John Fante

Livros terça-feira, 21 de junho de 2011

Há livros que precisam ser lidos. Só isso. Todo mundo que já leu Bukowski, principalmente o livro Mulheres, deve-se ter perguntado: Quem é esse John Fante que ele gosta tanto? A primeira frase que li, escrita por ele, dizia: “Eu era novo, passava fome, bebia e tentava ser escritor.” Se todos os livros que passaram pelas minhas mãos começassem assim, seria bom demais. Traduzido por Paulo Leminski apenas em meados dos anos 80, Fante era praticamente um desconhecido. O Brasil demorara 50 anos para descobri-lo. Não fosse a insistência de Charles Bukowski, nem ao menos teríamos o descoberto.

 Por 25 centavos você lia isso! Bons tempos!

Bukowski escreveu no prefácio de Pergunte ao Pó que estava andando pela biblioteca (Ele ia à biblioteca apenas quando não tinha dinheiro pra beber) e no meio de tantos livros chatos e que se acham importantes, ele pegou um e começou a ler e não conseguiu parar mais. Uma história boba sobre um caipira filho de imigrantes italianos que sonhava em ser jogador de beisebol. Mostrava as dificuldades encontradas por ele, sua amizade com um garoto mais rico e sua paixão platônica por uma garota bonita que vivia em sua cidade. Nada demais, não é? O que havia num livro simples como esse, recheado de clichês que atraiu tanto a curiosidade de Bukowski? Basta dizer que era um livro de John Fante. Depois de ler 1933 foi um ano ruim, o velho safado disse que nunca mais foi o mesmo e que o Bukowski que conhecemos não existiria, pois ele nem ao menos teria se tornado um escritor. Fico imaginando se Bukowski tivesse dinheiro naquele dia pra comprar vinho e não tivesse ido a biblioteca, eu não teria lido Pergunte ao Pó e talvez nem Bukowski teria sido Bukowski. Mais tarde, Fante substituiu o protagonista e seus sonhos de jogar beisebol pelo sonho de ser escritor. Fante devia ter sentido vergonha de querer isso para si, pois viver da propria escrita deveria ser vergonhoso para aquela época. Só sei que depois que li Pergunte ao Pó, que me deu vontade de ser escritor de verdade.

Em 1933 foi um ano ruim, vemos o pré Arturo Bandini (O alter ego de Fante) passando poucas e boas. Ao contrário da maioria dos livros escritos até então, nunca se tinha visto alguém tão azarado, tão canhestro, tão fálivel. O personagem não consegue dar uma dentro. Se acovarda, chora, mente, erra. Nos sentimos aflitos pelas suas grandes cagadas. Mas nos identificamos com elas e principalmente com ele. Depois de 1933 foi um ano ruim, Fante lançou Espera pela primavera, Bandini, o cultuado Pergunte ao Pó e Rumo à Los Angeles, em que narra as desventuras de Arturo Bandini, um aspirante a escritor. Lançados nos anos 30 e 40, os livros não trouxeram nenhuma fama a Fante, que seguiu a carreira tão sonhada de escritor de outra forma: Escrevendo roteiros de filmes medianos para a indústria de Hollywood. Fez o roteiro para filmes como Full Of Life, Jeanna Eagels, My Man and I, The Reluctant Saint, Something for a Lonely Man, My Six Loves e Walk On the Wild Side.

 John Fante em sua casa, na California, nos anos 50

Depois que Fante lançou seus livros, nada aconteceu, então ele havia se casado e tido filhos, tinha uma família para sustentar. Foi viver de roteirizar filmes. J. D. Salinger roubou sua cena quando lançou O Apanhador no Campo de Centeio, em 1951, e foi apontado como influência até para os beats, se tornando cult e conhecido mundo afora. Para Fante, restara nada. Apenas a admiração de Bukowski. Em 1955, Fante descobriu que tinha diabetes. A doença o cegou em 1978. Já aposentado, Fante não desistiu de escrever. E antes de morrer, ainda publicou um último livro, cuja tiragem foi bancada por Bukowski. Mas você deve estar se perguntando: ‘Putz meu, como o cara fez pra escrever cego?‘ Fácil: Ele ditou o livro de cabeça para sua esposa. O livro foi Sonhos de Bunker Hill e continua a história de Arturo Bandini, de onde o último havia parado. Incrivelmente, com mais de 30 anos de diferença, é intrigante notar que o estilo da escrita não apenas se manteve, mas melhorou ainda mais. Foi como se Fante nunca tivesse parado de escrever as desventuras de Bandini. Se você quer ser escritor de verdade, pergunte a si mesmo: Você morreria se deixasse de escrever? Eu não morreria, mas também não sei se agüentaria. E foi isso que senti quando li Fante pela primeira vez, assim como Bukowski sentiu. Uma certa mágica.

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