Minha trajetória de leitor, que pode ser a sua

Livros quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Outro dia, eu tomei um pequeno esporro do todo poderoso filósofo-rei Pizurk que me fez refletir um pouco sobre a quantas anda minha vida “intelectual”. A resposta foi um grande “nada boa”, porque em um certo ponto do fim da minha adolescência (Até parece que ela acabou ainda) eu percebi que troquei os livros pelos seriados e internet, e claro, isso só poderia ter dado muito errado, como deu.

Lembro-me até hoje, quando no amanhecer da vida era bem moleque, os primeiros contatos que tive com livros que não eram didáticos. Assim como diversos jovens da década de noventa, acredito que a Série Vaga-lume me iniciou no mundo literário. Quem interessado em leitura nunca teve contato com os clássicos Mistério do Cinco Estrela, Um Cadáver Ouve Rádio, Escaravelho do Diabo, dentre outros? Se não me falha a memória, dos sete aos doze anos foi praticamente o que eu lia para me divertir.

Nota do editor: Eu nunca li nenhum livro da série.

Eu sei que você já leu.

O tempo foi passando e não dava pra continuar lendo aqueles pequenos romances de mistério com temáticas tão infantis. Foi quando a literatura de fantasia apareceu na minha vida, junto com os filmes do Senhor dos Anéis. A febre foi tão grande que eu, então com pouco mais de treze anos, li todos os três livros, mais O Hobbit, numa tacada só. Na verdade não me envolvi tão profundamente com o gênero, tirando SdA e afins li apenas a trilogia do Vale do Vento Gélido, relacionado com universo de Forgotten Realms.

Nota do editor 2: Forgotten Realms é um dos muitos cenários de fantasia do Dungeons & Dragons [O famigerado D&D].

Trilogia legalzinha pra caramba.

Neste meio tempo, comecei a ler romances de ficção mais sérios como Drácula, Vinte Mil Léguas Submarinas (Que na verdade acho que faltaram umas cinquenta páginas para acabar de ler, algo que corrigirei), Eu Robô, 1984, A Revolução dos Bichos (Que coincidiram com meu interesse por marxismo, já abandonado parcialmente), Admirável Mundo Novo, Eu Sou a Lenda, e vários outros. Nada de muito diferente, clichê do clichê.

Congruente com essa fase de ficção, passei a me interessar também por romances policiais e de mistério, destes toscos que a gente vê por ai, estilo Dan Brown mesmo. Não saberia citar nenhum de tão descartáveis que são.

Aos dezesseis, li talvez um dos livros que mais gostei e que inclusive começou a moldar meu gosto por cinema, que foi O Padrinho (O que eu li tava assim), de Mário Puzzo. Provavelmente foi uma das coisas mais intensas que vi na adolescência. Como pode um livro de simplicidade tão grande e que não é considerado uma grande obra da literatura universal tal como um Tosltoi (Que eu nunca li), por exemplo, mostrar a faceta humana de maneira tão crua expondo as ambiguidades do homem?

Porém, esta época marcou meu declínio em parte, pois foi em 2006 que comecei a me viciar em internet, o que seria a derrocada para meu gosto por literatura. Passei a ler livros completos com muito mais tempo de intervalo entre eles nos anos seguintes, devido à preferir ficar na net à abrir um calhamaço de papel. Por outro lado, foi também nesta época, devido ao fácil acesso garantido pela rede, que comecei a ler HQs de maneira compulsiva. Devorei a linha Vertigo, qualquer coisa do Frank Miller, Neil Gaiman e Alan Moore, Grant Morrison, Garth Ennis, dentre outros. Claro que não apenas isso, gostava e ainda gosto bem de um besteirol de super heróis também, mas falar que ler quadrinhos “sérios” é melhor pra imagem.

Foi o que não deixou meu gosto pela leitura acabar.

O final do ensino médio contribuiu um pouco para esfriar as coisas entre mim e os livros. Apesar de ter lido coisas sensacionais, acho que o adolescente brasileiro médio não tem tanta maturidade para ler Graciliano Ramos (Apesar de São Bernardo ser hoje um dos meus livros prediletos), Machado de Assis, Guimarães Rosa e poesia de qualquer tipo, principalmente quando obrigado. Li muitas coisas deste tipo e gostei, poesia modernista principalmente, algo que não abandonei mesmo nos anos mais negros, mas mesmo assim fui me afastando dos livros e buscando coisas mais fáceis como HQs (Que depois fui entender a complexidade), aqueles livros policiais que a gente não lembra depois e romances históricos do Bernard Cornwell.

Chegando num presente mais próximo, na faculdade eu comecei um movimento contra-processual do desenvolvimento da minha leitura. Ao invés de entrar na onda de intelectualidade, no meu primeiro ano não li mais que três livros, fora os que estudava. Coisa que eu resolvi corrigir no segundo, que foi quando eu retomei a literatura, porém de uma maneira bem menos intensa do que na minha adolescência. A grande diferença aqui foi o interesse por tudo aquilo que eu temia no ensino médio como literatura estrangeira, nacional, seja prosa ou poesia. Foi meu primeiro contato real com Kafka e Dostoievsky, além da redescoberta do Brasil.

Mas como a vida não é feita apenas de livros cabeçudos, foi também nesta época quando eu li meu primeiro Stephen King, o que me deixou altamente preocupando com juntar dinheiro para comprar todos os livros da saga da Torre Negra, já que só tenho o primeiro (Alguém quer me ajudar?).

O vício em seriados foi algo que acabou me tomando muito tempo, acho que por isso tenho lido tão pouco, mas como se diz, hoje sou um leitor pouco dedicado, mas que pelo menos leio. Pretendo melhorar muito ainda e estou caminhando neste sentido.

Mas enfim, onde quero chegar com tudo isso? Parar de ler literatura é altamente prejudicial à sua escrita e entendimento das coisas. Na parte da escrita, principalmente com relação à forma, tudo fica mais sisudo e direto (Além dos erros de português, pontuação, e afins); com a leitura a questão é um pouco pior. Acho que devido ao meu envolvimento com a sociologia acabei desenvolvendo um cinismo com o mundo, mas um cinismo diferente daquele que a gente adquire quando está começando a processar 1984 e entende de maneira totalmente diferente do que a aprendida com um texto teórico como o Estado pode agir na vida das pessoas. Acredito que a reflexão que a literatura nos leva a ter pode ser tão rica, ou mais ainda, do que a reflexão provocada pelos estudos formais na área das ciências humanas.

Enfim, jovens, que assim como eu amavam os Beatles e os Rolling Stones relaxaram com a leitura, ou aqueles que nunca começaram, nunca é tarde para tirar aquele velho e empoeirado livro da coleção Vaga-lume da estante para ir pegando o jeito de novo.

P.S.: Se alguém tiver lido isso, comente ai, qual livro você está lendo. Antes da greve das federais acabar pretendo terminar Jubiabá, do Jorge Amado.

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