Watchmen e a revolução das HQs

Bíblia Nerd quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Watchmen. Uma das minhas HQs prediletas, a qual eu vivo propagandeando e elogiando nas minhas colunas, junto com mais meia dúzia de congêneres. Possui um roteiro bem-feito, sem pontas soltas, uma história agradável e, em sua maior parte, crível e bem construída (Com a exceção do clímax. A adaptação para as telonas teve um final melhor, em minha nada modesta opinião). A arte é agradavelmente detalhada e bem feita.

Mas, não foi a arte, sozinha, que consagrou Watchmen como uma das melhores HQs do mundo, como um farol ao qual todas as histórias deveriam usar como guia. O que transformou Watchmen num fenômeno de crítica foi a visão realista dos personagens.

O Coruja é um nerd gordo, covarde, com pouca “atitude”. Rorschach é um maníaco psicopata que não toma banho ou permite intimidades maiores que uma “relação de trabalho” doentia. Dr. Manhattan é a versão azul, pelada e autista de Nikola Tesla. Espectral, uma garota que não sabe o que quer da vida, dominada pela vontade de satisfazer os desejos da mãe. Comediante? Um psicótico pior que Rorschach, mas preferiu o caminho dos bon vivants às sarjetas sangrentas. Ozymandias é outro excêntrico (Lembrem-se, ricos não são malucos) que quer ferrar com tudo. E eu só falei da segunda (E última) geração de vigilantes.

Foi justamente essa localização dos personagens num plano mais realista de personalidade que levou Watchmen ao ápice das HQs. As pessoas gostaram de se identificar, ao menos parcialmente, com os personagens. A esmagadora maioria dos heróis de HQs à época se encaixava naquele irritante e clássico perfil: O cara cheio de ideais, leal à sua moral e ética próprias, detentor de um caráter puro, bom e sincero o suficiente para fazer Freud vomitar de nojo. Em Watchmen, abundam as falhas de caráter, amoralidade e imoralidade, crimes (E tentativas de crimes) impunes, sangue, enfim, tudo que o pessoal gosta.

Mas, Watchmen realmente causou toda essa revolução?

Quando a “opus magnum” de Alan Moore começou seu caminho rumo à fama, sucesso e nerds maníacos, a Marvel já tinha quase 50 aninhos de idade. Quem conhece a Casa das Idéias, sabe que ela, ao contrário da DC, tem o costume de prezar mais o personagem sob a máscara do que o herói em si. O que interessa em X-Men não é Ciclope, Psylocke e Wolverine quebrando tudo na porrada, mas os conflitos pessoais de Scott Summers, Elizabeth Braddock e James Howlett/Logan. O foco das histórias do Homem-Aranha não é o Aranha em si, mas os problemas da vida de Peter Parker.

E, quem é o foco de Watchmen? Os heróis, com suas parafernálias, habilidades de luta, idealismos (Mesmo que distorcidos em alguns casos)? Não. Apesar de, assim como em boa parte das outras HQ, a parte de “vamos impedir o vilão e salvar o mundo” estar presente, o foco é nos personagens sob a máscara. Qual a revolução nisso? Qual a grande virada em fazer algo que já era feito há quase meio século? Nenhuma.

Watchmen inovou, sim, mas não ao focar no indivíduo ao invés do herói, ou mostrar heróis verdadeiramente humanos, sem poder algum. A grande mudança foi… foi… foi o quê, mesmo?

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