Injustiças do Oscar – parte 2

Clássico é Clássico segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Como eu havia prometido darei continuidade ao assunto da coluna passada, e falarei sobre as principais injustiças cometidas na principal categoria do Oscar. Procurando evitar que a coluna se estenda muito, escolhi as cinco premiações que considero mais marcantes, e ainda assim, apenas se o filme injustiçado tiver sido indicado à “Melhor Filme”. Explicando dessa forma a ausência de obras como 2001: Uma Odisséia no Espaço.
Outro ponto importante a ser esclarecido é que estou levando em conta a superioridade do real merecedor sobre o atual vencedor. Então por mais que eu considere Crepúsculo dos Deuses uma obra prima, o vencedor daquele ano, A Malvada, também se trata de um ótimo filme.
Mesmo com todas esses atenuantes elaborar esta lista foi um trabalho árduo. Deixar clássicos como Dr.Fantástico, Apocalipse Now e Rede de Intrigas de fora, quase me fizeram transformar isso em um Top20.
Mas vamos ao que interessa.

1972 – Quando a bilheteria supera a genialidade

 Operação França x Laranja Mecânica

Eu entendo o porquê de Operação França ter levado o Oscar. O filme além de contar com Gene Hackman e Roy Sheider no elenco e ter algumas das cenas de perseguição mais memoráveis da história, foi um gigantesco sucesso de bilheteria.
Ainda sim, a história da dupla de policiais não faz frente ao clássico de Kubrick, mais pela qualidade do segundo do que por deméritos do primeiro. Afinal estamos falando de Laranja Mecânica, um filme cultuado até hoje tanto pela sua crítica ao Estado quanto pela chocante abordagem da sociedade. Um trabalho tão intenso que muitos tangas membros da academia ameaçaram não comparecer à premiação, caso todas suas indicações não fossem anuladas. Era, além de tudo, a melhor chance de premiar o diretor.

1953 – Palhaçada

 O Maior Espetáculo da Terra x Matar ou Morrer

Apesar do nome empolgante, o filme circense é chato, arrastado e tem um roteiro construído em cima de milhares de clichês. Difícil acreditar que um filme como este figurou na lista de indicações, deixando de fora clássicos como Viva Zapata! e Cantando na Chuva, e para piorar – ainda levou o Oscar das mãos do superior Matar ou Morrer, o “faroeste freudiano” (que embora não muito querido pelos fãs do gênero, por fugir de algumas características, é de inegável qualidade) de Fred Zinneman.
Por casos como esse que o western ficou quase 60 anos sem levar o prêmio da categoria principal, depois de Cimarron em 1932, o gênero só voltou a receber a premiação máxima em 1990 e 92 com Dança com Lobos e Os Imperdoáveis.

1945 – Hollywood ama a mediocridade

 O bom pastor x Pacto de Sangue

Esse assunto causa indignação entre os cinéfilos até hoje. O Bom Pastor é um musical medíocre e inexpressivo, e que se não fosse pela voz do cantor e ator Bing Crosby passaria batido. A discórdia se dá por sua vitória sobre um dos primeiros e melhores filmes do gênero noir, assinado por um dos maiores gênios do cinema: Billy Wilder. Neste clássico ainda somos apresentados a uma das mais marcantes “femme fatalles” que já passaram por Hollywood, na pele de Barbara Stanwyck.

1981 – Nocaute

 Gente como a Gente x Touro Indomável

Eu particularmente gosto de Gente como a Gente, um dramalhão familiar que conta com uma atuação primorosa de Mary Tyler Moore – que não levou o Oscar, e direção do astro Robert Redford. Porém a vitória deste sobre a obra prima de Scorsese foi um soco no estômago de todos que acompanhavam a cerimônia, se equiparando a vitória do drama Kramer x Kramer sobre Apocalipse Now no ano anterior. Para entender a gravidade da premiação, basta dizer que Touro Indomável é considerado por muitos cinéfilos como o melhor filme da década. A produção ainda foi responsável por salvar a vida do diretor que estava se afundando nas drogas, e premiar Robert DeNiro, que não só treinou boxe durante um ano para viver Jake La Motta, como posteriormente engordou 25 quilos para interpretar a fase decadente do pugilista.

1942 – Politicagem

 Como era Verde meu Vale x Cidadão Kane

Nada contra o apenas bom filme de John Ford, outros bem piores já levaram o prêmio. Mas sua vitória sobre o considerado melhor filme da história, foi um dos maiores espetáculos de hipocrisia já encenados pela academia. Não se tratou de uma empolgação com o filme de Ford, ou a não visualização da genialidade presente no filme de Welles. Todos já estavam cientes da grande obra e da revolução técnica trazida por Cidadão Kane. O motivo de ter levado apenas o Oscar de roteiro original tem fundamentos políticos, pois se trata de um filme que faz uma crítica fortíssima a imprensa – que revidou. Principalmente no que se diz por William Randolph Hearst (dizem que foi a inspiração para o personagem Kane) que não só fez uma campanha criticando o filme, como também pressionou os cinemas contra sua exibição.

Bônus: 1982 – Depois de tudo, isso é o que se espera da academia – nada

 Carruagens de Fogo x Indiana Jones:Os Caçadores da Arca Perdida; Reds; Atlantic City; Num Lago Dourado

Não poderia encerrar esta lista sem falar de 1982. Apesar de não ter sido uma premiação tão marcante quanto as outras, foi sem dúvida uma das mais inexplicáveis: quatro diferentes filmes, variando entre o bom e o excelente, sendo derrotados por uma das mais medíocres produções que já concorreram ao prêmio.
Carruagens de Fogo é um filme chato e que se utiliza de todos os clichês de fé e superação esportiva já criados. Se não fosse pela premiada música de Vangelis utilizada em todas as cerimônias esportivas desde então, o filme já teria caído no esquecimento. Ainda sim nada que ajude a responder como este venceu do favorito Reds (que levou o Oscar de melhor diretor), do empolgante Indiana Jones, do último grande filme de Katherine Hepburn e Henry Fonda, Num Lago Dourado, ou até mesmo do bom drama policial Atlantic City.
Concordo que zebras ajudem a deixar uma premiação mais interessante, ainda mais em uma categoria subjetiva como “melhor filme”, mas o mínimo que se pode esperar é que os azarões façam jus ao prêmio.

Desta forma encerro esse pequeno especial sobre o Oscar. Espero dar continuidade no ano que vem fazendo justiça aos milhares de casos não falados. Como comentaram na semana passada – poderia haver uma coluna falando apenas sobre esses “deslizes” da premiação.
Mas os clássicos não precisam ser imortalizados por nenhuma espécie de prêmio. Eles já estão eternizados na mente de todos que tiveram oportunidade ou ainda terão, de assisti-los.

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