O Mundo Surreal de Snyder

Cinema segunda-feira, 18 de abril de 2011

Já assistiu 300? E Watchmen? Não foi ainda ver Sucker Punch? Se suas respostas foram sim, sim e “Fui, caramba, não me incomoda mais”, parabéns, você ganhou um texto no Bacon Frito. Tá muito fácil atualmente criticar o diretor dos três filmes, Zack Snyder, e não falo isso pelas qualidades ou defeitos dele, mas por seu cinema ser: A) Fetichista B) Adaptações e uma idéia insana C) Unicamente puro, o roteiro é livre ou D) Todas as alternativas anteriores. Como eu gostei dos três filmes e quero infernizar vocês, digo, convencê-los do mesmo, vamos falar mais um tanto do assunto (e receber o cachê de convidado do Pizurk).

Por partes, ao estilo Jack: Primeiro que Snyder é um diretor de adaptações, na maior parte do tempo, e isso é inegável. Enquanto comentamos Sucker Punch, canetas assinam contratos para Superman: The Man of Steel (Título provisório que DEVE ficar), que ele dirigirá. Antes disso, seu salto em Hollywood foi com o maior festival de homens semi-nus se esfregando desde que a parada gay começou em Sâo Paulo. Ali, Snyder provou que poderia tranquilamente adaptar o visual de um quadrinho, desde que ele tivesse dois elementos principais: Ação e personagens fortes.

 Falta de Roteiro? Vá jogar God of War então!

Em todos os momentos que há Gerard Butler em cena como o Rei Leônidas, a câmera de Snyder é forte, os diálogos são fluídos e os traços puídos de Frank Miller (Em sua melhor fase como desenhista, na minha opinião) fazem um sentido danado em carne e osso. E aí acusam o diretor de ser um artista centrado na pancadaria. Mas cascalho, não é o que trata a HQ? Alguém já leu Cavaleiro das Trevas, do Miller? É a mesma coisa, um roteiro forte encaixado em trocentos quadros de Batman distribuindo porrada. A HQ foi parar na tela e de uma forma mais decente do que A Liga Extraordinária, um trabalho de Moore que realmente não recebeu o respeito devido. Aliás, deixem-me aproveitar para o próximo tópico.

Adaptar, para quem não conhece o sentido da palavra, não é transcrever. Você não irá ao cinema para ver quadro a quadro de um quadrinho ou o texto de um livro com a dublagem de algum ator. Você verá as idéias, o núcleo de uma obra, transformadas em outra, que pode aí sim ser boa ou ruim. Uma adaptação ruim é a Liga que falei antes, é Dragonball Evolution, atrocidades que mantém parte da estética, mas limam todo o resto do trabalho. Descaracterização de personagem é adaptação ruim. Perda do sentido do original é uma adaptação ruim. Orra, colocar Tom Sawyer, um herói AMERICANO, em um filme sobre heróis INGLESES é uma adaptação ruim! Sean Connery, sofra de caganeira neste instante, por favor?

Já Watchmen não é uma adaptação ruim. Ele só não é a HQ. Aí eu pergunto: Qual a diferença entre Senhor dos Anéis e suas liberdades criativas e Watchmen e suas liberdades criativas? O primeiro é ovacionado, a Trilogia vende pra caramba e já fazem uns seis anos que nada de novo é produzido (Ignorem O Hobbit até que apareça algo DE VERDADE do filme). E o segundo é um filme que se vende algum DVD ainda hoje é porque alguém acabou de achar em promoção. “Ah, MIMIMI, Moore é inadaptável, MIMIMI”. Enfie o choro no bolso e vá assistir Do Inferno, sim? Por mais que o inglês maluco (Que vive falando mal de adaptação, mas vendeu MILHÕES com Lost Girls, uma pornochanchada visual com heroínas da literatura) diga que não vale sua HQ, é uma boa adaptação. E tem V.

 Se fosse pra ser literal, eu seria um desenho animado então.

O caso é que Snyder não gravou TUDO que tinha na HQ. Nem perto disso, ele precisou selecionar o que colocar em tela. E mudou o final. Aquele único evento no final. Ok, isso mudou o sentido da coisa? Diminuiu o discurso do vilão? Fez a insanidade de Rorscharch menor? Por favor, né? E então vamos a Sucker Punch, o filme polêmico que fez nascer este texto. Eu gostei, e vou deixar claro que, se não é perfeito, não é pela lição de moral que tem nos minutos que fecham a película. Não, não achei tosco.

Sucker Punch é o primeiro videoclipe gigantesco que Snyder fez desde que alçou ao cargo de diretor de Hollywood. Foi dada a ele a liberdade criativa necessária para que ele pudesse colocar o que quisesse em um filme e ele resolveu colocar TUDO, simplesmente TUDO que tinha em mente desde 300. Estão lá as garotas em roupas que deixam homens loucos, o dicurso da falsa moralidade, os vários caminhos da mente, o mundo empírico e principalmente, a ação por ação. A grande crítica é que Sucker Punch não tem roteiro, e eu digo que se você me soltou essa, é porque acha que roteiro de verdade tem que colocar em diálogos tudo que pode ser traduzido em imagens.

 AWESOME demais pro seu gosto?

Vamos lá: Babydoll perde a mãe e o padastro tenta acabar com ela para ficar com a grana da família. Num acidente, ela é considerada maluquinha da silva e colocada em um sanatório para que sofra lobotomia e nunca mais possa acusar ninguém de nada. Como ela tem pouco tempo, ela planeja escapar, mas devido aos traumas recentes, ela cria um mundo imaginário onde pode se esconder e pelo qual veremos tudo que ela faz. Em nenhum momento do filme alguém aparecerá explicando o que ela fez de verdade. Nope, é preciso degustar as cenas no Cabaré e nas fantasias de Babydoll para compreender o que realmente aconteceu.

Isso não é não ter roteiro, isso é não degustar a trama para que o espectador absorva a papa na boquinha, como mamãe passarinho faz com os filhotes. Ok, em Onze Homens e um Segredo (E por consequência, os outros dois filmes da série. Brrrr…), é um efeito muito legal vermos o que se passou nas cochias, mas vamos lá! Nunca combinaria com Sucker Punch. Eu saí do cinema com várias idéias sobre tudo que não vi, e o mais divertido foi discutir isso com os outros que foram comigo. Qual o destino das outras garotas? Quais os motivos do vilão? O que terá acontecido com o padastro? Estou entregando pseudo-spoilers? Nenhuma dessas perguntas terá resposta. Pelo menos eu espero que o Snyder não se amedronte e comece a responder, porque aí sim eu criticarei o que ele faz. E sim, eu espero ansiosamente por Superman… Porque eu gosto de sofrer com adaptações de quadrinhos, beleza?

 Você prefere um monólogo de duas horas?

Texto de estreia desse quadro, feito pelo Black, do Sake Com Sal, que é o irmão mais velho [E otaku] do Bacon. Qualquer divergência, xingue-o nos comentários, ou vá lá no bl… Site dele.

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