Resenha – 1408

Cinema terça-feira, 23 de outubro de 2007

1408 (2007)

Quantos filmes já foram feitos em cima dos livros do Stephen King? Você não sabe o número exato, mas eu sei: foram feitos TROCENTOS filmes.

Isso mesmo. Existem mais filmes baseados em livro dele do que é possível contar com o sistema numérico decimal. E a maioria dos filmes é uma merda, como não é difícil adivinhar.

Porém, dessa vez fomos brindados com a alegria de um belíssimo roteiro adaptado de um conto de Stephen King.

O resumo da história não vai animar muito vocês: um escritor cético, que escreve livros sobre hotéis mal-assombrados, se depara com a oportunidade de ficar em um quarto de hotel misterioso, que o gerente do hotel não quer alugar para ele de jeito nenhum. Será o quarto verdadeiramente assombrado? Wooooo!

Completamente estúpido.

E foi esperando uma bosta de filme que eu me aventurei a assistir “1408”. Felizmente, a partir de uma premissa imbecil, o filme só melhora.

Uma grande sacada foi colocar John Cusack (Being John Malkovich, High Fidelity) no papel de escritor cínico; o cara é perfeito para o papel, pois ele sofre do mesmo mal que eu: ninguém acredita nele quando ele fala sério. Ele tem aquele olhar arrogante e superior, de quem vai tomar uma lição de humildade e vai ficar quebrado ao meio a partir do meio do filme.

Não vou contar a história do filme, lógico. Mas vocês precisam saber que “1408” NÃO é um filme de fantasma. Ele é uma fantasia bizarra, um thriller psicológico, um vislumbre lovecraftiano do melhor que Stephen King consegue escrever. Metade do filme se passa no quarto de hotel em questão, o que exige uma baita flexibilidade e criatividade, se vocês pararem pra pensar. E o filme é bom do começo ao fim; foge da maioria dos clichês usados para assustar o telespectador e mesmo assim consegue prender a atenção.

Sloth quer sair do quarto.

Não espere por sustos, mas sim por provocações psicológicas, situações fantásticas e momentos de insanidade. O filme também tem aquela rara habilidade de fazer você ficar sem saber no que acreditar: qual parte do filme é “real” e qual parte é só fantasia do personagem. Muito bem implementado aqui, e bastante divertido. As reviravoltas na trama não são completamente inesperadas, mas são inesperadas para um filme que facilmente poderia ser muito ruim. Isso foi um elogio.

O filme também é legal porque tem três partes distintas:

1) Um começo “normal”, rendendo homenagens a filmes como “Psicose” e armando o circo todo do que vai acontecer em seguida, quando o escritor recebe o “convite” para se hospedar no dito cujo quarto do demonho;

2) A chegada no hotel e a briga com o gerente para finalmente conseguir se hospedar no quarto 1408. Momento espetaculares de atuação entre John Cusack e Samuel L. Jackson, que faz o gerente. Esses dois deviam fazer mais filmes juntos;

3) A entrada no quarto 1408 e as piras que ocorrem até o fim do filme.

Sinta o gostinho da expectativa; preste atenção na ansiedade que você vai sentir quando o filme chega na parte 3. É raro que filmes consigam despertar sentimentos do tipo: “nem que minha casa pegue fogo eu paro de assistir esse filme agora”. Não é que o filme seja excepcional ou particularmente inteligente, mas ele conseguiu transportar para a tela a maior qualidade dos livros do Stephen King: estimular a curiosidade do leitor e prender a atenção com uma narrativa muito fluida e fácil de seguir.

Ah, mas que maravilha. Agora as paredes estão sangrando. Paredes não sangram, cara!

Finalizando: Diversão garantida pra quem gosta de filmes pouco lineares. Não é filme de susto. Não é filme de fantasma. E não é filme pra quem é débil mental. Se você quer se assustar sem precisar pensar muito, vá assistir “O Grito”.

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