E o Oscar também erra

Cinema quinta-feira, 08 de março de 2012

E o resultado do Oscar 2012 saiu na semana passada faz tempo e muita gente acertou seus palpites (Incrível como qualquer imbecil sempre tem um palpite) e muita gente chiou porque achou injusto esse filme ter ganho e aquele ter perdido. Toda premiação sempre teve e sempre terá suas injustiças. Veja aqui nessa pequena lista alguns dos casos mais notorios que o Oscar também erra e sempre vai errar. E quais foram os campeões do prêmio de mimimi dos anos anteriores.

1941 – Como Era Verde Meu Vale (How Green Was My Valey)

Tem fotografia belissima, o grande John Ford como diretor e um lote de três caixas de lenços para acompanharmos uma melosa história sobre uma aldeia mineira galesa. E olhe que essas são as vantagens. A desvantagem: O ainda ultrajante fato de ter sido o filme que derrotou Cidadão Kane. Precisa de mais que isso?

1952 – O Maior Espetáculo da Terra (The Greatest Show on Earth)

Cecil B. DeMille nos trouxe um filme estrelado por Charlton Heston como um gerente de circo dominado por trapezistas, domadores de leões e um palhaço de olhar triste chamado Buttons (James Stewart). DeMille foi o rei da pompa e dos excessos e aqui ele faz isso com maestria. O filme é longo porém brilhante e muito denso, mas não há um momento honesto nele. É datado, um absurdo de tão piegas. No entanto, de alguma forma conseguiu bater Matar ou Morrer (High Noon).

1956 – Volta ao Mundo em 80 Dias (Around the World in 80 Days)

Não se fazem mais filmes assim. E para isso, todos nós podemos ser gratos a este filme. Elizabeth Taylor e o produtor Mike Todd, que sacou o talão de cheques considerável para atrair o público e fazer deste filme uma das primeiras grandes ações de marketing do cinema (A Miramax agradece). E Assim Caminha a Humanidade (Giant) sobrou na festa daquele ano. Assim como outro grande filme de James Dean, Juventude Transviada (Rebel Without Cause), que nem sequer teve uma indicação e foi sumariamente ignorado.

1964 – My Fair Lady (Minha bela dama, ao menos na sessão da tarde)

Audrey Hepburn era uma grande atriz (Quem não acha, assista Two for the Road). Mas, interpretando a personagem Eliza Doolittle, uma donzela que tem que aprender a ser uma senhora neste musical aparentemente sem vida. Meu deus, como ela estava dura nesse filme. Além disso, ela nem sequer tentou cantar (Foi dublada o filme todo). E assim, Dr. Fantástico (Dr. Strangelove) perdeu o primeiro Oscar merecido que Stanley Kubrick deveria ter ganho.

1966 – O Homem que não vendeu sua alma (A Man for All ­Seasons)

Esta peça de época de muito bom gosto sobre a luta pelo poder entre Henrique VIII e Sir Thomas More com toda certeza é a cura para o que te aflige, querido leitor. Ou seja, se você sofre de insônia, veja. E para um filme sobre Henrique VIII, faltou coxinha suficiente pro ator principal. Eu realmente não consigo entender como preferiram esse desastre a ver Liz Taylor histérica gritando e xingando Richard Burton na adaptação da peça teatral de Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?. Lamental.

1968 – Oliver!

Esse ponto de exclamação no título é a coisa mais emocionante deste musical adaptado do escritor Charles Dickens. As pessoas gostam de se queixar sobre como a Academia é boçal agora, mas esse filme mostra o quão desesperadamente geriátrica e babaca costumava ser antigamente. Os votantes do Oscar daquele ano devem ter desmaiado no cinema vendo esta cavalgada de canto e dança maltrapilha e negar a 2001: Uma Odisséia no Espaço de Stanley Kubrick ou a O Bebê de Rosemary de Roman Polanski ao menos o prazer de ser indicado e perder.

1980 – Gente como a Gente (Ordinary People)

E eis que o diretor Robert Redford aparece e nos mostra profundamente o coração do sonho americano para descobrirmos que ele poderia fazer um filme comum, como qualquer outro. Ok, provavelmente eu esteja sendo injusto. Porque, vei de boa, sério, de que outra forma eu poderia ter aprendido que ricos e brancos suburbanos são pessoas como todo mundo? A maior indignação desta lista é ver as pessoas comuns derrotarem Touro Indomável (Raging Bull). É até hoje, a maior cagada da história do Oscar.

1981 – Carruagens de Fogo (Chariots of Fire)

Se eu dissesse que um filme sobre um bando de babacas britânicos correndo pela tela em câmera lenta modorrentamente por duas horas foi a maior experiência cinematográfica do ano de 1981, você diria: “Chinaski, você é um idiota!“. Mas a Academia disse que era melhor do que Reds e que Os caçadores da Arca perdida. Então, quem é o idiota agora? A ACADEMIA!

1982 – Gandhi

Reza a lenda que Gandhi dormia ao lado de mulheres nuas para testar sua força de vontade. Bem, você pode tentar assistir a essa cinebiografia de três horas, e vai achar que não é tão torturante quanto, mas que chega perto. Ben Kingsley está incrível nesse filme, mas não precisava ignorar E.T. e Tootsie, precisava? Bastava dar a este filme o prêmio de melhor ator.

1985 – Entre Dois Amores (Out of Africa)

Todos nós sabemos que não há melhor atriz no planeta do que Meryl Streep. Mas mesmo ela não pode fingir qualquer química crível com Robert Redford neste filme dantesco. Ele teve muita sorte de competir contra a fraquíssima concorrência de O Beijo da Mulher Aranha e A Honra do Poderoso Prizzi. Foi como ganhar uma luta de almofadas. Mas de novo eu reitero: Bastava dar a ELA o prêmio. Que mania que essa Academia tem. E somente por essa razão ela não tem 17 Oscars na estante de casa: A Academia gosta de dar prêmios casados. Ter ganhado o prêmio de melhor diretor, melhor ator ou melhor atriz pode ajudar um filme ruim a ficar para a posteridade. Pelo menos nas listas de piores ganhadores de todos os tempos.

1987 – O Último Imperador (The Last Emperor)

O majestoso épico de Bernardo Bertolucci sobre a vida do guri que foi imperador da China ainda menino, Pu Yi, é visualmente intoxicante e inesperado. Mas o personagem principal é maçante (Pela mesma razão Buda fracassou). Mas vocês sabem quem não era maçante naquele ano? Todo mundo em Nos bastidores da notícia e O Feitiço da Lua, sendo que ambos perderam.

1990 – Dança com Lobos (Dance With Wolves)

É uma coisa boa Martin Scorsese ter finalmente ganho o prêmio de melhor filme com Os Infiltrados, em 2007. Mas caso contrário, o cara ia ter, além do Travis Bickle e do Touro Indomável pra se lembrar com todo carinho dos membros da Academia, Os Bons Companheiros. Porran, perder de novo, pra esse interminável sermão egomaniaco do Kevin Costner. Sério mesmo, depois de premiar O Último dos Moicanos, precisava ficar atrás de filme inspirador sobre os nativos americanos? Ainda mais sendo este? Sem falar que Os Bons Companheiros é um dos melhores filmes que já perderam o Oscar. Mesmo.

1994 – Forrest Gump

Sabe aquele cara que roubou sua namorada mas em seguida acabou por não ser um idiota completo afinal? Bem, é assim que eu me sinto com Forrest Gump. Não é um filme agressivamente ruim, ele apenas nunca vai superar o fato de que partiu o coração de todos que, como eu, preferiam Pulp Fiction.

1996 – O Paciente Inglês (The English Patient)

Este romance conseguiu colocar um feitiço nas pessoas que o viram. Eu não tenho idéia do porque. É tão sem vergonha ver esse filme safado querer ganhar o prêmio de melhor filme. E conseguir. Honestamente, qual filme você prefere assistir de novo: Isso ou Fargo, dos Irmãos Coen? Putz, até Transpotting poderia ser lembrado numa hora como essa.

1998 – Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love)

Premissa inteligente, assim como em Meia Noite em Paris, uma boa ideia, mas com uma grande campanha de Oscar. Tudo feito certinho pela Miramax, mas uma vez (Ao meu ver, os Irmãos Weinstein foram os grandes vilões e herois dos últimos 20 anos de Oscar). Mas fica a pergunta: Melhor que Resgate do Soldado Ryan? EU acho que não. Na moral, qual desses dois filmes que as pessoas vão estar falando daqui a 50 anos?

1999 – Beleza Americana (American Beauty)

Um bom filme, com certeza o melhor filme desta lista da vergonha. Quase que eu não o colocava aqui. Mas ia ficar uma pergunta martelando dentro da minha cabeça. Foi realmente melhor do que Quero Ser John Malkovich, O Informante, Matrix, O Sexto Sentido, Magnólia, Três Reis, Meninos Não Choram, Eleição, e O Clube da Luta? Eu duvido. Um filme presunçoso do também presunçoso Sam Mendes sobre o tédio suburbano do sonho americano ainda pertence ao Top 10 daquele ano, merecidamente. Mas é muita presunção querer dizer que este filme foi o melhor filme do melhor ano da década de 90.

2005 – Crash

Para um filme sobre a raça e os estereótipos, Crash é um tanto quanto simplista, e carregado com personagens que são eles próprios estereótipos. Ainda acho que o prêmio ia para O Segredo de Brokeback Mountain e os membros da Academia resolveram não serem óbvios, da mesma forma como Guerra ao Terror acabou ganhando de Avatar. Pura balela, Bastardos Inglórios deveria ter ganho dos dois.

2010 – O Discurso do Rei (The King’s Speech)

Se você acredita que a Academia errou feio esse ano premiando O Artista (E iam premiar o que? Hugo Caibret?) e veio parar aqui por isso, saiba que você está redondamente enganado: O Discurso do Rei, um filme de época, perfeitamente superior a qualquer filme de época premiado antes nas últimas cinco décadas, superou A Rede Social, um filme que nos mostrou como vivemos agora. E erraram mais uma vez.

Alguns podem não concordar com a minha lista. Outros vão concordar em tudo. Mas é por aí mesmo, Oscar sempre gera mais mimimi do que tudo.

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