Ficção científica e viagens no tempo

Cinema quinta-feira, 13 de junho de 2013

Me lembro de uma vez, há muito tempo, ter lido uma história da Turma da Mônica em que um dos personagens (O Cebolinha, se não me engano) dormia um dia e acordava 20 anos no futuro, só pra encontrar tudo completamente diferente e cair em desespero. Tudo por que ele tinha ouvido falar de um conto bem antigo de um certo sujeito que tinha passado pelo mesmo. Curioso isso. Na época em que li essa revista (E outras, já que eu tenho quase certeza que não é a primeira aventura da Turma da Mônica que envolve ver o futuro) fiquei fascinado com a idéia de mexer no tempo, ver o futuro ou o passado, de viajar nele de alguma maneira. Normal. Provavelmente foi como ficaram os leitores de Washington Irving em 1819, quando o escritor americano publicou um conto sobre um homem que dormia e acordava 20 anos no futuro, entitulado Rip Van Winkle. Não sei o que é mais interessante: O interesse de séculos que nós humanos temos pela viagem no tempo ou uma revista infantil fazer referências desse tipo. Mas enfim. Você também se interessa? Great Scott! Então, vem comigo.

É preciso dizer que a história de Rip Van Winkle e outras similares não representam exatamente o que nós conhecemos como viagem no tempo. As máquinas do tempo e carros futuristas dirigidos por cientistas malucos são invenção moderna. No conto, Van Winkle sobe até uma montanha, chamado por um homem esquisito e desconhecido, vestido com uma antiquada roupa holandesa (O próprio protagonista é descendente de holandeses, como outros na vila em que tudo se passa) e ao subir um morro vê um lugar parecido com um anfiteatro, onde um grupo de homens de barbas longas e bem vestidos jogam boliche. Lá, sem trocar uma única palavra com ninguém, Van Winkle discretamente bebe do licor dos homens que jogavam, cai no sono e acorda no futuro. Não há mecanismos, nem intenções, só acontece. Aliás, em histórias bem mais antigas as personagem iam para algum lugar fora do normal, como um palácio submarino no conto japonês Urashima Taro, ou o paraíso, como na mitologia hindu, ficavam lá por pouco tempo e ao voltarem para a Terra muito tempo tinha se passado, sempre fazendo com que a “viagem” fosse para o futuro.

Mais tarde, nos séculos XIX e XX, o tema começou a se relacionar com a tecnologia e apareceu a idéia de viagem pro passado também. A Máquina do Tempo, livro de H. G. Wells publicado em 1895 e com esse título óbvio contava a história de um homem que podia efetivamente viajar no tempo com a ajuda de uma máquina que permitia que o movimento fosse consciente e seletivo. Esse é o modelo do filme De Volta Pro Futuro, por exemplo, e que aparece em incontáveis HQs, filmes, séries, etc. Outras maneiras mais complicadas e científicas apareceram mais tarde, como chegar velocidade da luz, usar buracos negros, etc.

Bem, as maneiras de viajar no tempo nunca foram o mais difícil de entender e eu diria que pra ficção moderna isso é o mais fácil. A grande questão através dos tempos se tornou entender o que acontece quando se consegue tal façanha. O resultado foi uma série de teorias tentando explicar os possíveis resultados (Às vezes desastrosos) das viagens temporais e suas conseqüencias para as pessoas e a existência em si. Os exemplos nós podemos encontrar na cultura pop, alguns bem famosos:

Na trilogia De Volta Pro Futuro, o Dr. Brown descobre a peça que faltava para permitir a existência da máquina do tempo, o capacitador de fluxo. Junto com Marty McFly, eles praticamente destroem a linha do tempo e são obrigados a fazer de tudo pra trazer as coisas de volta pro normal. Dr. Brown nota rápido que mexer no que se passou pode causar mudanças terríveis, até mesmo anular alguém da existência (O que quase acontece com Marty). Nessa visão, o tempo pode ser completamente alterado e um gesto errado no passado pode condenar todo o futuro. É talvez uma das visões mais perigosas, que dá vazão pros famosos paradoxos temporais. O roteiro do filme é bom, mas peca em alguns momentos justamente por causa deles. Por exemplo, a cena mais famosa do primeiro filme, onde Marty toca Johnny B. Goode em 1955, Marvin Berry, que é da banda com quem Marty está tocando, liga pro primo, Chuck Berry e mostra pra ele a música enquanto Marty está no palco. Ou seja, Chuck Berry só fez a música por que ouviu o McFly tocando, fazendo um grande paradoxo, um loop no tempo.

 Pelo menos o Doc tem estilo.

Na nova franquia de Star Trek, como é de costume dele, J. J. Abrams parece preferir a idéia de que podem existir várias linhas temporais, e uma viagem para o passado criaria uma nova, que se desenvolveria normalmente, com acontecimentos diferentes. Desse jeito, quando os romulanos vão pro passado junto com Spock, eles criam uma nova linha em que aquilo tudo aconteceu. Nesse modelo, se alguém decidisse ir para o passado matar o próprio avô (Um dos mais famosos paradoxos), tudo que ia acontecer era um tempo diferente onde o avô não existiria e nem o assassino, mas ele próprio continuaria a viver, já que no seu universo de origem isso não aconteceu. Uma teoria parecida é a dos multiversos, comum nos quadrinhos, onde já existem previamente vários universos, seguindo várias seqüencias de acontecimentos diferentes. Em um universo, você é um ator famosos, em outro, um médico e em outro nunca sequer existiu por que seus pais nunca se casaram.

Finalmente, também há a probabilidade de que o universo em que vivemos seja o único e qualquer tentativa de mudar a ordem dos acontecimentos simplesmente falharia. É o que se vê em alguns episódios de Sobrenatural, por exemplo. Nesse modelo, alguma força desconhecida, talvez o próprio “destino” impede as mudanças. Aqui, se você fosse pro passado tentar matar seu avô, a arma falharia, alguém impediria, qualquer coisa, mas seria impossível mudar o que aconteceu. Uma outra idéia relacionada é a de que você nunca poderia mudar nada, já que sua própria viagem no tempo seria parte da história em si, prevista desde sempre pra acontecer. Nessas duas visões o conceito de destino é importante, de fatalismo, que tudo já está escrito.

Bem, a viagem no tempo habita a imaginação de todo fã verdadeiro de ficção científica. Se ela é possível de algum jeito ainda é um mistério na vida real. É impossível simplificar o assunto e o texto de hoje mostra só algumas faces de uma multidão de paradoxos e teorias. Qual é a verdade, ninguém sabe. E enquanto isso, o tempo passa, até agora sem ser desafiado.

Vida longa e próspera.

Leia mais em: , , ,

Antes de comentar, tenha em mente que...

...os comentários são de responsabilidade de seus autores, e o Bacon Frito não se responsabiliza por nenhum deles. Se fode ae.

confira

quem?

baconfrito