explicável já que nunca fui muito com a cara de Weezer. Mas parte da alegria está justamente em descobrir riffs e solos divertidos de apertar botão em músicas nunca dantes navegadas. É claro que de vez em quando você tropeça num Fall Out Boy, o que te faz levantar as mãos pro céu e pedir pra um deus que não existe pra fulminar quem fez o setlist de Rock Band, que, de outra forma, teria o setlist mais espetacular de todos os tempos, batendo de longe qualquer jogo da série Guitar Hero.

Fall Out Boy; quem bota uma merda dessas num jogo de tocar guitarra de prástico? Vsf. Continuamos na semana que vem, ainda tenho muitas fotos de retardados tocando Guitar Hero pra vocês verem.

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